02
Mai 16
publicado por Alexandre Burmester, às 16:17link do post | comentar | ver comentários (1)

 

 

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Desde as mais recentes vitórias de Donald Trump - as obtidas em seis primárias no Nordeste - que se vem notando uma atmosfera de resignação, de alto a baixo, no Partido Republicano. O fervor anti-Trump de semanas anteriores parece estar a abater, e uma espécie de realismo, também em nome da unidade do partido, começa a fazer-se sentir.

 

Efectivamente, a até agora escassa lista de apoiantes de Donald Trump entre a elite republicana, embora continue magra, tem tido a adição de alguns membros da Câmara dos Representantes, a qual, ao que consta, poderá vir a aumentar no caso de uma vitória do magnata novaiorquino na primária de amanhã no Indiana. E na crucial luta pelos delegados em caso de convenção aberta - uma a que nenhum candidato chega com a maioria dos delegados - alguns dos que pareciam firmes no campo de Ted Cruz, parecem estar  agora a oscilar.

 

A invulgar indecisão da campanha das primárias - há 40 anos que não há uma convenção aberta - estará já a saturar muita gente no G.O.P., e muitos, mesmo sem particular entusiasmo pelo homem que lidera a corrida, parecem estar a coalescer em torno dele, basicamente porque desejam evitar uma convenção caótica que poderia afectar seriamente a unidade do partido para as eleições de Novembro. E isto, mesmo perante a possibilidade de uma nomeação de Trump poder não só significar uma derrota pesada, como colocar em risco a maioria republicana no Senado, cerca de um terço do qual será renovado em Novembro, sendo a maioria dos lugares em disputa actualmente detida por republicanos, muitos deles eleitos na onda anti-Obama de 2010 (os mandatos no Senado são de seis anos).

 

Recentemente, Trump tem adoptado uma postura mais moderada, do ponto de vista retórico e em comparação com os seus anteriores padrões, e até apresentou a sua visão sobre política externa a convite do Center for the National Interest (CFTNI), o antigo Nixon Center, um think-tank criado por Richard Nixon e Henry Kissinger em defesa do "realismo" em política externa, em contraste com os intuitos mais belicistas dos neoconservadores. Ou seja, parte do establishment, mesmo estando longe de estar convencido das qualidades de Trump e das suas possibilidades eleitorais em Novembro, parece estar a adoptar uma atitude apenas realista perante ele. Diga-se, contudo, que a diferença de Trump para Hillary Clinton, num hipotético confronto entre os dois em Novembro, tem vindo a cair, havendo até sondagens recentes que os colocam praticamente lado a lado, uma das quais apurou haver mais democratas dispostos a votarem em Trump, que republicanos em Clinton.

 

Por trás do "novo Trump" e dos seus ganhos entre o establishment está o dedo do seu mais recente guru, Paul Manafort , um homem que, positivamente, não brinca em serviço, e que será talvez a única pessoa capaz de fazer eleger o magnata. Entre os seus clientes contaram-se Mobutu Sese Seko, Ferdinand Marcos, Teodoro Obiang e Viktor Yanukovych, não propriamente uma galeria de democratas, mas um símbolo da atracção exercida pelas artes mágicas de Manafort. Mais prosaicamente, Gearld Ford, Ronald Reagan, ambos os Bush e John McCain também recorreram aos seus serviços.

 

Outro factor importante nesta aparente aquiescência do establishment republicano, ou de parte dele, em torno de Trump é a alternativa: Ted Cruz. É que, de facto, para muitos membros do tão decantado establishment, trata-se de um caso de "venha o diabo e escolha", pois o senador texano é uma figura que colhe a quase unanimidade em termos de (im)popularidade nesse meio, nomeadamente entre os seus colegas do Senado, altamente críticos das suas tácticas naquela assembleia. Além disso, Cruz é a personificação do político apoiado pelo Tea Party, uma entidade que conta nas suas características uma feroz oposição ao status quo de Washington. Isso, contudo, também lhe garante uma vasta rede de operacionais no terreno, para os quais o purismo ideológico conservador transcende a unidade do partido e Donald Trump é um verdadeiro anátema.

