O actual líder da corrida à nomeação republicana está a deixar Washington num estado de nervos. A quatro semanas dos caucuses do Iowa, Newt lidera todas as sondagens no estado do Midwest e o tempo é cada vez menor para o abater. Os democratas alegram-se com a possibilidade de enfrentar uma velha cara dos anos 90, enquanto os republicanos assustam-se com a possibilidade de o ter como nomeado do seu partido. Na verdade, Newt Gingrich conseguiu o incrível de estar a concorrer pela plataforma conservadora e populista do partido, explorando o forte sentimento anti-Washington na base conservadora, apresentando-se neste momento como o candidato outsider do sistema político. Mas como é que um político que chegou à Câmara dos Representantes em 1979, tendo estado durante vinte anos como representante do sexto distrito da Geórgia, Speaker durante quatro anos, e tendo sido na última década representante de diversas empresas, nomeadamente da entretanto caída em desgraça Freddie Mac, conselheiro da Administração Bush e ainda autor de diversas campanhas nacionais ao lado de figuras como Nancy Pelosi ou Al Sharpton? Isto só é possível com uma conjugação de factores, uns por responsabilidade de Newt, mas principalmente devido ao ambiente que se vive no movimento conservador americano.
Desde que anunciou a sua candidatura, na Primavera passada, Newt tem vindo a posicionar-se como o candidato das ideias conservadoras. O intelectual na corrida. Tendo escrito diversos livros nas últimas décadas, Newt é um profundo conhecedor da história americana. E percebeu que em tempos de crise, uma figura carismática como ele poderia granjear apoio no eleitorado republicano. Não se deixou abater quando em Junho a sua campanha desabou, com os seus assessores a demitirem-se em bloco, e continuou a participar nos debates da melhor maneira que sabe: com substância e conhecimento dos dossiers. Com algumas tiradas bombásticas (um dos seus maiores defeitos), foi ganhando simpatia de alguns conservadores desavindos com o leque de candidatos, e conseguiu posicionar-se como o intelectual na corrida. Algo que muitos dos seus adversários contestam. Não teve receio de enfrentar de frente as suas posições do passado mais controversas, e foi mantendo-se à margem dos diferentes despiques que foram surgindo entre os seus colegas republicanos. Sem máquina de campanha nem dinheiro, Newt ascendeu à liderança das sondagens depois da queda abrupta de Herman Cain.
E aqui reside talvez a verdadeira razão do sucesso (até ver) de Newt. Com um leque de candidatos fraco, desde o inicio se desenhou que alguém teria de assumir a bandeira anti-Romney, o favorito à nomeação do establishment republicano. E os eleitores foram testando outras hipóteses. Primeiro Michele Bachmann, depois Rick Perry e finalmente Herman Cain. Mas nenhum destes candidatos se mostrou capaz. Um atrás do outro foram sucumbindo à pressão de uma campanha exigente, e rapidamente se percebeu que não tinham condições para enfrentar Barack Obama. E, testados todos os possíveis nomes, restou Newt Gingrich, que se mantinha no mesmo sitio desde o inicio da campanha. Foi infiel no seu casamento? Trabalhou como lobista da Freddie Mac? Andou em campanhas nacionais com Nancy Pelosi a favor do aquecimento global? Ou a favor de uma reforma na educação com Al Sharpton? Recentemente entrou em conflito com a jovem estrela republicana Paul Ryan por causa da reforma da segurança social? Neste momento tudo isso parece não interessar, pois o seu nome não é Mitt Romney, o moderado na luta pela nomeação (isto porque Jon Hutnsman parece não ter hipótese).
Continuo a acreditar que Mitt Romney continua a ser o mais provável nomeado, e no final, o dinheiro, os apoios e a elegibilidade acabarão por fazer a diferença. Mas as coisas já estiveram bem mais fáceis para ele. Até porque Newt Gingrich não é nenhum Herman Cain ou Rick Perry. Tem qualidades políticas inatas e sabe do que fala. Mesmo quando exagera.