Esta é a terceira avaliação que faço do mandato de Barack Obama. Primeiro foram os 100 dias, depois o aniversário da sua eleição, e agora o ano completo de mandato. A agenda mediática é tramada para datas, e eu, como não consigo fugir dela, deixo aqui algumas impressões sobre o primeiro ano de Barack Obama na presidência americana. Um pouco contrariado diga-se, porque na verdade, ao avaliar o trabalho de um ¼ do mandato, poderei ser pouco rigoroso, e facilmente desmentido daqui a alguns meses. Quando Ronald Reagan completou um ano na Casa Branca, os seus níveis de aprovação eram apenas ligeiramente superiores aos de Barack Obama, e estou certo que na altura terão aparecido muitos profetas da desgraça a condenar a sua Administração, que viria a ser considerada como uma das mais bem sucedidas do século XX. Hoje ninguém se lembra desses problemas. A outra dificuldade que encontro é tentar escrever um post abrangente, o que seria condenado ao fracasso, tantas foram as áreas e problemáticas que afectaram o mandato de Obama até ao momento. Optei por centrar-me nas principais razões das dificuldades que a Administração enfrenta. Que, diga-se, são muitas.
Na altura em que escrevo este texto ainda não sei dos resultados da eleição especial para preencher o lugar no Senado de Ted Kennedy. Mas mesmo que o republicano Scott Brown não vença a eleição no Massachusetts, o facto desta eleição ser disputada é a prova das imensas dificuldades de Obama ao fim de um ano. Numa eleição em que os assuntos discutidos foram essencialmente nacionais (reforma da saúde, economia e segurança nacional), e mesmo apesar da fraca prestação da candidata democrata, esta eleição será considerada por muitos como um referendo às politicas seguidas pelos democratas. Isto no estado provavelmente mais à esquerda dos Estados Unidos, e que não elege um republicano para o senado desde 1972. Parece-me evidente que algo correu mal a Obama neste primeiro ano. Os motivos? Vários, e nem todos da responsabilidade da Administração, mas centram-se especificamente nas opções de política interna.
A grande promessa da campanha de Obama foi “change”. Algumas coisas mudaram nos Estados Unidos, mas a verdade é que os americanos não se revêem nessas mudanças. Ainda. E talvez por isso, o presidente chega ao fim do primeiro ano com os índices de popularidade mais baixos da história americana neste período. A grave crise económica que recebeu do mandato de George W. Bush agravou-se, e dificilmente isso poderá ser atribuído à sua responsabilidade. Mas também é verdade que Obama prometeu aos americanos que o seu plano de estímulo à economia iria impedir que a situação continuasse a agravar-se. E as expectativas saíram goradas. Esta parece-me ser a principal razão para a queda de Obama nas preferências dos americanos: expectativas extremamente elevadas que dificilmente seriam cumpridas. E não foram. E depois a outra promessa subjacente a toda a estratégia presidencial de Obama: mudar a forma de fazer politica em Washington. As guerras entre democratas e republicanos das duas últimas décadas iriam dar lugar a um novo bipartidarismo, liderado a partir da Casa Branca. Não negando responsabilidades aos republicanos, que têm feito uma oposição de terra queimada em relação às maiorias esmagadoras democratas nas duas câmaras do Congresso, Obama também não tem tido a capacidade ultrapassar essas divisões. Ao entregar a direcção das principais iniciativas legislativas a Nancy Pelosi e Harry Reid, dois dos políticos mais à esquerda da politica americana, Obama condicionou as hipóteses de sucesso dessa promessa. Mas mais grave ainda, não mudou a forma de fazer politica em Washington: as negociatas por baixo da mesa continuam, como se verificou na “compra” dos votos dos senadores democratas do Arkansas e Nebraska na Healh Care Bill. E isto tem causado enorme frustração às pessoas, o que tem sido sabiamente orientado pelos opositores republicanos, que têm demonstrado enorme habilidade em explorar as fragilidades e contradições da agenda democrata.
2010 será marcado pelas midterms, e os republicanos neste momento são os grandes favoritos. Observado o exemplo do Massachusetts, estas arriscam-se a ser humilhantes para Obama e para o Partido Democrata. Os estrategas de Obama deverão estar a equacionar uma viragem ao centro nas suas politicas. Os Estados Unidos são um país maioritariamente de centro-direita, e governar demasiado à esquerda poderá ser suicida para Obama. Veremos se irá haver uma inflexão a partir desta eleição do Massachusetts, que verdadeiramente marcou o inicio do Ano II de Obama na Casa Branca.