E depois das primárias de ontem, em cinco estados do Nordeste, tudo parece ir depender do Indiana, mais para os opositores de Donald Trump que para ele próprio, diga-se
Os resultados no campo republicano no Connecticut, Delaware, Maryland, Pensilvânia e Rhode Island não fugiram ao previsto, embora, tal como na semana passada em Nova Iorque, Trump tenha excedido as percentagens previstas. E confirmou-se a maioria dos votos nos cinco estados, à semelhança de Nova Iorque, que tinha sido o primeiro estado onde tal ele conseguira. O bilionário novaiorquino conseguiu entre os 54% de votos (Maryland) e os 64% (Rhode Island). Nesta altura das primárias, estes números não são invulgares, sendo até por vezes excedidos, sendo sempre, contudo, de assinalar. Sucede que, este ano, as características sui generis, digamos assim, do candidato que lidera a corrida republicana tem feito com que o eleitorado demore a coalescer no apoio a ele.
Do ponto de vista estrito da aritmética, Trump não prejudicou, obviamente, as suas possibilidades de vir a alcançar a maioria dos delegados, mas também não as melhorou significativamente. As suas vitórias nos estados que ontem votaram tinham sido basicamente tomadas em consideração nos cálculos de Nate Silver do site analítico FiveThirtyEight sobre o número de delegados que ele precisa de ir angariando para atingir essa maioria. Está agora ligeiramente à frente dos números que precisa de ir alcançando, e recuperou dos danos que sofrera em Wisconsin e Colorado.
E é aqui que entra o Indiana, que vota no próximo dia 3, e onde estão em disputa 57 delegados, atribuídos na totalidade ao vencedor(es) no estado (30) e nos seus nove círculos eleitorais (3 por círculo, num total de 27). Há duas semanas, tudo indicava que Ted Cruz venceria o estado. As poucas sondagens entretanto realizadas dão uma curta vantagem a Trump, e daí, muito provavelmente, o motivo do recente pacto entre Cruz e John Kasich, dando ao primeiro um caminho mais livre para a vitória. Esta tornou-se agora imperativa para o senador pelo Texas. Para Trump, uma derrota não será necessariamente definitiva, mas dificultará bastante o seu caminho para os 1.237 delegado, podendo inclusivamente indicar dificuldades em estados como o Nebrasca, que votará mais tarde no mês de Maio.
Uma incógnita saída das eleições de ontem é o que farão os 54 delegados não-vinculados eleitos na Pensilvânia, estado que tem um modelo de selecção de delegados que difere bastante dos restantes, pois apenas 17 dos seus 71 delegados ficam vinculados (e Trump ganhou-os todos). Estes 54 militantes republicanos poderão vir a ter uma decisiva palavra sobre se haverá ou não maioria de Trump na convenção.
Finalmente, no que respeita aos republicanos, a velha questão da "dinâmica" da campanha (o famoso "momentum"). Trata-se de um naco de sabedoria convencional, basicamente, mas a verdade é que, este ano, tal dinâmica tem sido ilusória: já houve momentos em que Trump parecia imparável, para pouco tempo depois sofrer reveses, dos quais, como nestas duas semanas, viria a recuperar. Não me parece, portanto, que, pelo menos este ano, a dinâmica seja um factor muito importante, dadas as características muito especiais desta disputa republicana. Acresce que, tanto ontem como em Nova Iorque, a afluência republicana foi mais baixa do que tinha sido até aqui, o que poderá muito bem significar que parte do eleitorado anti-Trump, já ciente das inevitáveis vitórias deste, ainda por cima em estados que, na sua maioria, atribuíam os delegados todos ao vencedor, terá ficado em casa. Ora este factor não se aplicará no Indiana, onde a luta promete ser renhida e a afluência deverá retomar níveis anteriores.
Quanto aos democratas: Hillary Clinton venceu quatro dos cinco estados (a excepção foi Rhode Island) e prossegue o seu paulatino caminho para a nomeação. Não há qualquer dúvida plausível sobre quem será o candidato do partido simbolizado pelo burro. Isso não impedirá, contudo, o combativo Bernie Sanders de continuar na corrida.
* Com permissão de R. Dean Taylor