Nunca na história moderna do sistema político americano - desde 1976, quando o sistema de primárias como hoje vigora foi instituído - nenhum republicano foi nomeado sem vencer uma das três primeiras eleições. Depois da vitória de Ted Cruz no Iowa e Donald Trump no New Hampshire, a menos de uma semana das eleições na Carolina do Sul, todas as sondagens dão uma confortável vantagem a Trump. Se isto fosse um ano normal, não tenho dúvidas que o candidato Trump estaria com a nomeação praticamente ganha se vencesse, como é esperado, na Carolina do Sul. Mas isto não é um ano normal nem Trump é um candidato convencional. As elites republicanas estão em choque com a possibilidade de entregar a liderança do seu partido ao multimilionário e, igualmente assustados, que Ted Cruz esteja em segundo lugar nestas primárias. Considerados inelegíveis por muitos, a nomeação de Trump (e em menor grau, de Cruz), significaria um duro revés para a credibilidade de um partido que nos últimos anos tem-se afastado para a direita (tal como o Partido Democrata para a esquerda, como se vê pela popularidade de Bernie Sanders). Nomear Trump seria entregar o partido a um oportunista xenófobo e populista, que em muitos discursos faz lembrar a extrema-direita clássica europeia. Nomear Cruz, que é detestado pelos seus colegas no Senado, poderia significar ter o candidato mais à direita desde 1964, quando Barry Goldwater foi arrasado nas urnas por Lyndon Johnson.
Se olharmos para os resultados do New Hampshire, as votações conjuntas de Bush, Rubio, Kasich e Christie, a soma ultrapassaria Trump. Nas sondagens da Carolina do Sul, estariam mais ou menos empatados e nas nacionais o mesmo. O que isto quer dizer? Se quiserem derrotar Donald Trump, os republicanos vão ter de se unirem rapidamente em redor de um destes candidatos. Não quer isso dizer que haverá uma transferência imediata das intenções de voto para este candidato, mas essa é a melhor hipótese de travar Trump. O problema para o GOP é que até ao momento, nenhum destes três tem razões para abandonar a corrida, pois têm a legítima esperança de ser o último dos três. Rubio tem a melhor campanha, mais apoios e a legítima expectativa de ser o opositor de Trump. Kasich, depois do segundo lugar no New Hampshire, não pode desistir. E Bush, bem, depois de já ter gasto mais de 100 milhões de dólares nesta campanha, vai continuar enquanto houver uma esperança de derrotar os seus adversários directos. Se os resultados do próximo sábado forem próximos entre estes três, e nenhum desistir, então a super terça-feira arrisca-se a ser um passeio para Trump, e aí sim, poderá tornar-se imparável. A dinâmica das campanhas presidenciais americanas diz-nos que depois de obter tantas vitórias seguidas, é quase impossível parar esse candidato. E não sei se Trump emergir na super terça-feira como grande vencedor, o conseguirão parar, mesmo que a campanha a partir daí fique reduzida a três ou até a dois candidatos, caso Ted Cruz também abandone a corrida.
Trump não é imparável, e não será uma vitória no próximo sábado que irá mudar esse cenário. Mas só uma corrida a dois ou a três, poderá neste momento parar o nova-iorquino. E quanto mais rápido isso suceder, maiores as possibilidades de derrotar Trump.