Desde as mais recentes vitórias de Donald Trump - as obtidas em seis primárias no Nordeste - que se vem notando uma atmosfera de resignação, de alto a baixo, no Partido Republicano. O fervor anti-Trump de semanas anteriores parece estar a abater, e uma espécie de realismo, também em nome da unidade do partido, começa a fazer-se sentir.
Efectivamente, a até agora escassa lista de apoiantes de Donald Trump entre a elite republicana, embora continue magra, tem tido a adição de alguns membros da Câmara dos Representantes, a qual, ao que consta, poderá vir a aumentar no caso de uma vitória do magnata novaiorquino na primária de amanhã no Indiana. E na crucial luta pelos delegados em caso de convenção aberta - uma a que nenhum candidato chega com a maioria dos delegados - alguns dos que pareciam firmes no campo de Ted Cruz, parecem estar agora a oscilar.
A invulgar indecisão da campanha das primárias - há 40 anos que não há uma convenção aberta - estará já a saturar muita gente no G.O.P., e muitos, mesmo sem particular entusiasmo pelo homem que lidera a corrida, parecem estar a coalescer em torno dele, basicamente porque desejam evitar uma convenção caótica que poderia afectar seriamente a unidade do partido para as eleições de Novembro. E isto, mesmo perante a possibilidade de uma nomeação de Trump poder não só significar uma derrota pesada, como colocar em risco a maioria republicana no Senado, cerca de um terço do qual será renovado em Novembro, sendo a maioria dos lugares em disputa actualmente detida por republicanos, muitos deles eleitos na onda anti-Obama de 2010 (os mandatos no Senado são de seis anos).
Recentemente, Trump tem adoptado uma postura mais moderada, do ponto de vista retórico e em comparação com os seus anteriores padrões, e até apresentou a sua visão sobre política externa a convite do Center for the National Interest (CFTNI), o antigo Nixon Center, um think-tank criado por Richard Nixon e Henry Kissinger em defesa do "realismo" em política externa, em contraste com os intuitos mais belicistas dos neoconservadores. Ou seja, parte do establishment, mesmo estando longe de estar convencido das qualidades de Trump e das suas possibilidades eleitorais em Novembro, parece estar a adoptar uma atitude apenas realista perante ele. Diga-se, contudo, que a diferença de Trump para Hillary Clinton, num hipotético confronto entre os dois em Novembro, tem vindo a cair, havendo até sondagens recentes que os colocam praticamente lado a lado, uma das quais apurou haver mais democratas dispostos a votarem em Trump, que republicanos em Clinton.
Por trás do "novo Trump" e dos seus ganhos entre o establishment está o dedo do seu mais recente guru, Paul Manafort , um homem que, positivamente, não brinca em serviço, e que será talvez a única pessoa capaz de fazer eleger o magnata. Entre os seus clientes contaram-se Mobutu Sese Seko, Ferdinand Marcos, Teodoro Obiang e Viktor Yanukovych, não propriamente uma galeria de democratas, mas um símbolo da atracção exercida pelas artes mágicas de Manafort. Mais prosaicamente, Gearld Ford, Ronald Reagan, ambos os Bush e John McCain também recorreram aos seus serviços.
Outro factor importante nesta aparente aquiescência do establishment republicano, ou de parte dele, em torno de Trump é a alternativa: Ted Cruz. É que, de facto, para muitos membros do tão decantado establishment, trata-se de um caso de "venha o diabo e escolha", pois o senador texano é uma figura que colhe a quase unanimidade em termos de (im)popularidade nesse meio, nomeadamente entre os seus colegas do Senado, altamente críticos das suas tácticas naquela assembleia. Além disso, Cruz é a personificação do político apoiado pelo Tea Party, uma entidade que conta nas suas características uma feroz oposição ao status quo de Washington. Isso, contudo, também lhe garante uma vasta rede de operacionais no terreno, para os quais o purismo ideológico conservador transcende a unidade do partido e Donald Trump é um verdadeiro anátema.
O próximo combate, no Indiana, será decisivo para Cruz. Os últimos números das sondagens são pouco propícios às suas aspirações, mesmo depois do seu acordo com John Kasich e da sua escolha de Carly Fiorina para "running mate". A partir de 4ª feira, Trump poderá tornar-se mesmo "inevitável". E daí...