A Super Terça Feira de 1 de Março, se bem que não contrariando as expectativas gerais face às
sondagens, acabou por ser melhor para Hillary Clinton que para Donald Trump.
Efectivamente, a favorita à nomeação democrática, tendo embora perdido para o seu concorrente Bernie Sanders quatro estados (Vermont, Oklahoma, Colorado e Minnesota) dominou completamente - e arrazadoramente - nos estados do Sul e conseguiu até uma vitória tangencial no Massachusetts, terreno favorável ao seu rival.
Já no campo republicano, Trump venceu, de facto, sete dos onze estados em competição, mas antes da votação havia quem previsse, sem ser preciso grande arrojo, que poderia vencer nove, ou até dez estados. Ted Cruz acabou por ganhar confortavelmente o seu estado do Texas (44% v 27%), quando nos úlimos dias havia sondagens que davam os dois candidatos praticamente empatados. Além disso, Cruz venceu também o vizinho estado de Oklahoma e o Alasca. A vitória no Oklahoma tem um significado especial: tratava-se do único estado em que apenas republicanos podiam votar na primária do partido, e Cruz venceu com 34% contra 28% de Trump e 26% de um revitalizado Rubio. Este último conseguiu finalmente uma vitória, ao vencer o Minnesota (37% contra 29% de Cruz e 21% de Trump). O resultado do Minnesota mostra a potencial fraqueza de Trump no Midwest, como já anteriormente demonstrado nos caucuses do Iowa. Além disso, na Virgínia, onde as sondagens davam uma vantagem de 14 pontos a Trump, a sua vitória - sobre Rubio - acabou por ser apenas por uns apertados 3 pontos. A isto acresce a luta renhida que John Kasich opôs a Trump no Vermont, perdendo apenas por 2,3% dos votos.
O mais importante continua a ser, contudo, a acumulação de delegados às convenções nacionais por parte dos candidatos dos dois partidos, e foi aí que esta noite eleitoral não foi um retumbante sucesso para Donald Trump. Estavam em disputa 595 delegados do lado republicano, e Trump terá conseguido uns 245, o cenário mais pessimista, do seu ponto de vista, nas previsões pré-eleitorais. Além disso, a soma dos delegados conseguidos por Cruz, Rubio e Kasich - uns 320 - foi superior à de Trump. E, no cômputo geral de delegados até agora conquistados, Trump lidera, claro, mas com apenas 316 dos 1.237 delegados necessários a garantir a vitória. A partir de 15 de Março a maioria dos estados atribui a totalidade dos seus delegados ao vencedor da respectiva primária, o que poderá possibilitar a Trump um aumento da sua margem. A possibilidade de uma "brokered convention", uma convenção onde nenhum candidato chega com a maioria dos delegados, não é ainda de excluir totalmente, portanto, embora o favoritismo de Trump não tenha propriamente sofrido um sério abalo. Até porque, mantendo-se as candidaturas de Cruz e Rubio ambas em jogo, a unificação do bloco não-Trump continua adiada. Mas mais uma vez se viram os limites do apelo de Trump: a média da sua votação na noite de ontem foi de 36%, números bem aquém do normal para um líder das primárias nesta altura da campanha.
Já no lado democrático, a aritmética está a favorecer Clinton claramente: dos 2.382 delegados necessários a uma maioria, a antiga Secretária de Estado já angariou 1.000, contra apenas 371 de Sanders. Este continuará decerto na corrida, enquanto tiver fundos - e tem bastantes - e a sua rival não tiver conseguido a maioria dos delegados. E pode até fazer ainda alguns brilharetes. No final, tentará que algumas das suas propostas façam parte da plataforma democrática para a eleição geral, o que normalmente é pouco mais que simbólico.