28
Dez 12
publicado por Nuno Gouveia, às 00:47link do post | comentar

Norman Schwarzkopf, Comandante das Forças Aliadas na Guerra do Golfo de 1991, morreu hoje com 78 anos. Com uma carreira militar brilhante, esteve estacionado em Berlim no inicio da década de 60, quando as forças soviéticas pressionavam mais do que nunca a cidade livre da Alemanha Ocidental e mais tarde combateu no Vietname. Depois de várias passagens na Alemanha Ocidental e na América Latina, culminou a sua carreira à frente das forças aliadas que expulsaram os iraquianos no Koweit. Retirou-se após esse conflito e o seu nome foi várias vezes associado a uma candidatura política. Republicano, apoiou o Presidente George W. Bush e John McCain em 2008, mas antes tinha-se tornado um crítico da condução da guerra do Iraque, e, sobretudo, de Donald Rumsfeld. Foi sobretudo um militar da guerra fria, à moda antiga. Hoje a América presta-lhe homenagem pelo serviço que prestou ao país. 


26
Nov 12
publicado por Nuno Gouveia, às 23:15link do post | comentar | ver comentários (1)

Ao mesmo tempo que mediava o frágil acordo de paz entre Israel e o Hamas, e recebia, por isso, elogios de Hillary Clinton, o Presidente Morsi do Egipto decretava o aumento de poderes para ele próprio, dando mais uma machadada na sua credibilidade de democrata. Mas até quando poderá Obama ficar em silêncio, isto se o Egipto continuar a afastar-se da democracia e a ameaça da teocracia continuar a aumentarl? A ajuda financeira permanece idêntica à era de Mubarak (o Egipto é um dos países que recebe mais ajuda dos Estados Unidos), mas começa a existir contestação em Washington a esses apoios. Creio que a Administração Obama percebe que tudo deve fazer para manter o Egipto próximo, e por isso, tem evitado criticar veemente o país dos Faraós. Mas também tenho muitas dúvidas se este género de declarações será suficiente. Com a situação síria, a ameaça nuclear iraniana, o Afeganistão ainda em chamas, o Iraque a dar sinais do regresso da violência sectária, esta região do globo será certamente uma dor de cabeça para o segundo mandato do Presidente. 


25
Out 12
publicado por Nuno Gouveia, às 16:16link do post | comentar | ver comentários (8)

 

O último debate sobre política externa demonstrou o papel quase liliputiano que a Europa representa hoje para os Estados Unidos. Sim, a Europa continua a ser um parceiro comercial e um aliado, mas nunca como nesta campanha os assuntos europeus estiveram tão ausentes. Outrora considerada a região do globo prioritária para os interesses americanos, neste debate nem uma discussão sobre o velho continente, onde até está o seu grande parceiro e aliado no Afeganistão, a Inglaterra. Apesar da crise que afecta grande parte dos países da União Europeia, a única referência veio de Mitt Romney, utilizando a Grécia como um exemplo a não seguir. Isto seria impensável ainda há poucos anos atrás, pois o reforço dos laços com a Europa sempre esteve entre as prioridades americanas. Mas o mundo mudou, e com isso, a Europa perdeu.

 

Não sou especialista em relações internacionais, mas parece-me que a total sua ausência nesta campanha é preocupante. Vários investigadores europeus, incluindo o Henrique Raposo que explicou muito bem o fenómeno no seu livro “Um mundo sem europeus”, têm vindo a destacar o continuado declínio do poder europeu, em contraste com a ascensão da Ásia e de outras potências emergentes. O actual caos que se vive em alguns países do sul, acrescido da falta de liderança nas instituições europeias, tem vindo a acelerar rapidamente este declínio, que nos coloca à margem dos grandes palcos internacionais. Seria bom que a discussão sobre o enfraquecimento europeu começasse a sair da academia e do mundo dos jornais, e entrasse dentro dos gabinetes dos políticos. Para o melhor ou pior, Tony Blair foi o último dirigente europeu que teve verdadeira influência em Washington. De resto, todos os outros são ou foram totalmente irrelevantes para quem está na Casa Branca. E isto passou-se com Obama, mas não tenhamos dúvidas que acontecerá o mesmo com outro qualquer ocupante da Casa Branca, seja ele republicano ou democrata. Estaremos, nós Europa, condenados à insignificância?


15
Set 12
publicado por Nuno Gouveia, às 09:00link do post | comentar | ver comentários (4)

Barack Obama não prometeu só fazer baixar o nível dos oceanos, curar o planeta ou cortar o défice para metade no final do seu primeiro mandato. Conforme se pode observar nesta entrevista, o candidato Obama prometeu então que quando assumisse a Presidência a hostilidade muçulmana iria retroceder drasticamente em relação aos Estados Unidos. Tal como Sarah Palin, que por ver a Rússia do Alaska podia discutir política externa, também Barack Obama se considerava apto para acalmar os muçulmanos por ter vivido na Indonésia dos seis aos dez anos. Conforme pudemos observar nos últimos dias, Obama também não cumpriu esta promessa. A sua gestão do caso tem deixado a desejar, e o facto de ter ido para Las Vegas para uma sessão de angariação de fundos após ter tomado conhecimento do assassinato do embaixador na Líbia não abona muito em seu favor. Ainda por cima, sabe-se hoje que não costuma revelar muito interesse sobre os briefings de segurança nacional. Se estas manifestações no mundo árabe prosseguirem nos próximos dias, a política externa poderá tornar-se uma dor de cabeça para Obama, num tema que até ao momento lhe tem sido favorável. 


