Marco Rubio, que marcou lugar nos programas de humor americanos na próxima semana, não perdeu tempo!
Marco Rubio, que marcou lugar nos programas de humor americanos na próxima semana, não perdeu tempo!
Barack Obama deu ontem o mote para a sua campanha presidencial. Não ofereceu grandes novidades ao povo americano (este não constará da história), mas esteve assertivo. Como estou com pouco tempo, deixo aqui a avaliação que o Mark Halperin fez do discurso (talvez o José Gomes André ou o Alexandre Burmester ainda peguem no assunto), que penso que resume bem o que se passou ontem à noite:
Style: Achieved a good balance between lofty and accessible but probably could have let a little more of his winning personality show through. Optimistic and hopeful about getting things done, although his pleas for cooperation sometimes clashed with his defiant pledges to act without Congress. Firm and confident but without the touch of condescension he occasionally adopts.
Substance: Despite what his detractors say, fully in command of policy across the board. Still, his arguments were presented a little defensively when justifying past policies and his pitches for new policies were uneven in their level of detail.
His worst moment: Thwarted by cutaways of Republican leaders McConnell and Cantor, who were not giving an inch.
His best moment: Closed strong with a return to his opening theme that the country should come together in the spirit of the U.S. military.
The main thing: The speech was clearly poll tested to within an inch of its life, filled with programs and themes of broad appeal running from the left to the center right. Rhetorically reached out to the opposition by invoking national security, the need to get Washington working and a few familiar areas of common ground (entitlement and education reform). But much of the speech focused on policies that divide the parties absolutely. And, judging by the press releases and tweets from the Republican leadership, this State of the Union address will serve to lay down markers for November's election rather than break the current gridlock. New taxes and a bigger role for Washington are where the presidential election will be fought out – not foundations for compromise this year.
Grade: B
The State of the Union Address é um dos rituais mais antigos da história da política americana. Começou com George Washington em 1790, foi descontinuado por Thomas Jefferson em 1801, que o considerava demasiado "monárquico", e regressou em 1913 pela voz de Woodrow Wilson. Nesse interregno, o discurso era apenas lido ao congresso. Este discurso envolve um ritual quase monástico, onde o Presidente é recebido em sessão conjunta do congresso. Vários destes discursos anuais tornaram-se peças de inegável interesse histórico*. Há um ano publiquei aqui uma lista dos dez discursos mais relevantes, onde se inclui o de George W. Bush em 2002, aquando do famoso discurso do "axis of evil".
O discurso desta noite de Barack Obama irá marcar o arranque da campanha oficial para a sua recandidatura. Numa altura em que a sorte parece sorrir-lhe (a queda de Romney nas sondagens), Obama irá anunciar os principais vectores da sua campanha. Não espero grandes ataques direccionados aos republicanos (isso ficará para mais tarde), mas certamente haverá alusões ao papel da maioria republicana no congresso e às suas propostas económicas. Acredito que irá ser um discurso com um tom optimista e não esquecerá de ressalvar o enorme sucesso que foi a eliminação de Bin Laden. Não haverá grandes novidades, mas certamente valerá a pena acompanhar. Do lado republicano, a sempre díficil resposta oficial será da responsabilidade do governador do Indiana, Mitch Daniels.
O discurso irá ser proferido a partir das 2h00 (de Lisboa). Em Portugal, sei que pelo menos a TVI24 irá acompanhar o discurso em directo, com comentários do Bernardo Pires de Lima.
* Aconselho também a leitura deste excelente apontamento do José Gomes André escrito em 2010.
Pela minha parte não tenho muito a dizer do discurso de ontem. Foi o discurso previsível, sem grandes novidades, e que marcou o regresso à tradição centrista de Bill Clinton. Não teve o brilho de outros, mas foi eficaz no sentido em que deverá ter mantido o clima de recuperação de popularidade iniciado no final do ano passado. Foi o primeiro discurso da campanha da reeleição e Obama anunciou ao que vinha: os tempos de radicalização fazem parte do passado, e agora é tempo de voltar a unir o povo americano em torno de ideias centristas. O GOP, que ontem até conseguiu quebrar com a tradição de más respostas ao discurso do Estado União, com o congressista Paul Ryan, não teve grandes motivos para sorrir. Além da boa resposta que o discurso de Obama parece ter suscitado na sociedade americana, a sombra do tea party ontem voltou a fazer das suas, com o discurso de Michele Bachmann a ofuscar a intervenção oficial do Partido Republicano. Enquanto Obama dirige-se ao centro, o Partido Republicano terá que lidar com um tea party acantonado à direita.
