Barack Obama no discurso inaugural anunciou uma nova era nas leis que regulam o acesso às armas, onde prometeu ir mais longe do que nunca. Sem nunca colocar em causa a 2ª Emenda, garantiu que iria colocar todo o peso da presidência nesta questão. Nestes primeiros meses do seu mandato, fez discursos, mandou recados ao congresso e encenou uma verdadeira batalha política contra o lobby das armas, os republicanos e todos aqueles que se recusaram a apoiar as suas propostas. E não se inibiu de utilizar as famílias da vítimas do massacre de Newtown para tentar angariar apoio do povo americano. Mas Washington é uma cidade de leis, de vícios e de guerrilhas e nada é fácil. E Obama devia saber os limites da Presidência para impor legislação que não é popular entre os senadores e congressistas (que nem sempre corresponde à população geral). Tendo o Partido Republicano maioria na Câmara dos Representantes e uma minoria antifillibuster no Senado, qualquer legislação a ser votada teria que ter o apoio de alguns republicanos e manter totalmente em controlo os democratas. Pois bem, ontem foi a votos uma legislação (mesmo assim minimalista tendo em conta as propostas iniciais de Obama) e não passou.
Se do lado republicano, até conseguiu alguns senadores, apesar de escassos, como John McCain, Susan Collins, Mark Kirk e Pat Toomey, que promoveu a lei juntamente com o democrata Joe Manchin, do lado democrata verificaram-se algumas deserções, como os senadores democratas Mark Pryor do Arkansas, Heid Heitkamp do Dakota do norte, Mark Begich do Alaska. A lei, entretanto reprovada, iria aumentar o controlo sobre o acesso às armas através de um processo universal de verificação do cadastro. Na semana passada, depois do conservador republicano Pat Toomey, eleito com o apoio do Tea Party na Pensilvânia em 2010 ter-se juntado ao democrata conservador da West Virgínia, Joe Manchin, para patrocinar a lei, chegou a pensar-se que teria hipótese de sucesso. Mas ontem a realidade foi bem diferente: 40 republicanos e 4 democratas inviabilizaram a lei, que necessitava de 60 votos para ser aprovada. As restantes propostas do Presidente Obama, como por exemplo a proibição de vendas semi-automáticas, também não passaram no Senado.
Barack Obama reagiu com violência verbal a esta derrota legislativa, mas a verdade é que o voto de ontem coloca em cenário improvável qualquer aprovação significativa nesta área até às eleições intercalares de 2014. Este será um tema de campanha, e, por diferentes motivos, poderá condicionar várias eleições para o Senado. Sempre pensei que Obama estaria a ser demasiado ambicioso com a sua agenda na legislação das armas, porque a oposição em Red States e até mesmo em swing-states seria sempre grande. Resta saber como Obama tentará reverter a seu favor a derrota política que ontem teve no Senado. Segue-se a reforma da Imigração, onde sempre pensei que Obama tem grandes hipóteses de sucesso. E aqui o seu maior aliado é um republicano, Marco Rubio, que já trabalha a pensar em 2016.