29
Ago 12
publicado por Nuno Gouveia, às 23:44link do post | comentar | ver comentários (1)

 

A Foreign Policy Initiative é um think tank neoconservador, fundado em 2009 por Bill Kristol, Dan Senor e Robert Kagan. Numa iniciativa moderada por Bill Kristol e com Tim Pawlenty, antigo candidato presidencial e governador do Minnesota, agora conselheiro de Mitt Romney, pude verificar a razão para não se falar tanto de política externa nesta campanha. É que, apesar da retórica e de algumas diferenças em relação ao Irão, Israel ou Rússia, os republicanos não apresentam divergências substanciais em relação à Administração Obama. Kristol chegou mesmo a referir que os seus apoiantes de 2008 devem estar desiludidos com a política externa do Presidente.

 

Tim Pawlenty falou sobretudo do que seria a política externa de uma Administração Romney. E o que disse? Em relação ao Irão, que iriam aumentar a pressão e fazer tudo para impedir o regime de Teerão de obter armas nucleares. Aqui a crítica ao Presidente Obama cingiu-se sobretudo à sua posição de não ter apoiado de forma aberta os manifestantes durante a revolução verde e apenas ter endurecido o discurso depois do Irão ter recusado negociações directas. Em relação à Síria, novamente críticas pelos Estados Unidos não estarem a apoiar os revoltosos e de passado mais de um ano de revolta armada nada terem feito para derrubar Bashar Al Assad. Mas não se comprometeu com grandes iniciativas e apenas deu a entender que tentarão, juntamente com a Turquia e aliadas da região, armar os revoltosos.  

 

Em relação à Nato, Pawlenty secundou as críticas que o antigo Secretário da Defesa Robert Gates teceu a alguns parceiros da coligação e disse que era necessário que estes se comprometessem mais com as missões da aliança. Questionado sobre a política de segurança comum europeia, nada acrescentou. Em algo que nos diz directamente respeito, nomeadamente sobre a crise de países como Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda, disse que uma Administração Romney não se iria envolver e deixaria esse problema para a União Europeia, além do seu papel nas instituições internacionals como o FMI e o Banco Mundial. No entanto, não deixou de lançar uma farta ao facto de termos uma união monetária sem união fiscal.

 

Na parte final, e como não poderia deixar de ser, Bill Kristol agradeceu a Tim Pawlenty por este ter liderado o campo republicano nas primárias na defesa dos princípios da política externa que norteiam o Partido Republicano desde Ronald Reagan e de ter contribuído para que o GOP não tivesse cedido à tentação populista de cair no isolacionismo que Ron Paul e Pat Buchanan defendiam para o GOP. Aliás, Tim Pawlenty reafirmou que com Mitt Romney os Estados Unidos devem reforçar a ajuda externa aos países aliados e ao terceiro mundo. No ciclo eleitoral de 2010 muitos foram os candidatos republicanos do Tea Party que defenderam que os EUA deviam assumir uma postura mais isolacionista no mundo. Pelo que depreendi da conversa de hoje, não será assim com Mitt Romney.

 

Não sei que papel estará reservado a Tim Pawlenty, caso Mitt Romney seja eleito. Mas pelo que ouvi hoje, estou certo que muitos presentes naquela sala gostariam que ele fosse nomeado Secretário de Estado. E por falar em política externa, hoje à noite discursa Condoleezza Rice, naquele que se espera o momento alto da convenção sobre política externa.


28
Jul 12
publicado por Alexandre Burmester, às 16:17link do post | comentar | ver comentários (8)

 

 

 

 

Mitt Romney encetou um périplo internacional que o levará à Grã-Bretanha, Polónia e Israel. Este é o tipo de digressão que os candidatos presidenciais com menores credenciais em política externa vêm sentindo necessidade de efectuar. Já em 2008 Barack Obama fez o mesmo, visitando a inevitável Grã-Bretanha e efectuando até uma espécie de comício em Berlim, perante uma adoradora multidão. Alguns - uns com admiração, outros com cinismo - disseram estar-se perante "o candidato europeu" às eleições presidenciais americanas.

 

Mas além de procurar ganhar credenciais em política externa, Romney procurará decerto nesta digressão estabelecer um contraste com a política externa de Obama. Esta última, mercê essencialmente da retirada americana do Iraque (aliás já programada por George W. Bush, e porventura apenas possível devido ao famoso "surge" militar americano naquele país no tempo dele) e ao audacioso e bem sucedido ataque à residência de Osama bin Laden, e consequente morte do líder da Al Qaeda, tem até sido considerada, ao contrário do que muitas vezes tem sucedido com presidentes democratas, uma das vertentes bem sucedidas do mandato de Obama.

 

Mas mesmo assim, há aspectos da política externa de Obama que têm sido alvo de crítica dos republicanos. Logo à partida, aquilo que eles consideram como negligência, e até indiferença, de Obama para com o mais tradicional aliado dos E.U.A., a Grã-Bretanha, cujas tropas, convém não esquecer, formam o segundo maior contingente no Afeganistão, tal como já o haviam feito no Iraque. De facto, a "Relação Especial" entre as duas potências anglo-saxónicas, que vem essencialmente do tempo da Segunda Guerra Mundial e da dupla Churchill-Roosevelt (na foto) já terá conhecido melhores dias, e, por exemplo, não caiu bem em certos meios britânicos, nem entre os republicanos, a decisão de Obama de devolver à Embaixada Britânica em Washington o busto de Churchill que esta emprestara no tempo de George W. Bush. Num gesto simbólico, Romney já anunciou que pedirá de novo emprestado o referido busto.