O cerimonial do discurso do Estado da União é também composto por uma resposta oficial do partido da oposição. Mas depois do discurso presidencial, a resposta da oposição perde sempre na comparação. Nos últimos anos, as respostas têm sido muito fracas, e até prejudiciais para os seus protagonistas. Bobby Jindal, governador republicano da Louisiana, no primeiro discurso de Obama, teve uma resposta tão fraca que o seu nome desapareceu dos radares durante uns meses. Ano passado o nível melhorou, com o governador Bob McDonnell, da Virgínia, que discursou directamente da sala legislativa estadual. Mas, ninguém se lembrará propriamente do que ele disse. Este ano a escolha do GOP recaiu novamente numa estrela em ascensão (existem rumores que o governador de New Jersey, Chris Cristie, recusou a "honra"), o congressista Paul Ryan do Wisconsin. Um político brilhante que tem vindo a subir na escola de valores republicanos devido às suas intervenções sobretudo económicas. Mas o tea party, que tem vindo a reclamar um lugar na mesa dos grandes, preparou também uma resposta em directo, através de Michele Bachmann, congressista do Minnesota e uma das vozes do tea party em Washington. Consta-se que estará a pensar em candidatar-se se Sarah Palin ficar no Alaska pela ala tea party. Uma espécie de Sarah Palin sem o seu star power.
Segundo o Real Clear Politics:
1. Abraham Lincoln - December 1, 1862
2. James Monroe - December 2, 1823
3. Franklin Roosevelt - January 6, 1941
4. George Washington - January 8, 1790
5. George W. Bush - January 29, 2002
6. Lyndon Johnson - January 4, 1965
7. Bill Clinton - January 23, 1996
8. Gerald Ford - January 15, 1975
Amanhã Barack Obama discursa no tradicional discurso do Estado da União. Uma boa reportagem de Jack Tapper, da ABC News, com especial enfoque na novidade neste ano: republicanos e democratas vão sentar-se lado a lado, num esforço bipartidário que surgiu após o massacre de Tucson.
Ainda sobre este assunto, fica um link para o texto que José Gomes André escreveu ano passado sobre o tema.
Na próxima quarta-feira, às 21h (2h em Portugal), Barack Obama realizará perante uma sessão conjunta do Congresso o seu "Discurso sobre o Estado da União". Mais do que um mero requisito constitucional, esta é uma tradição fundamental da vida política americana, utilizada pelo Presidente para descrever o ambiente político actual e influenciar decisões futuras do Congresso, traçando as grandes metas e prioridades legislativas dos meses seguintes.
Derivado do precedente britânico (o monarca discursava na sessão de abertura do Parlamento), este procedimento foi seguido à risca desde a entrada em vigor da Constituição, cuja secção 3ª do Artigo 2º determina: "O Presidente deverá, de tempos a tempos ["from time to time"], prestar ao Congresso informações sobre o Estado da União e submeter à sua consideração as medidas que julgue necessárias e convenientes". O objectivo desta disposição era atribuir ao chefe do Executivo a possibilidade de condicionar a agenda legislativa do Congresso, entendendo os Pais Fundadores americanos que o Presidente tinha um papel muito limitado neste domínio (a história alteraria essa situação).
Curiosamente, como vemos, o articulado constitucional não se refere a uma comunicação "anual", mas meramente periódica. Como em tantas outras questões formais, a prática seguida pelo Presidente George Washington (um discurso anual) criou um sólido precedente, ainda hoje respeitado. Todavia, ao contrário do primeiro Presidente americano, muitos foram os chefes do executivo que optaram por transmitir ao Congresso uma declaração escrita e não um discurso oral (desde Jefferson a William H. Taft). Já no século XX, Woodrow Wilson reinstaurou esta última tradição, seguida (com raras excepções) por todos os Presidentes até aos nossos dias.
Um dos acontecimentos políticos mais vistos e comentados nos EUA, este momento solene está também repleto de curiosidades. Uma das mais interessantes refere-se à necessidade de designar um membro da Administração para não estar presente na sessão (ficando em local desconhecido). Devido à (rara) aparição conjunta de várias figuras de topo da hierarquia federal, garante-se assim que, em caso de um atentado ou acidente, um dos membros do governo federal sobrevive a essa tragédia, impedindo que o país ficasse sem uma chefia legalmente reconhecida.