1. Surpreendeu-me o discurso pela sua abrangência. Na verdade, deu para recordar os feitos alcançados no primeiro ano (cortes de impostos para a classe média, estabilização do sistema financeiro, aposta na educação), regressar a temas importantes da sua campanha presidencial ("reformar Washington", apelar à cooperação bi-partidária) e ainda apresentar um vasto conjunto de prioridades para o próximo ano (combate ao desemprego, medidas de incentivo para pequenas e médias empresas, etc.).
2. Obama apontou ao centro, mas de uma maneira curiosa: ora falando para a sua base, ora piscando o olho à Direita. Por um lado, insistiu em temas tipicamente Republicanos (apoio aos pequenos negócios, combate ao défice, reforço da segurança interna, até mesmo defesa da energia nuclear e da exploração petrolífera!). Por outro, tranquilizou as hostes Democratas, sublinhando a necessidade de taxar os lucros bancários, avançar com maior regulamentação ambiental, prosseguir com a reforça do sistema de saúde e lutar contra a discriminação dos homossexuais no exército.
3. Embora preferindo um tom conciliador, Obama adoptou porém uma linguagem dura nalgumas matérias. Recordou aos Republicanos as suas responsabilidades no quadro político americano (criticando o seu obstrucionismo) e lembrou aos Democratas que a proximidade de um ciclo eleitoral difícil não justifica o abandono cobarde das suas prioridades políticas, mesmo que impopulares. Por outro lado, o Presidente lançou ainda uma curiosa - e rara - crítica ao Supremo Tribunal, pela decisão de revogar a Lei McCain-Feingold (que controlava o financiamento das campanhas eleitorais).
4. Na política externa, poucas surpresas. É de esperar o reforço das relações diplomáticas e económicas com a Rússia e a China, e o progressivo isolamento do Irão e da Coreia do Norte. Obama comprometeu-se ainda a "vencer" no Afeganistão e a garantir que as tropas de combate deixarão o Iraque até Agosto (veremos como o consegue fazer sem provocar um banho de sangue).
5. Foi globalmente um discurso interessante e bem apresentado, com uma variedade suficiente para agradar a diversos sectores. Terá cumprido o objectivo de estancar as críticas mais severas e conferir um novo fôlego a uma governação ainda desequilibrada. Mas foi só um discurso.