 

Apesar das suas efusões anglófilas, Romney não começou bem esta sua incursão na política externa e nas relações com o velho aliado, como o Nuno Gouveia já aqui  referiu. Mas tratar-se-á de pormenores pouco importantes, e o Reino Unido não seria atá o principal objectivo desta viagem - Romney, aliás, como CEO dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 em Salt Lake City, fora convidado a deslocar-se a Londres, a propósito da abertura da Olimpíada de 2012. A aliança anglo-americana é tão importante que nunca seria a devolução de um busto ou uns comentários infelizes acerca do grau de preparação dos britânicos para o arranque dos Jogos Olímpicos que a poriam em causa.

 

Os principais objectivos desta viagem de Romney serão então as outras duas etapas da mesma, Polónia e Israel. No caso polaco, ainda não cessaram as reverberações da decisão unilateral de Obama de cancelar a instalação do escudo anti-míssil previsto para território polaco, cujo principal objectivo era, aliás, o de defender o Ocidente de um Irão com possível capacidade nuclear e munido de mísseis inter-continentais. Dada a oposição russa à instalação desse escudo, Obama acabou por decidir pelo seu cancelamento, mas o facto de não ter consultado os aliados polacos antes de tomar tal decisão caiu mal em Varsóvia e entre os "falcões" da política externa americana. Na Polónia Romney, que decerto se absterá de criticar abertamente o presidente do seu país enquanto numa digressão pelo estrangeiro - estabelecendo novo contraste com Obama, que em 2008 foi acusado de não se ter coibido de criticar Bush na sua viagem pela Europa - tentará passar a mensagem de que os E.U.A., sob uma sua eventual administração, tratarão sempre bem os aliados, preferindo abraçá-los a eles que aos inimigos e rivais. Este é um tema antigo da política externa republicana, e só mesmo um homem com as credenciais anti-comunistas e de política externa de Richard Nixon  podia dar-se ao luxo de abraçar inimigos e rivais, como nas suas famosas viagens a Pequim e Moscovo em 1972, e ao Cairo em 1974. Mas fazia-o a partir de uma posição de força.

 

A mais simbólica etapa do périplo de Romney será contudo, certamente, Israel. Tanto no estado judaico como em determinados círculos americanos existe a percepção - e a crítica - de que Obama é o presidente dos E.U.A. menos amistoso para com Israel desde a criação daquele país. Neste seu primeiro mandato não visitou o estado judaico, e ainda esta semana tivemos  o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, a recusar-se a responder a uma pergunta - algo provocatória, é certo - de uma jornalista sobre qual cidade a Administração Obama considerava ser a capital de Israel. Portanto, em Israel, Romney decerto fará juras de amor eterno para com a pátria dos judeus. Não será tanto entre a comunidade judaica americana - que tradicionalmente vota democrata numa média de 70% - que o candidato republicano almejará ganhar grandes simpatias com esta sua visita, mas convém não esquecer que o eleitorado americano em geral é significativamente pró-israelita.

 

Seja como for, a política externa não é o tema principal desta campanha. Mas é sempre conveniente e  de bom tom um candidato mostrar-se sintonizado com a arena internacional.

 

 


27
Jul 12
publicado por Nuno Gouveia, às 10:24link do post | comentar | ver comentários (3)

 

A viagem de Mitt Romney ao estrangeiro não começou bem. Aliás, em termos mediáticos, tudo correu mal. Tudo por culpa do candidato republicano, que numa entrevista à NBC disse que tinha dúvidas se Londres estava preparada para receber os Jogos Olímpicos. Apesar destas dúvidas serem bastante corriqueiras no Reino Unido, onde tem existido várias críticas à organização dos Jogos, as reacções não se fizeram esperar. Os diversos encontros ao mais alto nível que teve na capital inglesa com David Cameron, Tony Blair e Ed Miliband foram abafados por esse declaração. Cameron disse que é mais fácil organizar uns Jogos Olímpicos no meio do nada (uma boca aos JO de Inverno em Salt Lake City em 2002, onde Romney foi o CEO) e Boris Johnson, Mayor de Londres, disse num evento perante 60 mil pessoas que, ao contrário do Romney disse, a cidade está mais do que preparada para receber os JO. Obviamente estes desenvolvimentos não terão impacto na corrida americana, apesar de terem tido amplo destaque mediático. Mas não deixam de ser um erro não forçado e escusado de Romney, que ensombrou o primeiro dia da sua visita. Hoje Romney estará na cerimónia de abertura dos JO, e partirá depois para a Polónia e Israel, o principal e mais importante destino desta viagem.


