Infelizmente, os cronistas de maior audiência em Portugal são profundamente ignorantes acerca da política americana. O que não os coíbe de se manifestarem sobre o tema, como qualquer bom "tudólogo" deve fazer. Os disparates tornam-se portanto frequentes. Que o diga Miguel Sousa Tavares, que afirma, entre várias tolices, ser desejo da dupla Romney/Ryan "fazer a guerra aos árabes, russos, chineses e aos pretos", proibir o aborto até mesmo em caso de violação, extinguir o IRS para os mais ricos e defender "o direito inalienável de todos os cidadãos andarem armados e dispararem livremente". Até dava para rir, se não fosse sério.
Ontem à noite, Marcelo Rebelo de Sousa resolveu juntar-se à festa e alinhar na lógica do comentário desinformado. Dizia o Professor que a Convenção Democrata tinha sido um insucesso e que correra francamente mal a Obama em particular ("que está uma sombra" do que foi), prevendo que a Convenção tenha um impacto nulo nas eleições. Curioso. A maioria dos comentadores elogiou a Convenção Democrata. O público americano gostou da Convenção, que teve maiores audiências do que a Republicana. Todas as sondagens mostram uma subida de Obama durante e após a Convenção. Nate Silver, um dos maiores especialistas eleitorais americanos, escreveu, ainda no Sábado, que a Convenção Democrata pode mesmo ter marcado um momento decisivo na campanha, catapultando Obama para a condição de "claro favorito" (front-runner).
Mas o que interessa tudo isto? Todas estas sondagens, comentários e dados estatísticos? Marcelo acha que não correu bem. E se Marcelo acha que não correu bem, quem se atreve a dizer o contrário? Como bem dizia o saudoso Gore Vidal, "the biggest problem of our time, is that everyone has an opinion, but nobody has a thought".