A convenção democrata terminou ontem em Charlotte com um sentimento de missão cumprida por parte de Barack Obama. Contrariamente às previsões, incluindo a minha, o Presidente não fez um grande discurso, ao estilo que nos habituou. Tal como a transferência do estádio para o pavilhão, também ao nível da retórica houve uma descida na fasquia. Ontem o melhor discurso da noite veio de John Kerry, que fez um ataque eficiente a Mitt Romney. Destaque também para o desfilar de estrelas que discursaram, como Eva Langoria e Scarlett Johanasen, que apesar de não terem dito nada de relevante, deram brilho e star power à convenção. Este último dia até estava a correr melhor do que os dias anteriores até ao discurso de Barack Obama, que terá ficado atrás de Bill Clinton e da Primeira Dama. A convenção não terá sido um game changer desta campanha, tal como não tinha sido a convenção republicana.
Positivo:
- Os discursos de Bill Clinton e Michele Obama, proferidos no horário de prime-time, que foram muito bem recebidos e apresentaram o caso para a reeleição de Barack Obama
- Enfoque nas questões militares e de política externa, que ajudaram o Partido Democrata a relegar para trás a imagem anti-guerra criada nos anos anteriores à eleição de Obama, e que lhe dão nestas eleições vantagem sobre os adversários republicanos
- dois excelentes momentos que comoveram todos aqueles que estavam a assistir à convenção: o discurso da veterana de guerra do Iraque, Tammy Duckworth e a intervenção ontem à noite da antiga congressista Gabrielle Giffords.
- comunicação directa com os grupos específicos que poderão ser decisivos para a vitória: minorias étnicas, mulheres e jovens.
Negativo:
- O episódio de Deus e Jerusalém, que ofereceu ao país uma imagem contraditória e confusa do Partido Democrata
- Exagerado enfoque nas questões sociais, em detrimento do emprego e economia, que estiveram muito ausentes em Charlotte. Não sei até que ponto a ideia da "war on women" tem dado vantagens a campanha de Obama. As últimas sondagens que foram publicadas indicam uma quebra de popularidade do Presidente entre este segmento da população
- Ausência de estrelas emergentes. Ao contrário do Partido Republicano, que apresentaram Susana Martinez, Marco Rubio ou Chris Christie, os democratas parecem estar com falta de "rising stars". Julian Castro não cumpriu as expectativas, e sendo apenas Mayor de San António, não se vê como poderá ascender rapidamente na política americana. O melhor que ofereceram foi o governador do Maryland, Martin O'Malley.
- O que um segundo mandato será diferente deste? Não responderam. Os Estados Unidos estão melhores do que há quatro anos? Não souberam responder.