01
Mai 12
publicado por Nuno Gouveia, às 23:32link do post | comentar

 

Barack Obama viajou hoje em segredo ao Afeganistão para assinar um acordo com o governo local sobre a presença americana no terreno após o fim da missão da NATO em 2014. Esta viagem surge no dia em que se assinala o primeiro aniversário da morte de Osama Bin Laden, uma das vitórias mais significativas da sua Administração. Obama lançou na semana passada um anúncio para retirar dividendos políticos do assassinato de Bin Laden, mas terá cometido o erro, ou talvez não, de atacar Mitt Romney, pois sugere que se candidato republicano estivesse na Casa Branca não teria tomado a decisão de mandar matar Bin Laden. Apesar de não haver nenhuma evidência que tal teria acontecido numa administração Romney, a equipa de Obama decidiu criticar o seu adversário neste tema. Não consigo decidir se essa foi uma boa opção, mas a verdade é que esta semana, quando se deveria estar a discutir sobretudo o mérito de Obama ter mandado eliminar o inimigo número um dos Estados Unidos, os media americanos passaram os dias a analisar se o ataque a Romney é justo ou não. 

 

Mas um sucesso Obama já parece ter garantido. Ao contrário de anteriores ciclos eleitorais, onde a política externa tem sido sempre uma área de vantagem para os republicanos, este ano poderá não acontecer o mesmo. Apesar de não ter sucessos visíveis em temas sensíveis como o Afeganistão, o Irão ou a Coreia do Norte, a morte de Bin Laden e o sucesso na perseguição movida à Al-Qaeda nestes últimos três anos, garantem a Obama alguma margem de manobra neste tema. E esta visita hoje ao Afeganistão, onde Obama elogiou o papel dos soldados na defesa da segurança dos americanos, é mais um passo nesse sentido.


28
Mar 12
publicado por Nuno Gouveia, às 22:18link do post | comentar

Não é todos os dias que se consegue juntar três pesos pesados da academia americana, como Walter Russel Mead, Robert Kagan e Francis Fukuyama. O programa canadiano The Agenda conseguiu-o e produziu este excelente momento de televisão. O papel da América em discussão pela voz destes três influentes pensadores. Robert Kagan é conselheiro de política externa de Mitt Romney. 


26
Mar 12
publicado por Nuno Gouveia, às 14:04link do post | comentar

Barack Obama cometeu uma gaffe que não deixará de ensombrar a campanha de reeleição. Num encontro com Dmitry Medvedev, Obama pediu-lhe mais tempo, pois a seguir às eleições teria maior flexibilidade para resolver a questão da defesa anti-míssil. Esta foi uma típica situação em que ambos os presidentes foram apanhados com um microfone ligado na altura errada. Obama por diversas vezes foi criticado pelos republicanos por ter cedido aos russos na questão anit-missil no Leste Europeu sem nada ter ganho em troca. 


15
Dez 11
publicado por Nuno Gouveia, às 22:54link do post | comentar | ver comentários (16)

 

A poucos meses de completar nove anos do inicio do guerra do Iraque, os Estados Unidos dão finalmente por terminada a intervenção militar mais polémica desde o Vietnam. Foi um conflito com altos e baixos para os interesses americanos, e nesta hora de retirada é ainda difícil afirmar a forma como esta será avaliada pela história. Esta foi uma guerra extremamente difícil e com um elevado custo para os americanos. Mais quatro mil e quinhentos mortos, cerca de 30 mil feridos e 800 mil milhões de dólares depois, as tropas regressam finalmente a casa. Não entrando na discussão sobre os méritos ou deméritos desta operação, é hoje possível identificar vários erros cometidos nos primeiros anos da guerra, nomeadamente durante o consulado de Paul Bremer (nestes livros encontramos uma descrição fidedigna desses anos conturbados), e verificar que tudo poderia ter sido diferente. Os americanos abandonam Bagdad ainda sem uma democracia consolidada, a paz interna continua presa por arames e nem tudo está bem no país. No entanto, Barack Obama honrou o plano de retirada delineado ainda pela Administração Bush e conta aqui com uma promessa cumprida para apresentar ao povo americano. Ele, que se opôs à surge liderada por David Petraeus, acaba por ser o maior beneficiado, politicamente falando, desse volte face que permitiu aos americanos sair com dignidade do Iraque. Resta saber se Obama terá cometido um erro ao não forçar perante o governo iraquiano a presença militar durante mais algum tempo. Mas isso só o tempo o dirá. 


13
Nov 11
publicado por Nuno Gouveia, às 22:27link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Ontem à noite os oito candidatos republicanos encontraram-se na Carolina do Sul para discutirem exclusivamente temas relacionados com a política externa americana. E a primeira nota, negativa, vão para os organizadores do debate, a CBS News e o National Journal, que simplesmente ignoraram alguns dos assuntos mais prementes para os Estados Unidos. Num debate que durou 90 minutos, nenhuma pergunta sobre Israel, os acordos de comércio livre, o Iraque, a NATO ou as relações com a América Latina. E apenas no fim, já sem grande tempo para os candidatos explorarem, uma pergunta sobre os problemas da zona euro. Muito pouco para tanto tempo. As questões centraram-se quase exclusivamente sobre o Afeganistão/Paquistão, as relações com a China ou a luta contra o terrorismo. Mas exigia-se mais aos moderadores. No próximo dia 22 de Novembro a CNN/American Heritage Foundation e o American Enterprise Institute vão organizar um debate sobre política externa e espero que seja mais bem conseguido. 

