Em todas as campanhas eleitorais há momentos decisivos que ficam para a história. E ao contrário do que sucede na Europa, as campanhas negativas e/ou erros próprios costumam ser muito relevantes para o desfecho final. Em 1988, a campanha de Michael Dukakis, que chegou a ter uma liderança de 20 pontos sobre George H. Bush, desabou depois de dois momentos particularmente penosos: o anúncio de Willi Horton de Lee Atwater, que já referi aqui e uma photo op de Dukakis em que este aparecia ao lado de um tanque. Em 1992 a campanha de Bill Clinton conseguiu com sucesso caracterizar o Presidente Bush como desligado da realidade económica do país. A famosa expressão "It´s the economy, stupid" de James Carville foi o momento em que os americanos perceberam que deviam mudar de presidente. Em 2004, os ataques que John Kerry sofreu da máquina republicana, especialmente os anúncios destrutivos dos Swift Boat Veterans for Truth, bem como os seus flip-flops, foram determinantes para a vitória de George W. Bush. Já em 2008, quando depois da convenção republicana John McCain apareceu a liderar as sondagens, a crise do Lehman Brothers rebentou, a resposta de McCain, que suspendeu a campanha para regressar a Washington, foi considerada pelos eleitores como uma manobra eleitoral de quem não tinha, de facto, solução para os problemas económicos. A partir daí, nunca mais a vitória de Obama esteve em causa.
Com um relógio noticioso de 24 horas, alimentado pela Internet, pelos canais de cabo, e pelas redes sociais como o Twitter, essa procura do "momento" decisivo tem sido uma constante por parte das candidaturas. Neste ciclo eleitoral, onde os episódios, os ataques ou os erros de cada um dos lados vão-se sucedendo em catadupa, cada campanha está sempre à procura de motivos para tentar definir o seu adversário. Sempre disse que, exceptuando a eventualidade de erros (colossais) não forçados por parte das duas campanhas ou de factores extraordinários que aconteçam até Novembro, esta eleição vai decidir-se de dois modos: se for sobre o mandato de Obama e a crise económica, Romney será provavelmente eleito Presidente. Se Obama conseguir com sucesso apontar baterias para Romney e caracterizá-lo aos olhos dos americanos como inelegível, conseguirá manter-se por mais quatro anos.
Hoje Barack Obama iniciou uma série de ataques a Mitt Romney pelo seu passado na Bain Capital, onde teve sucesso empresarial e fez fortuna. Nas primárias republicanas, os adversários de Romney tentaram sem sucesso implementar estratégia, até porque o eleitorado republicano é menos adverso ao capitalismo e ao discurso contra os empresários. Mas já era de esperar que este tipo de ataques surgisse em força por parte de Obama. Um anúncio que está a ser transmitido em vários swing-states, juntamente com um site são as ferramentas principais de Obama nesta fase. Talvez seja cedo demais, mas a estratégia de Obama parece ser óbvia: começar desde já a tentar definir Romney como um empresário ganancioso que só teve sucesso à custa da desgraça dos trabalhadores e dos despedimentos. Uma jogada que me parece correcta por parte da campanha Obama, mas que também contém riscos. Se fosse na Europa, tenho poucas dúvidas que este tipo de ataques teria muito sucesso. O eleitorado independente americano, a quem esta campanha negativa se dirige, é normalmente bastante compreensivo para o capitalismo, mas nesta época de crise nunca se sabe. Será interessante analisar o ritmo das sondagens nas próximas semanas e saber qual o impacto que terá no eleitorado independente dos swing-states. O modo da resposta da campanha de Romney, que a partir de agora se irão multiplicar nos meios de comunicação sociais e na Internet, será também determinante. Se Romney conseguir estancar esta ofensiva, terá dado um passo essencial para ter possibilidades de vencer em Novembro.