Como já aqui referi, e como parece evidente para a esmagadora maioria dos observadores, a corrida a seguir em 2016 será a republicana e não a democrática. Nesta última, Hillary Clinton deverá conseguir, com maior ou menor dificuldade, a nomeação, não se vislumbrando uma surpresa como a que, em 2008, a privou da candidatura democrática, contra todos os vaticínios dos "entendidos", note-se (entre eles os "tudólogos" portugueses, que já quase a aclamavam como presidente - não confundir com "presidenta", vocábulo mais comum no Atlântico Sul - ainda nem as primárias tinham tido início).
Do lado republicano, porém, a corrida promete ser muito competitiva. Ao contrário da "sabedoria convencional", a actual divisão e crispação entre os sectores mais "irredutíveis" do partido - a ala Tea Party/Direita Religiosa (duas coisas que por vezes se sobrepõem, mas que não são sinónimos, note-se) - e o "Establishment" do partido não constituem novidade alguma. Já em 1952, por exemplo, Dwight Eisenhower teve de enfrentar nas primárias o Senador Robert Taft, "Mr Republican", a voz do "partido profundo", sendo o general o candidato do "Establishment", e em 1964 o "partido profundo", na pessoa do Senador Barry Goldwater, prevaleceu sobre o "Establishment", personificado pelo Governador do Estado de Nova Iorque, Nelson Rockefeller. Digamos que, da II Guerra Mundial para cá, talvez o único candidato republicano que conseguia falar simultaneamente pelos, e para, os dois sectores do partido tenha sido Richard Nixon (e nessa sua capacidade uns viam a sua duplicidade inata, outros a sua argúcia política).
Mas voltemos à campanha que se avizinha. Claramente, há já um candidato preferido do "Establishment", o ex-Governador da Florida Jeb Bush, cujo apelido o atrapalha mais do que o ajuda, diga-se. Com o recente anúncio de Mitt Romney de que, definitivamente, não tentará uma terceira campanha presidencial, Bush tornou-se o favorito do "Establishment", embora, nesse sector, não possa descurar a personagem do Governador de New Jersey, Chris Christie. No campo oposto, perfilam-se, entre outros, o "invulgar" Senador Rand Paul - mais libertário que conservador - e o seu colega no Capitólio Ted Cruz.
O "Establishment" prefere uma figura previsível, de preferência com experiência executiva - e daí a sua simpatia por Bush e Christie - e, acima de tudo, elegível; a ala Tea Party/Direita Religiosa prefere alguém com perfil "anti-Establishment", "anti-Washington" e que defenda os valores sociais e económicos conservadores.
Mas, no meio desta polaridade, surge um homem que pode, sem grande esforço, fazer a ponte entre as duas facções. Falo do Governador do Wisconsin, Scott Walker. Trata-se de um homem duas vezes eleito governador de um estado tendencialmente democrático - a úlima vez que o candidato presidencial republicano aí venceu foi em 1984 - e que, pelo meio, ainda teve de enfrentar uma "recall election", uma espécie de referendo a meio do mandato, que também venceu. Tornou-se popular à direita pela sua oposição bem sucedida aos sindicatos do sector público, pela sua rejeição do "Affordable Care Act", mais conhecido por "Obamacare", e pela sua posição contra o aborto, e, para o mais pragmático Establishment, é um competente executivo que sabe equilibrar orçamentos, criar empregos e vencer eleições em terreno adverso.
A verdade é que, neste momento, Scott Walker lidera as sondagens no Iowa - onde tem lugar o primeiro escrutínio das primárias - a que não será estranho o facto de esse estado ser vizinho do Wisconsin. Mas, mais surpreendentemente, a mais recente sondagem no New Hampshire - palco da primeira primária propriamente dita - dá-lhe vantagem sobre Bush.
Como todos os restantes presumíveis candidatos de ambos os partidos, Scott Walker ainda não é oficialmente candidato, mas o ímpeto parece irresistível. E, a esta distância, arriscar-me-ia a dizer que a grande luta entre os republicanos será entre ele e Jeb Bush.