 

Sobre o debate propriamente em si, várias confirmações. A primeira, que não constitui grande novidade, é que Herman Cain não está preparado para o cargo a que se está a candidatar. As suas respostas nunca saíram das linhas previamente ensaiadas, não conseguindo demonstrar conhecimento sobre os dossiers. Se a sua queda começou com os escândalos de assédio sexual, este debate serviu para alertar os mais desprevenidos que Cain não é um sério candidato a Presidente. Michelle Bachmann e Rick Santorum estiveram relativamente bem, mas também não conseguiram nenhum momento particularmente positivo para as suas candidaturas. Continuarão irrelevantes nesta campanha. Ron Paul reafirmou a sua oposição às linhas dominantes dentro do partido, demonstrando que continua muito afastado do mainstream republicano. Não terá conquistado um só adepto neste debate. Rick Perry desta vez não sucumbiu, mostrando alguma destreza e confiança nas respostas. Percebe-se que não domina inteiramente os assuntos, mas conseguiu ultrapassar com êxito esta prova. Contudo, insuficiente para introduzir um game changer na sua campanha. E restam Gingrich, Romney e Huntsman, cada vez mais os únicos candidatos que demonstram ter os conhecimentos e capacidades para exercerem o cargo de Presidente. Mas Huntsman, que na política externa tem evidenciado um desvio na linha tradicional do partido em relação ao Afeganistão, não consegue conectar com o eleitorado republicano. E ontem mais uma vez notou-se esse afastamento em relação à base conservadora. Newt Gingrich, assumindo o seu tom professoral natural, ontem esteve bem melhor que nos debates anteriores e assumiu-se, se calhar definitivamente, como o opositor mais sério a Mitt Romney. Será talvez o único candidato, à excepção de Huntsman, que consegue discutir os temas de uma forma profunda com Romney. E os republicanos, depois de testarem várias alternativas, talvez comecem a ouvir com mais atenção o antigo Speaker. Romney esteve como sempre: o melhor candidato em palco. A cada debate que passa, Romney fica mais forte e emerge como a melhor alternativa republicana para defrontar Obama. 

 

PS: Mark Halperin destaca no The Page dez vantagens para Mitt Romney nestas primárias. Com este leque de candidatos, muito dificilmente não será o nomeado em Tampa, no próximo Verão. 


22
Out 11
publicado por Nuno Gouveia, às 12:17link do post | comentar | ver comentários (2)

 

Uma das guerras mais difíceis da história norte-americana está a ter o seu último capítulo. Barack Obama anunciou ontem que até ao final do ano todas as tropas de combate irão retirar do Iraque, ficando para trás apenas uma guarnição de 200 Marines na Embaixada. Além disso, manterão no Iraque um número não divulgado de consultores militares. No entanto, isto não significa um abandono do país, pois permanecerão no local mais de 16 mil americanos, entre diplomatas e civis. George W. Bush tinha assinado um acordo que previa esta retirada total até ao fim de 2011, mas era esperado que um número significativo de soldados ficasse no país a pedido dos iraquianos. Obama que, ao contrário de Bush, nunca se deu bem com o Primeiro-ministro Maliki, negociou durante meses o número de soldados que ficariam no Iraque, mas no fim nao chegou a acordo. 

 

Apesar das evoluções positivas dos últimos anos, o Iraque ainda não é uma democracia estável nem consolidada. A violência sectária ainda afecta algumas regiões do país e o terrorismo continua a ser um problema. Todos os dirigentes iraquianos, à excepção dos Curdos, defenderam abertamente esta retirada total das forças americanas, mas sabemos, pela história destes últimos oito anos, que nem sempre o que se defende em público representa os verdadeiros desejos deles. O antigo Primeiro-ministro Ayad Allawi, líder do maior bloco da oposição e pró-americano, considerou que era tempo dos americanos retirar, pois terão de ser as forças de segurança iraquianas a garantir a paz. Perante a oposição dos partidos iraquianos, e sabia-se que dificilmente passaria no Parlamento um extensão da presença militar americana no Iraque, Obama tomou a decisão de retirar, cumprindo os desejos dos iraquianos. 

 

Obama apresentou esta retirada como uma vitória dos Estados Unidos e e também o resultado de uma promessa efectuada durante a campanha de 2008. Mas nem tudo corre bem para Obama. Os comandantes militares no Iraque aconselhavam uma presença de 10/15 mil soldados americanos para ajudar os iraquianos nos próximos meses. Republicanos como Mitt Romney e John McCain já acusaram Obama de colocar em risco os avanços alcançados nos últimos anos. Se nos próximos 12 meses o Iraque permanecer relativamente estável e no caminho da recuperação política e económica, Obama poderá contar isto como mais um trunfo na frente externa. Se o Iraque regressar a um clima de 2004/2006 e as forças iraquianas forem incapaz de controlar a violência, será um problema para a Administração Obama. 


07
Out 11
publicado por Nuno Gouveia, às 18:23link do post | comentar | ver comentários (1)

 

This is America’s moment. We should embrace the challenge, not shrink from it, not crawl into an isolationist shell, not wave the white flag of surrender, nor give in to those who assert America’s time has passed. That is utter nonsense. An eloquently justified surrender of world leadership is still surrender.

I will not surrender America’s role in the world. This is very simple: If you do not want America to be the strongest nation on Earth, I am not your President.

You have that President today.

A campanha do próximo ano vai ser dominada essencialmente pelo estado da economia, mas Mitt Romney dedicou este final de semana a falar de política externa e da sua visão para o papel dos Estados Unidos no mundo. Pelo que tive a oportunidade de ler do discurso, Romney apelou a um novo século americano, criticando a Administração Obama por ter cedido a liderança a outros países, e criticou as tendências que isolacionistas que têm sido defendidas por alguns candidatos republicanos. Diria que é uma visão que se enquadra no establishment republicano das últimas décadas, quebrando com algumas opiniões que tinha lido que este novo Partido Republicano seria muito diferente do partido de Reagan. 