 

O próximo combate, no Indiana, será decisivo para Cruz. Os últimos números das sondagens são pouco propícios às suas aspirações, mesmo depois do seu acordo com John Kasich e da sua escolha de Carly Fiorina para "running mate". A partir de 4ª feira, Trump poderá tornar-se mesmo "inevitável". E daí...

 

 


28
Abr 16
publicado por Alexandre Burmester, às 16:33link do post | comentar

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No domingo passado, as campanhas de Ted Cruz e John Kasich anunciaram uma espécie de acordo com especial incidência na primária do Indiana no próximo dia 3 (o acordo também se estende ao Novo México e ao Oregon, mas a atribuição proporcional de delegados nesses dois estados torna-o menos importante aí). Essa súbita aliança foi por muitos interpretada como sinal de desespero das duas campanhas nos seus esforços em barrarem o caminho a Donald Trump.

 

Entretanto, tiveram lugar cinco primárias em estados do Nordeste, todas ganhas por Trump com larga vantagem. Nada de imprevisível sucedeu nessas eleições, mas a "narrativa" é sempre influenciada pelos resultados eleitorais, com a tendência e tentação dos media em utilizarem adjectivos como "inevitável", "imparável", etc., para descreverem a campanha do vencedor.

 

E ontem, num comício em Indianapolis, Cruz sacou, digamos assim, um coelho da cartola: numa acção sem precedentes a esta distância da convenção, especialmente para um candidato que não lidera a corrida, anunciou Carly Fiorina como sua escolha para candidata a Vice-Presidente, no caso de ser ele o nomeado republicano.

 

É fácil classificar esta iniciativa como "desesperada" (o que não quer dizer que o não seja, claro), mas será mais interessante tentar analizar-se o que Fiorina poderá trazer ou não à campanha de Cruz. Foi CEO da Hewlett-Packard (com um desempenho sobre o sofrível, segundo muitas opiniões), candidata derrotada ao Senado pela Califórnia em 2010 (estamos, contudo, a falar de um estado cada vez mais dominado pelos democratas) e foi um dos inúmeros candidatos republicanos no início das primárias deste ano. Nos debates, deixou boa impressão e foi um dos primeiros republicanos a atacarem Trump seriamente (também tinha sido uma das primeiras vítimas da língua viperina do bilionário novaiorquino, diga-se). Debate bem, tem uma visão positiva das coisas e é conservadora. Mas, tirando uns breves instantes depois dos primeiros debates em que participou, a sua popularidade nunca foi grande, e acabou por desistir depois de um desempenho fraco no New Hampshire. Em Março declarou o seu apoio a Ted Cruz, e desde então tem feito campanha pelo senador do Texas. E, claro, é mulher e é da Califórnia, e isso decerto terá pesado na decisão de Cruz, embora o peso de Fiorina no eleitorado californiana seja duvidoso.

 

Não creio que esta escolha possa ter algum peso importante na primária do Indiana, mas é possível que, apesar de tudo, algum venha a ter na da Califórnia, a 7 de Junho. Além disso, se Cruz for o nomeado republicano, Fiorina poderá ser útil na campanha contra Hillary Clinton, que poderá atacar sem correr o risco de imediatamente receber como resposta o epíteto de "sexista".

 

Richard Nixon, um homem que sabia muito destas coisas, disse um dia que um candidato vice-presidencial pouco pode favorecer uma candidatura presidencial, mas em contrapartida, pode prejudicá-la grandemente. Não me parece que Fiorina possa vir a cair na segunda categoria, mas quanto à primeira, estou com Nixon. Mas, essencialmente, a oportunidade da sua escolha tem em vista o que resta das primárias e a luta pela nomeação.


