The Audacity to Win, Viking Adult (November 3, 2009)
As campanhas presidenciais americanas são momentos únicos, vividos pelos protagonistas com grande intensidade. Os profissionais de marketing politico, também apelidados de Spin Doctors, rapidamente se transformam em estrelas mediáticas, como James Carville, Karl Rove ou Joe Trippi. O apogeu da carreira destes consultores é vencer uma eleição presidencial. Depois disso, podem viver o resto da vida à sombra desse sucesso. Alguns decidem manter-se no activo, mas boa parte deles retira-se da “acção”. Muitos tornam-se comentadores e escrevem best sellers.
David Plouffe não se retirou do activo e ainda há duas semanas foi notícia que tinha regressado para colaborar com a Casa Branca. Mas neste último ano, e como se percebe pela leitura do seu livro, preferiu fazer uma pausa para estar com a família. E lançou um livro sobre a corrida presidencial que colocou Barack Obama na Presidência. Um dos aspectos mais fascinantes da vida destes profissionais da política é o verdadeiro ritmo alucinado em que vivem a sua actividade. E também o empenho, paixão política e pessoal que evidenciam pelo seu trabalho. Dos livros que já li do género, sinto que sem “paixão política”, dificilmente poderiam ser tão eficazes e comprometidos com os resultados. Não está apenas em questão derrotar o adversário: há uma crença real que o que estão a fazer é mesmo importante para o país. E foi isso precisamente que senti neste livro. Plouffe é um true believer de Obama, e mais do que colocar o seu “chefe” na Casa Branca, o seu desejo era mesmo fazer o correcto para os EUA.
Este é um livro que acompanha o período de Novembro de 2006, logo após as intercalares, até à vitória final de Barack Obama. Para quem acompanhou esta campanha e escreveu muito sobre ela, como eu, o mais interessante é verificar que muitas das análises que realizei estavam certas. Mas também que me enganei redondamente noutras. Esta foi uma campanha quase isenta de erros graves, e que decorreu sempre de acordo com o estabelecido pelo inner circle. E há um aspecto esclarecedor que se retira das palavras de Plouffe: a estratégia da campanha de Hillary Clinton terá sido mesmo uma das mais incompetentes de toda a história da politica americana, sendo constante o “gozo” q pela campanha dirigida por Mark Penn. Sobre a campanha de McCain, também há algumas criticas, mas estas são sempre menores, até porque Plouffe sabia que o maior adversário para Obama já tinha sido derrotado nas primárias.
Destaque óbvio para o papel das novas tecnologias, que Plouffe refere várias vezes. Sem a sua utilização inteligente, não teria sido possível colocar Barack Obama na Casa Branca. Uma estratégia revolucionária, mas também lúcida, que já é objecto de estudo por todos os académicos desta área. A harmonia que existiu na campanha Obama, algo nem sempre fácil em situações do género, é também uma das imagens de marca relatadas. Até como se viu na entourage de McCain, que várias vezes foi apanhada em contradições e disputas internas. Nada disso se passou na campanha de Obama.
Obviamente que este livro não conta tudo, nem refere algumas dirty tricks que utilizaram, mas isso também não seria de esperar. Percebe-se na essência os bastidores da mais surpreendente e uma das mais bem sucedidas campanhas presidenciais americanas. Aconselho a sua leitura.