 

Foi também divulgada a lista de vinte e dois assessores da campanha de Romney para a política externa e treze grupos de trabalho. A lista foi publicada no Washington Post, com uma breve biografia de cada um. Muitos antigos colaboradores da Administração Bush, nomeadamente com o secretário de Segurança Nacional, Michael Chertoff, Michael Hayden, director da CIA ou Paula Dobriansky, subsecretária de Estado, vários intelectuais inseridos no movimento neoconservador, como Robert Kagan ou Eliot Cohen, que também colaborou com a Administração Bush, os antigos senadores Jim Talent e Norm Coleman e os veteranos da Administração Provisória do Iraque, Daniel Senor e Meghan O´Sullivan, que teve um papel decisivo na estratégia da "surge" no Iraque em 2007. E ainda Nile Gardiner, um analista político inglês que trabalhou com Margaret Tatcher. Além destes nomes mais conhecidos, muita gente de universidades, think thanks conservadores e veteranos da política externa americana. Pelo leque de nomes que Romney conseguiu angariar nestes grupos de assessores, diria que o establishment de política externa do Partido Republicano já fez a sua escolha. Rick Perry terá de trabalhar muito para apresentar uma equipa de assessores com tanta experiência como Romney.


01
Out 11
publicado por Nuno Gouveia, às 11:27link do post | comentar | ver comentários (4)

 

Na disputa presidencial de 2008, uma das principais críticas que os republicanos disparavam contra Barack Obama é que este seria prejudicial à luta contra o terrorismo. Os republicanos temiam que Obama fosse abrandar o combate ao extremismo islâmico. Mas a um ano dos americanos irem novamente às urnas, este será, quase de certeza, uma não tema durante a campanha. Ao endurecer o programa de Drones Predators e os assassinatos selectivos contra a Al-Qaeda, os Estados Unidos têm vindo a eliminar um a um os seus líderes. A morte de Bin Lade foi o apogeu, mas os americanos não dão sinal de abrandar. Como disse Mark Halperin na Time, os Estados Unidos têm enviado um sinal poderoso aos seus inimigos:  there's nowhere to run and nowhere to hide. Ontem foi conhecido que um ataque de Drones matou Anwar al-Awlaki no Iémen, um líder da Al-Qaeda que nasceu nos Estados Unidos e que esteve por trás de diversos atentados terroristas. Mais um a juntar à longa lista de sucessos alcançados pelas forças militares americanas nos últimos três anos. 

 

Este sucesso na guerra contra o terrorismo, que muitos duvidariam no inicio do seu mandato, apagou por completo as críticas dos republicanos. Aliás, se há aspecto em que Obama tem sido elogiado pelos seus adversários é precisamente pela forma como a Administração tem combatido a Al-Qaeda. Se a segurança nacional e política externa tem sido um bónus para os republicanos em todas as recentes eleições presidenciais, em 2012 esse não será e o caso. E o mérito é todo de Barack Obama, que tem sabido lidar muito bem com a ameaça terrorista. 


22
Set 11
publicado por Nuno Gouveia, às 16:21link do post | comentar | ver comentários (2)

 

Barack Obama há um ano prometeu apoiar a criação do estado da Palestina, num discurso nas Nações Unidas. Não foi novidade, pois já anteriormente George W. Bush tinha apoiado semelhante proposta. Mas todos os envolvidos sabem que o estado da Palestina depende sobretudo de um acordo de paz negociado entre palestinianos e israelitas. Por isso, esta semana Obama teve de dizer, no mesmo palco, que os Estados Unidos não apoiam a criação unilateral de um estado, e se tal for necessário, irão vetar tal proposta no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Portanto, após um ano em que o processo de paz esteve parado, os palestinianos tentaram encostar Obama à parede, e este não cedeu e manteve o apoio inequívoco a Israel. Os Estados Unidos têm liderado pressões internacionais para que a Autoridade Palestiniana não avance com o pedido de adesão à ONU, para não forçar o veto americano. 

 

Sem querer tecer grandes considerações sobre o processo em si, interessa analisar esta posição de Obama enquadrada na situação política americana. Os judeus americanos são historicamente democratas. Mas nos últimos meses têm surgido sinais que nas próximas presidenciais Obama poderá perder parte desse apoio tradicional. Esta decisão da Autoridade Palestiniana surge na pior altura para Obama, que tem vindo a ser acusado pelos opositores de ter cedido em relação a Israel. E isto depois de uma semana em que os democratas perderam uma eleição para o Congresso num distrito com uma grande comunidade judia, onde não perdiam desde a década de 20 do século passado. A pressão do Congresso para que Obama adopte esta posição tem sido fortíssima, com vários republicanos e democratas a ameaçar a Autoridade Palestiniana com o corte do subsídio anual na ordem dos 600 milhões de dólares, caso avancem para o Conselho de Segurança. Nada menos que 88 dos 100 senadores apoiaram esta orientação. E em plena campanha, os principais candidatos republicanos, Rick Perry e Mitt Romney, teceram esta semana duras críticas à política da Administração. Os detractores acusam o Presidente de ter criado as condições, com os seus discursos ambíguos em relação a Israel ao longo destes anos, para a Palestina ter avançado com esta posição unilateral nas Nações Unidas.

