Mais uma vez os americanos choram depois de um terrível acto cometido por um lunático sem respeito pela vida. E mais uma vez repetem-se os mil e um discursos contra as armas, como se o mal fosse apenas das armas. Confesso que nutro simpatia pelo argumento que não são as armas que matam, mas sim as pessoas. Mas não, não concordo nada com a lei vigente na maioria dos estados americanos. Penso que é inaceitável que se vendam armas de guerra em qualquer esquina, pois o direito a usar armas, consagrado na Constituição Americana, não significa que metralhadoras e outro tipo de armas automáticas estejam disponíveis facilmente. Nem me parece aceitável que o direito a usar armas se deva estender a qualquer cidadão: o estado mental, o cadastro ou uma outra série de condicionantes devem ser factores de investigação a todos os que desejem comprar uma arma. E, sim, a proibição de armas automáticas decretada em 1994 e que expirou em 2004, devia ser retomada pelo Congresso. Os republicanos, mais do que os democratas, têm responsabilidades nesta matéria, apesar de Obama nunca ter dado sequer um passo neste sentido.
Mas o problema é que este tipo de incidentes não irá desaparecer com nova legislação. O massacre de Columbine aconteceu em 1999, quando estava em vigor a proibição de venda de armas automáticas de Bill Clinton. E com os milhões de armas que existem espalhadas pelos Estados Unidos, um qualquer lunático não terá grandes problemas em arranjar armas para prosseguir com os seus actos de terror. Mesmo em países mais brandos, como vimos recentemente na Noruega ou no massacre de Jokela na Finlândia em 2007, situações destas têm acontecido. No entanto, a verdade é que este tipo de incidentes acontece com mais regularidade neste país. Algo está mal quando tantos e tantos lunáticos conseguem assassinar de forma massiva tantos inocentes. É um sintoma de uma sociedade com problemas, e que devem ser encarados de frente. Há vários vectores que os responsáveis políticos americanos devem atacar para tentar atenuar esta barbárie que parece estar a crescimento nos EUA. Em primeiro lugar, sem dúvida, a alteração na restrição de venda de armas. Mas terá de haver uma conversação nacional sobre o tratamento a dar a indivíduos com perturbações mentais. O assassino do Colorado deste ano tinha dado imensos sinais de loucura, mas nada lhe aconteceu. As autoridades registaram os indícios, tal como um psiquiatra, mas não impediram a tragédia. O tratamento psiquiátrico, e acompanhamento pelas forças de autoridades destes indivíduos terá de ser efectuado de outra forma. Por outro lado, os imensos meios que as autoridades têm para vigilância online (neste caso em particular no Connecticut não teria servido de nada), terão de ser mais repensados. Muitos destes lunáticos anunciam online as suas intenções ou as suas graves perturbações. Ainda na semana passada foi preso um jovem de 17 anos no Oklahoma que se preparava para cometer uma tragédia semelhante à de Newtown. Aqui as autoridades foram competentes. Todos precisam de estar mais vigilantes. A possibilidade de imitações aumenta exponencialmente com a extensa cobertura mediática, pelo que a imprensa também deverá reflectir sobre o seu papel, que nem sempre tem sido o melhor após estas tragédias. Tudo deverá estar em cima da mesa, e republicanos e democratas devem juntar-se nos próximos meses para discutirem as melhores respostas para este problema. Longe dos fanatismos e dos radicalismo de ambos os lados.