Em Abril escrevi um post sobre o tea party, defendendo que poderia constituir uma vantagem considerável para o Partido Republicano conquistar uma maioria política no Congresso. Mas também alertei que o GOP não pode desviar-se demasiado para direita devido ao tea party, sob pena de perder competitividade eleitoral em alguns estados. E neste momento existem alguns sinais preocupantes para o GOP, que podem colocar em causa uma vitória esmagadora em Novembro. Apenas vou referir as eleições para o Senado, mas também existem evidências dos mesmos problemas nas eleições para a Câmara dos Representantes.
Destaque óbvio para a vitória de Rand Paul no Kentucky. Em principio o lugar deverá manter-se na coluna republicana, apesar de Paul. Este é um estado fortemente republicano, e muito dificilmente um democrata ganhará esta eleição. Mas o candidato democrata Jack Conway é o Procurador-geral do Kentucky e é uma figura conhecida a nível estadual. A primeira sondagem depois das primárias dava 25 por cento de vantagem a Paul, mas depois da “trapalhada” em que Paul se envolveu tudo poderá ter mudado. Ao contribuir decisivamente para a derrota de Trey Grayson, um republicano que facilmente seria eleito em Novembro, o tea party demonstrou que pode ser nocivo em alguns estados. Não sei se será o caso do Kentucky, mas há mais estados onde isso pode acontecer.
A começar pelo estado do Nevada, onde o actual líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, enfrenta sérias dificuldades. A favorita republicana até há bem pouco tempo era Sue Lowden, que tem liderado consistentemente as sondagens à frente de Reid. Mas o tea party express declarou o seu apoio a uma obscura candidata, Sharron Angle, e esta tem vindo a subir nas sondagens. Já considerada uma versão feminina de Rand Paul, com ideias bastante afastadas da middle America, uma vitória desta nas primárias de oito de Junho poderá significar uma caminhada triunfal para Reid. E se no Kentucky, qualquer candidato com o label republicano se arrisca a vencer, no swing state do Nevada a situação é bem diferente. E o mesmo se passa no Colorado, onde a favorita republicana, Jane Norton, tem sido ameaçada pelo candidato apoiado pelo tea party, Ken Buck. Aqui também será bem mais difícil derrotar o actual incumbente Michael Bennet com o candidato apoiado pelo tea party.
Outro estado onde o tea party pode ameaçar o sucesso eleitoral do GOP: Washington. Dino Rossi, um popular republicano que deverá avançar esta semana para corrida ao Senado, é considerado demasiado moderado pelo tea party. Sarah Palin, evidenciando uma postura errática e desligada da realidade eleitoral, apoiou na semana passada o antigo jogador de futebol americano, Clint Didier, levando com isso uma catadupa de apoios do tea party para este candidato. Todas as sondagens indicam que o único republicano que tem hipóteses de derrotar o actual senador Patt Murray é precisamente Dino Rossi. Se por acaso conseguirem derrotar Rossi nas primárias, este estado passará novamente para a coluna “segura” dos democratas.
Até ao momento, o tea party já obteve vitórias e derrotas, sendo que o saldo até é negativo. Foram derrotados nas primárias do Illinois, Indiana e Connecticut e exceptuando o Nevada e Colorado, até será difícil que consigam obter mais alguma vitória relevante. Mas num ano muito competitivo como este, os republicanos deviam diversificar a sua “tenda” e apresentar os melhores candidatos perante as diferentes realidades que enfrentam. Durante muitos anos os republicanos escolheram os seus candidatos de forma pragmática, a única forma que os pode levar à conquista de maiorias eleitorais para governar o país. O que este ciclo eleitoral tem demonstrado é que existe uma desenfreada luta pelo “purismo” ideológico nos seus candidatos. E isso pode ser desastroso para o Partido Republicano, conforme observamos na prestação de Rand Paul na semana passada.