O Partido Republicano tinha (e ainda tem) tudo para vencer as eleições presidenciais de 2016. Primeiro, por razões históricas: nas últimas décadas, apenas uma vez, em 1988, um partido que ocupou a Casa Branca após oito anos conseguiu eleger um novo Presidente, quando George H. Bush derrotou Michael Dukakis. Mesmo após mandatos considerados de sucesso, como foram os casos de Ike Eisenhower ou de Bill Clinton, os partidos opostos saíram vencedores das eleições. Segundo: a fraqueza do adversário. Como se viu no recente debate do Partido Democrata, Hillary Clinton é a única candidata viável. Mas após diversos escândalos revelados dos últimos meses, a popularidade de Clinton perante o eleitorado americano caiu a pique, e temos até algumas sondagens a indicar que até para Donald Trump poderia perder as eleições (não acredito nisto, pois num confronto entre os dois, Hillary sairia facilmente vencedora). Sendo a superfavorita do lado das primárias democratas, poderá, no entanto, entrar na campanha para as eleições gerais muito fragilizada.
Mas porque é que está numa encruzilhada? A resposta não é simples, mas o facto de Donald Trump estar a liderar as sondagens nacionais e, muito mais importante, nos primeiros estados a irem a votos (Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul), é o mais grave sintoma dessas dificuldades. Nos últimos anos, a radicalização do Partido Republicano já deixava antever que nestas primarias poderia aparecer um forte candidato contra o mainstream republicano. As apostas iam sobretudo para os senadores do Texas, Ted Cruz e do Kentucky, Rand Paul. Mas após as vitórias retumbantes nas eleições intercalares de 2010 (onde recuperaram a Câmara dos Representantes) e de 2014 (obtiveram a maioria no Senado), a base republicana mais radical, tem manifestado uma insatisfação brutal perante os seus líderes de Washington, por não conseguirem apresentar os resultados. Esquecem-se que, pela própria organização do sistema político delineado pelos Pais Fundadores, ninguém com 2/3 do poder consegue fazer tudo o que deseja: é fundamental ter o apoio do Presidente. Além que algumas das suas exigências não são sequer aceitáveis.
Mas nestes tempos de radicalismo irresponsável, onde os novos media digitais e as televisões amplificam a mensagem radical, pouco interessa em saber se os republicanos de Washington podiam ou não fazer mais. O que interessa é que não apresentam os resultados desejados. Com candidatos que noutros tempos seriam considerados boas opções para a Casa Branca, como Jeb Bush, Marco Rubio, John Kasich ou até o já desistente Scott Walker, quem lidera as sondagens são dois outsiders: Ben Carson e Donald Trump. Acredito que ambos seriam facilmente derrotados numas eleições gerais contra Hillary Clinton, pois não têm experiência política e, principalmente, defendem coisas inacreditáveis. Dois exemplos: Trump quer expulsar 11 milhões de ilegais. Carson chegou a dizer que um muçulmano não poderia ser Presidente segundo a Constituição. Para alegrar a base mais radical do Partido, apelam a sentimentos xenófobos e perigosos para os Estados Unidos. Este tipo de sentimentos não obteria o voto de mais de 50% dos americanos.
O que pode ou deve acontecer? Desde 1964 que o Partido Republicano nomeia o melhor candidato para as eleições gerais, como referiu o Alexandre no post anterior. A excepção desse ano foi Barry Goldwater que foi "arrasado" nas urnas por Lyndon B. Johnson. Até 2012, os republicanos escolheram sempre o candidato mais viável e apoiado pelo establishment republicano. Neste momento, e a pouco mais de três meses dos caucuses do Iowa (recordo que a primeira eleição é apenas em Fevereiro), a menos que haja alguma reviravolta, apenas estão na corrida dois nomes viáveis (Kasich ou até Christie não terão força para chegar lá): Marco Rubio e Jeb Bush, sendo que este último passa por grandes dificuldades para manter viabilidade financeira na sua candidatura. Se o nomeado for um destes, a regra não escrita desde 1964 irá manter-se (e é o que acredito que irá acontecer). Mas caso o GOP escolha Donald Trump, Ben Carson ou até Ted Cruz, o mais certo é termos um verdadeiro passeio dos Democratas e uma crise aberta no seio dos republicanos de proporções épicas. Mas isto é um aviso: os moderados, também nos Estados Unidos, estão fora de moda.