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Mar 16
publicado por Nuno Gouveia, às 22:37link do post | comentar

 

A nomeação de Donald Trump ainda não é uma realidade, mas depois dos resultados que já obteve e das sondagens conhecidas, é difícil encontrar um cenário em que não seja ele a acumular mais delegados até Junho. Aliás, o cenário de outro candidato atingir os delegados necessários para obter a nomeação antes da convenção é quase impossível. A única forma de impedir Trump de ser o nomeado republicano na Convenção de Cleveland será impedir que ele atinja os 1237 delegados e partir para uma "Brokered Convention". Neste cenário, caso nenhum dos candidatos atinja esses votos na primeira votação, voltaria a repetir-se a votação, mas já sem a obrigação das delegações votarem conforme os resultados eleitorais das primárias. Esse é o cenário mais plausível (e mesmo assim, pouco provável) de derrotar Trump.

 

É com este cenário que começa-se a formar-se um bloco conservador anti-Trump, apelando ao voto nos restantes três candidatos - Marco Rubio, John Kasich e Ted Cruz. Hoje Mitt Romney, anterior nomeado republicano, discursou perante o povo americano (os canais noticiosos cobriram em direto a sua intervenção), fazendo um apelo ao voto nos três candidatos, mediante o estado em disputa. Num emotivo e duro discurso, Romney repetiu alguns argumentos populares na direita americana contra Trump, alertando para os riscos que o movimento conservador americano incorrerá caso Trump seja o nomeado. Romney afirmou que Trump é uma "fraude" que tenta fazer dos americanos parvos e que uma vitória sua colocaria os Estados Unidos em risco, criando uma guerra comercial e fazendo entrar o país em recessão. Não deixou de atacar também o carácter xenófobo e misógino de Trump, dando os exemplos dos ataques aos mexicanos, aos muçulmanos e às mulheres. Romney afirmou mesmo que a integridade e a decência da democracia americana está em causa nestas eleições. Minutos depois, John McCain, nomeado republicano em 2008, disse que concordava com Romney e apelou à derrota de Trump.

 

Vários republicanos já afirmaram em público que nunca irão votar em Trump nas eleições gerais. Alguns eleitos, como o Governador do Massachusetts, Charlie Baker e o Senador do Nebraska, Ben Sasse, diversos congressistas e antigos governadores, como Tom Ridge da Pensilvânia e Christine Todd do New Jersey e algumas personalidades dos media, como Glenn Beck, Bill Kristol, Erick Erickson ou Peter Wehner. E depois da intervenção de Romney, será virtualmente impossível que ele não se junte ao movimento criado nas redes sociais #NeverTrump. Parece-me que esta revolta que temos assistido nas últimas semanas tem tido o efeito de suster o crescimento de Trump. Apesar de tudo, tem tido melhores sondagens do que resultados e na Super Terça-Feira apenas teve 35% dos votos, enquanto as sondagens apontavam para resultados bem melhores. Mas a falta da união na frente anti-Trump tem-lhe permitido ganhar e provavelmente irá continuar a ganhar. Diria que esta revolta devia ter aparecido antes das eleições começarem, pois parece-me que agora é tarde para parar Trump. 

 

O que isto significa para o Partido Republicano? O cenário mais provável neste momento é uma nomeação de Trump, com um clima de guerra civil dentro do partido. Mesmo que muitos dos que se têm oposto publicamente (ou nos bastidores, como o Speaker Paul Ryan e o Líder da Maioria no Senado, Mitch McConnell) acabem por declarar o seu apoio a Trump mais lá para frente, será um partido profundamente dividido que enfrentará Hillary Clinton. Caso venhamos a enfrentar uma "Brokered Convention", os apoiantes de Trump irão criar um clima de guerrilha nas ruas de Cleveland, que já há muitos a recordar os tumultos de 1968 na Convenção Democrata de Detroit. Hillary Clinton tem bons motivos para sorrir perante este caos no Partido Republicano.


Acho que nessa altura uma candidatura independente já não conseguiria estar nos 50 estados.
Nuno Gouveia a 5 de Março de 2016 às 15:50

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