Karl Rove é uma figura incontornável da política americana da última década. E quem gosta de comunicação política não pode ficar indiferente àquele que é conhecido como o The Architect. O seu trabalho nas campanhas de Bush no Texas na década de 90, mas especialmente nas vitórias presidenciais de 2000 e 2004, colocaram-no hall of fame dos consultores políticos. Os Estados Unidos, sempre à frente neste campo, têm oferecido ao mundo alguns dos mais brilhantes estrategas políticos: Joe Napolitan, Mark Penn, Dick Morris, James Carville ou David Axelrod são alguns dos nomes. Conhecidos como spin doctors, que não beneficiam de grande fama no público em geral, mas nenhum político os dispensa.
Karl Rove é um caso especial. Ao contrário da maior parte destes consultores, Rove acompanhou George W. Bush na Casa Branca, onde durante quase sete anos desempenhou o cargo de Conselheiro Especial. E não foram poucas as polémicas em que se envolveu, sendo que uma das maiores críticas que recebeu foi ter-se envolvido directamente em decisões de politica externa. Ainda recentemente David Axelrod esteve nos holofotes da imprensa pelo mesmo motivo. Mas Rove teve um problema bem maior durante os anos Bush: foi acusado pela justiça de estar envolvido na fuga de informação no caso Valerie Plame. Apesar de ter sido absolvido pela justiça, que acabou por condenar o assessor de Dick Cheney, Lewis "Scooter" Libby, a sua reputação sofreu bastantes danos. Na sua autobiografia, “Courage and Consequence”, nota-se a sua amargura por esse caso e as consequências que teve na sua vida durante alguns anos. Aliados a esses problemas, a sua fama lendária de spin doctor da Administração Bush ensombrou o seu futuro na política americana. Mas Rove saiu da Casa Branca em 2007, e desde então, tem vindo a cimentar a sua posição no lado republicano. Na campanha presidencial de 2008 esteve longe dos radares, mas com uma participação activa na imprensa, nomeadamente na Fox News e no Wall Street Journal, Rove recuperou novamente a aura de personalidade influente do Partido Republicano.
No actual ciclo eleitoral, haverá poucos indivíduos com mais peso do que Rove. Juntamente com Ed Gillespie, outro antigo colaborador de George W. Bush e antigo chairman do RNC, formou o grupo Crossroads. Uma organização que serve para combater outras semelhantes da esquerda, como a MoveOn ou a America Come Together. Estas organizações não são obrigadas a revelar os seus doadores e podem receber contribuições ilimitadas, ao contrário dos partidos e dos políticos. Na última década os grandes beneficiados destes grupos foram os democratas, mas Rove sentiu que neste ciclo eleitoral era preciso dar a volta à situação. E aí está ele de volta aos holofotes, a ser um dos principais alvos dos democratas, nomeadamente do Presidente e dos seus assessores. E qual a razão? Esta noticia explica bem o porquê: o grupo de Karl Rove já arrecadou 56 milhões de dólares este ano, ultrapassando o objectivo inicial de 50M. Isto poderá fazer a diferença em muitas corridas, ainda por cima com a capacidade de Rove em analisar e seleccionar os candidatos com possibilidades de sucesso.
Além de actuar como importante apoio financeiro, Rove fez também escolhas políticas. As mais mediáticas e relevantes foram: apoiou logo no inicio Marco Rubio na Florida contra o favorito da altura, Charlie Crist; escolheu o derrotado Trey Grayson contra o vencedor Rand Paul, o preferido do tea party no Kentucky; e “massacrou” a escolha de Christine O´Donnell em detrimento de Mike Castle no Delaware. No entanto, tem injectado muito dinheiro em candidatos do tea party, como no Colorado, Nevada ou Kentucky. Não sei como Rove irá actuar nas primárias de 2012. Não voltará de certeza aos gabinetes das campanhas eleitorais, mas terá certamente uma palavra a dizer no processo. Rove está de regresso.