 

Na verdade, desde há muitas décadas, que a política externa americana colecciona fracassos no processo de paz israelo-árabe. Com algumas excepções, como os acordos de paz de Camp David em 1978 com Jimmy Carter e os acordos de Oslo com Bill Clinton em 1993. E Obama, que se comprometeu fortemente com o processo de paz, mostrando talvez uma abordagem mais independente do que os seus antecessores, não se tem dado bem. Agora, com esta ameaça formal de veto, deixa bem evidente que os Estados Unidos são, e serão, o mais fiel aliado de Israel. Rodeado de países inimigos e com o crescente perigo da radicalização do Egipto e da Turquia, Israel sabe com quem pode contar nas horas difíceis.


11
Jul 11
publicado por Nuno Gouveia, às 18:25link do post | comentar

A Internet continua a ganhar influência no mundo da política. E se em 2008 tivemos uma campanha presidencial onde as novas tecnologias "rebentaram" com a escala, no que diz respeito à sua interferência directa no desfecho do resultado final (não esquecer que sem os voluntários e dinheiro angariado através da Internet, Obama nunca teria conseguido derrotar Hillary Clinton nas primárias), as eleições do próximo ano deverão ser consideradas como um período de consolidação dessa influência, sem que existam grandes rupturas em relação a 2008. As eleições presidenciais americanas são sempre consideradas por académicos e especialistas como os momentos onde surgem as grandes rupturas na comunicação política. Foi assim com a televisão na década de 60, com a proliferação dos diferentes tipos de media nas décadas de 80 e 90 e com a Internet na primeira década deste século. A eleição de 2008 marca uma dessas rupturas transformacionais na comunicação política, com a eleição de Barack Obama, sendo que nessa eleição surgiu em força o poder das redes sociais, do YouTube e dos vídeos online. Tudo isto foi novidade em relação às eleições anteriores. Mas nestas próximas não teremos assim tantas novidades, pelo que se espera que esta campanha seja de consolidação da influência da Internet, com especial enfoque das redes sociais, que ganharam ainda mais destaque na sociedade nestes últimos três anos. A importância do digital vai continuar a aumentar, com cada vez mais pessoas a deslocaram-se para estes meios digitais para obter e partilhar informação, mas penso que não podemos esperar grandes novidades tecnológicas. Olhando para o campo de candidatos, a minha crença é que desta vez não teremos um vencedor nascido na rede (a menos que surja um furacão republicano que ainda não consigo visualizar), mas será uma importante aposta de todos os candidatos. 


A começar obviamente por Barack Obama, que pretenderá prosseguir com o excelente trabalho de 2008. Ainda recentemente, Barack Obama criou o cargo de Director of Progressive Media & Online Response, uma espécie de responsável pela monitorização e resposta online, aumentando a importância dos novos media no Departamento de Comunicação da Casa Branca, que já contava com um gabinete especializado pela comunicação digital. Consequência da desilusão e desgaste natural que quatro anos de poder acarretam, a equipa de Obama provavelmente não conseguirá replicar na plenitude tudo o que alcançou na anterior eleição. Mas não deixará de aproveitar ao máximo os resquícios do entusiasmo de 2008, utilizando a sua posição dominante da Casa Branca para compensar essas lacunas que eventualmente surjam durante a campanha. 

 

Do lado republicano, temos umas primárias onde se espera que os diferentes candidatos sigam a receita de Obama: espalhar a mensagem, recolher apoio online que se possa traduzir em votos nas primárias e angariar voluntários e dinheiro através da rede. Sobre a campanha nas redes sociais dos republicanos, aconselho a leitura deste artigo do Concord Monitor, A day in the social media campaign, onde podemos observar a actividade digital dos candidatos durante um dia de campanha. Pelo que tenho observado neste período inicial, nenhum candidato tem conseguido obter grande sucesso na rede. Tim Pawlenty tem feito bons vídeos, Michelle Bachmann tem um apoio crescente na Internet e Mitt Romney é o campeão de seguidores nas redes sociais, o que não está desligado do facto de ter sido candidato há quatro anos. Nenhum tem propriamente gerado nada de semelhante àquele buzz que vimos em Obama no Verão de 2007 e o resultado da angariação online de fundos tem sido decepcionante. Penso que ainda é cedo, e mais para o final do Verão teremos novidades. Ou entram mais candidatos para o terreno (Sarah Palin ou Rick Perry, por exemplo), ou então os activistas começarão a inclinar-se para algum lado, e aí também poderemos observar mais entusiasmo online. Uma coisa não duvido: muito do sucesso que os candidatos venham a ter irá reflectir-se na rede. Aliás, acredito que o sucesso que os candidatos conseguirem offline será uma consequência do sucesso online. Por isso interessa ir seguindo o que os candidatos vão fazendo, tentando perceber o feedback que recebem nas redes sociais. 