21
Out 15
publicado por Alexandre Burmester, às 15:38link do post | comentar | ver comentários (2)

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Em todos, ou quase todos, os ciclos eleitorais presidenciais nos EUA surgem candidatos não tidos por favoritos que dominam durante um certo período de tempo as sondagens do respectivo partido. Há quatro anos, por exemplo, tal sucedeu, no campo republicano, com a congressista Michelle Bachman e com o antigo "speaker" da Câmara dos Representantes Newt Gingrich. Há oito anos, o antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani ocupou essa posição durante largos meses. Todos acabaram por "desaparecer".

 

Daí que, perante a persistente posição cimeira do excêntrico e extravagante não-político Donald Trump muitos tenham vaticinado que essa bolha estouraria em devido tempo. Mas sucede que estamos agora a pouco mais de três meses dos "caucuses" do Iowa e da primária de New Hampshire, os tiros de partida na campanha oficial, e Trump permanece no topo das preferências republicanas, se bem que com menos percentagem que há uns meses e com outro "rebelde", o antigo neurocirurgião pediátrico Ben Carson, perto dele (27%/21% na actual média do site realclearpolitics.com, com o Senador Marco Rubio num distante terceiro lugar com 9%).

 

Muitos analistas e estrategas começam a ponderar seriamente a possibilidade de Trump durar para lá do início das primárias e até - quem sabe! - disputar a nomeação. Eu continuo a achar que a nomeação republicana acabará por decidir-se entre os dois candidatos da Florida, o Senador Rubio e o ex-Governador Jeb Bush, filho e irmão dos dois anteriores presidentes do mesmo nome.

 

Além de Trump e Carson, também a ex-CEO da Hewlett-Packard Carly Fiorina, que já em 2010 se candidatou, sem sucesso, a Senadora pela Califórnia, faz parte deste grupo de não-políticos em destaque entre o numeroso grupo de candidatos republicanos (uns quinze actualmente, depois das desistências do Governador do Wisconsin Scott Walker e do ex-Governador do Texas Rick Perry), embora Fiorina tenha vindo a perder gás, por assim dizer.

 

Como explicar esta popularidade de candidatos de fora do espectro partidário no campo republicano? Uma explicação por alguns avançada é a de que estamos perante uma crise de sucesso do Partido Republicano. Efectivamente, talvez nunca, ou raramente, o partido do elefante tenha exercido tanto domínio na cena política americana: 54 dos 100 senadores, 247 dos 435 membros da Câmara dos Representantes (a sua mais larga maioria desde 1928!) e 31 dos 50 governadores estaduais. Falta, portanto, apenas a Casa Branca. Perante isto, as bases mais conservadoras (alguns diriam "radicais") acham legítimo pensar que as suas políticas mais caras sejam postas em prática, mas vêem essa expectativa frustrada por aquilo que consideram ser a excessiva acomodação dos legisladores republicanos uma vez chegados a Washington. Daí as inúmeras revoltas que nos últimos anos têm ocorrido a nível de primárias do partido em eleições para as duas câmaras do Congresso, e daí, também, a popularidade dos candidatos anti-establishment na actual campanha. Surgiu até, entre as bases republicanas mais aguerridas, o acrónimo RINO ("Republican in name only") para classificar aqueles republicanos que essas bases consideram não serem fiéis aos princípios básicos que elas defendem.

 

O Partido Republicano tem a fama - e o proveito - de, na hora da verdade, escolher praticamente sempre o candidato com mais possibilidades de vencer. Mas uma coisa também não deve perder-se de vista: em sondagens com vista à eleição geral, Donald Trump tem também surgido bem posicionado face à provável (hesito cada vez mais em usar este adjectivo neste caso, mas isso é outro assunto) candidata democrática Hillary Clinton, embora aí Carson e Bush tenham melhores números que ele.

 

Não faltam muitos meses para termos respostas concretas a estas questões.

 

 

Foto: Donald Trump e Ben Carson

 


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