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Fev 16
publicado por Nuno Gouveia, às 22:21link do post | comentar

Nunca na história moderna do sistema político americano - desde 1976, quando o sistema de primárias como hoje vigora foi instituído - nenhum republicano foi nomeado sem vencer uma das três primeiras eleições. Depois da vitória de Ted Cruz no Iowa e Donald Trump no New Hampshire, a menos de uma semana das eleições na Carolina do Sul, todas as sondagens dão uma confortável vantagem a Trump. Se isto fosse um ano normal, não tenho dúvidas que o candidato Trump estaria com a nomeação praticamente ganha se vencesse, como é esperado, na Carolina do Sul. Mas isto não é um ano normal nem Trump é um candidato convencional. As elites republicanas estão em choque com a possibilidade de entregar a liderança do seu partido ao multimilionário e, igualmente assustados, que Ted Cruz esteja em segundo lugar nestas primárias. Considerados inelegíveis por muitos, a nomeação de Trump (e em menor grau, de Cruz), significaria um duro revés para a credibilidade de um partido que nos últimos anos tem-se afastado para a direita (tal como o Partido Democrata para a esquerda, como se vê pela popularidade de Bernie Sanders). Nomear Trump seria entregar o partido a um oportunista xenófobo e populista, que em muitos discursos faz lembrar a extrema-direita clássica europeia. Nomear Cruz, que é detestado pelos seus colegas no Senado, poderia significar ter o candidato mais à direita desde 1964, quando Barry Goldwater foi arrasado nas urnas por Lyndon Johnson. 

 

Se olharmos para os resultados do New Hampshire, as votações conjuntas de Bush, Rubio, Kasich e Christie, a soma ultrapassaria Trump. Nas sondagens da Carolina do Sul, estariam mais ou menos empatados e nas nacionais o mesmo. O que isto quer dizer? Se quiserem derrotar Donald Trump, os republicanos vão ter de se unirem rapidamente em redor de um destes candidatos. Não quer isso dizer que haverá uma transferência imediata das intenções de voto para este candidato, mas essa é a melhor hipótese de travar Trump. O problema para o GOP é que até ao momento, nenhum destes três tem razões para abandonar a corrida, pois têm a legítima esperança de ser o último dos três. Rubio tem a melhor campanha, mais apoios e a legítima expectativa de ser o opositor de Trump. Kasich, depois do segundo lugar no New Hampshire, não pode desistir. E Bush, bem, depois de já ter gasto mais de 100 milhões de dólares nesta campanha, vai continuar enquanto houver uma esperança de derrotar os seus adversários directos. Se os resultados do próximo sábado forem próximos entre estes três, e nenhum desistir, então a super terça-feira arrisca-se a ser um passeio para Trump, e aí sim, poderá tornar-se imparável. A dinâmica das campanhas presidenciais americanas diz-nos que depois de obter tantas vitórias seguidas, é quase impossível parar esse candidato. E não sei se Trump emergir na super terça-feira como grande vencedor, o conseguirão parar, mesmo que a campanha a partir daí fique reduzida a três ou até a dois candidatos, caso Ted Cruz também abandone a corrida.

 

Trump não é imparável, e não será uma vitória no próximo sábado que irá mudar esse cenário. Mas só uma corrida a dois ou a três, poderá neste momento parar o nova-iorquino. E quanto mais rápido isso suceder, maiores as possibilidades de derrotar Trump.


E se conseguir ganhar, mas não tiver delegados suficientes para ser nomeado?
Luis Caldas a 17 de Fevereiro de 2016 às 00:17

Eu tenho a ideia que os atuais estatutos dos Republicanos tornam quase impossível uma situação António Costa:

Creio que candidatos que não ganhem 8 estados não se podem apresentar à convenção, e que na primeira votação os delegados eleitos por esses candidatos nem podem votar (pelo que se só dois candidatos estarem em condições de serem votados, o com mais delegados ganha de certeza).

[Um artigo explicando isso um pouco melhor - http://www.theamericanconservative.com/articles/will-republicans-allow-a-convention-fight/]

De qualquer maneira, grande parte das primárias Republicanas são winner-take-it-all, e mesmo algumas das que são "proporcionais" seriam mais corretamente descritas como maioritárias com prémio de consolação (estilo círculos de 3 delegados em que o vencedor elege 2, e o 2º elege 1), o que dificulta não haver uma maioria no fim

As eleições WTA acentuam-se depois da super terça-feira, mas também me parece que seja muito dificil que cheguemos até ao fim do processo das primárias e um candidato não tenha a maioria dos delegados. Mas não é de todo impossível, e depois se a primeira votação não houver nomeado, qualquer hipótese será real...
Nuno Gouveia a 18 de Fevereiro de 2016 às 00:03

O sonho de muitos: uma brokered convention :)
Nuno Gouveia a 18 de Fevereiro de 2016 às 00:01

Acho que já há quem esteja se acostumando com um futuro presidente Trump. Acho até que sua inelegibilidade é menor que a de Cruz.
Emerson a 17 de Fevereiro de 2016 às 00:41

Bem sei que o Americano é geralmente inculto, mas se Trump for o nomeado acho que o GOP bate no fundo.
Trump é um mal educado não respeita ninguém. Se os acéfalos, que pelos vistos são muitos infelizmente, escolherem Trump então o GOP merece ser enxovalhado pelos democratas.

André a 17 de Fevereiro de 2016 às 23:34

Creio que quem decide as eleições nos EUA são os estados industriais do Midwest, alguns estados do Sul e, já agora, o New Hampshire; pelo que se sabe tanto de resultados como de sondagens, Trump parece especialmente forte nesses sitios (já Cruz parece ser um candidato que terá a maior parte dos seus apoios nos sitios onde o Partido Republicano ganha de qualquer maneira; e se calhar os candidatos do establishment terão os seus apoios nos sitios onde o Partido Democrata ganha de certeza).
Miguel Madeira a 18 de Fevereiro de 2016 às 00:54

Há tempos li um artigo que acho até pode ser util de reler no contexto destas eleições:

https://www.washingtonpost.com/news/monkey-cage/wp/2014/01/22/the-real-extremists-are-american-voters-not-politicians/

"Using a survey designed to measure support for extreme policies, I find that the characterization of the public as largely centrist rests on shaky ground. On many issues, much of the public appears to support more extreme policies than legislators do. (...)."

"Why might we have missed much extremism in the public generally and among the less engaged? (...) it might be best explained by pretending you have a crazy uncle."

"Suppose your uncle believes that the United States should nationalize the health-care system (a very liberal view) and that gay people should be jailed (a very conservative view). And suppose your uncle is represented in Congress by a moderate Republican who supports civil unions (but opposes gay marriage) and who supports helping the poor purchase health insurance (but opposes Obamacare), two positions just right of center."

"(...) if we try to compare your uncle’s views to his congressperson’s positions in abstract, ideological terms, as academics and journalists often do, some plain facts about your uncle and his legislator both become obscured. Since your uncle supports some liberal policies and some conservative policies, we’d call him a “moderate on average.” However, his congressperson’s conservative votes on both Obamacare and gay marriage mean we might call the legislator conservative. We thus might condemn your uncle’s congressperson for being a conservative extremist while celebrating your uncle’s moderation. However, it’s quite clear that your uncle’s views tend to be further outside the mainstream, just not consistently in one direction."
Miguel Madeira a 18 de Fevereiro de 2016 às 01:05

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