 


01
Jul 11
publicado por Nuno Gouveia, às 09:40link do post | comentar | ver comentários (2)

Foto AP

Quando Robert Gates iniciou funções no Departamento de Defesa no final de 2006, o Pentágono estava de rastos. Com a situação no Iraque completamente caótica e um secretário da Defesa completamente descredibilizado, ninguém acreditaria que este veterano da Administração Reagan, onde tinha sido vice-director da CIA, se manteria em funções até 2011. Na verdade, foi sempre considerado a prazo no cargo durante estes anos todos. Mas o seu legado é indiscutivelmente positivo, numa das épocas mais difíceis de sempre para a Defesa americana, envolvida em várias frentes de batalha. George W. Bush, depois do excêntrico e controverso Donald Rumsfeld, precisava de um líder discreto para colocar em ordem o Pentágono. E foi precisamente isso que encontrou em Robert Gates. A sua maior conquista foi a implementação com sucesso da "surge" no Iraque, quando muito poucos acreditavam que era possível dar a volta à situação. O seu sucesso não passou despercebido a Barack Obama, que não hesitou em convidá-lo a manter-se em funções. Era para ficar apenas um ano, para uma transição suave, mas a força das circunstâncias acabaram por levá-lo a manter-se por mais dois anos. 

 

Agora o velho espião da CIA, recrutado durante a década de 60, irá finalmente descansar. Pelo meio ficaram os vários serviços prestados às Administrações Reagan, George H. Bush, George W. Bush e Barack Obama. Um longo currículo que terminou ontem, com Obama a prestar-lhe uma sincera homenagem pela sua dedicação à causa pública, atribuindo-lhe a Medalha Presidencial da Liberdade.


25
Jun 11
publicado por Nuno Gouveia, às 00:12link do post | comentar

O inicio da retirada anunciada esta semana por Barack Obama não satisfez ninguém, como tinha defendido aqui anteriormente. Por um lado, os sectores anti-guerra desconfiam desta retirada parcial, pois na data final prevista, em Setembro de 2012, ainda continuarão no terreno cerca de 70 mil soldados americanos. Mas aqueles que acreditam na missão, e são cada vez menos, acusam o Presidente de ceder perante timings eleitorais. Não terá sido por acaso que Obama escolheu aquela data, dois meses antes das eleições.

 

Relegando para segundo plano a questão política, se esta é uma guerra de necessidade, como Obama sempre defendeu durante a campanha eleitoral de 2008, não tem demonstrado empenhamento e convicção na condução da mesma. Não sendo ele um estratega militar, devia ter ouvido mais os conselhos dos militares. Em 2009, quando aumentou as forças em 30 mil soldados, não seguiu os pedidos que recebeu dos generais no terreno, que requisitaram mais 15 mil do que tiveram. Mais, apesar de lhe terem pedido para nunca impor um calendário para o inicio da retirada, por cálculos políticos, Obama sempre disse que o inicio seria neste Verão. A defesa da intervenção por parte do Presidente nunca foi convicta, parecendo ter receio de enfrentar a esquerda anti-guerra que ajudou a sua eleição. Se Obama acreditava realmente na missão no Afeganistão, e por vezes parece que não acredita, basta ouvir o discurso desta semana, então devia ter empregue o poder da sua retórica para explicar aos americanos o que está em causa e defender esta intervenção. Agora, que anuncia a retirada gradual dos soldados da "surge", vai mais uma vez contra a opinião dos generais. David Petraeus, provavelmente a figura mais venerada do exército americano das últimas décadas, criticou, com discrição, o plano de Obama, afirmando que pode colocar em causa os ténues sucessos alcançados no último ano. 

 

Para vencer uma guerra é preciso crença na missão, disposição para vencer as adversidades e ter coragem para ir contra a opinião pública em certos momentos. Se depois de 10 anos no Afeganistão, o Presidente dos Estados Unidos não acredita que o país pode ter sucesso, mais elaborar um plano de retirada. Continuar a lutar para ser derrotado é doloroso, caro para o país e injusto para os milhares de americanos que estão a combater. George W. Bush deu o exemplo quando contra grande parte da opinião pública e do seu próprio partido, avançou para a "surge" no Iraque em 2006 com David Petraeus. Pode-se acusar o anterior Presidente de muitos erros que cometeu, e foram vários, mas não o de nunca acreditar na missão. 


22
Jun 11
publicado por Nuno Gouveia, às 15:29link do post | comentar

 

Barack Obama anuncia esta noite uma substancial redução de tropas no Afeganistão até ao final de 2012. A previsão é que nos próximos 18 meses cerca de 30 mil militares abandonem o terreno, regressando aos números anteriores à "surge" decretada em 2009. Obama irá defender que a "surge" está a dar resultados na contenção dos Taliban e estabilização do país, pelo que é possível uma retirada gradual. Mas as notícias que chegam é os comandantes militares no terreno defendem que a retirada deve ser mais faseada, pois as conquistas são frágeis e reversíveis. Suspeito que esta decisão não agradará ninguém: os críticos irão dizer que é preciso retirar mais tropas, enquanto os apoiantes do esforço de guerra irão criticar Obama por não seguir a opinião dos militares. 

 

Esta decisão surge num momento complicado para a guerra no Afeganistão, a mais longa na história americana, com os índices de oposição mais elevados de sempre. Há quase dez anos com presença no Afeganistão, os americanos estão cansados desta guerra. Aproveitando o momento político, vários republicanos começam também a demonstrar sinais impaciência. Como sempre em política, a situação inverteu-se, e agora são mais as vozes republicanas que se insurgem contra a estratégia no Afeganistão do que democratas. Os que estavam contra agora ou estão a favor ou se calam, e os que sempre apoiaram os esforços, agora são os mais críticos da estratégia do Presidente. Um assunto quente para 2012. 


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