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Jan 10
publicado por Nuno Gouveia, às 16:08link do post | comentar

Uma nota prévia: Barack Obama é um excelente orador e ontem, mais uma vez, fez um belo discurso. Dito isto, interessa lembrar que nem sempre um bom discurso é eficaz, e o de ontem tinha um objectivo claro: parar a sangria das sondagens desfavoráveis e dar o mote de partida para o ano eleitoral. Foram dados bastantes sinais, para tentar aplacar os críticos e motivar a base democrata. As sondagens das pessoas que ouviram o discurso indicam que a maioria gostou do que ouviu, e isso, por si, é um bom sinal para o Presidente.

 

Como era de esperar, Obama abordou maioritariamente assuntos da agenda interna, com a economia, a política ambiental e a reforma da saúde a dominarem a maior parte do tempo. Foi um discurso invulgarmente longo, onde Obama regressou ao tom da sua campanha presidencial. Muitas das passagens do seu discurso foram retiradas directamente de outros proferidos durante a campanha. Assumindo uma postura de liderança, falou para ambos os lados do espectro político. Comprometeu-se a aprofundar esforços no sentido de viabilizar a reforma da saúde, abordou sem dogmas a sua agenda ambiental e energética, mas também falou em cortes de impostos, em diminuir o défice e nas preocupações da classe médica, temas do agrado dos republicanos. Deixou críticas a ambos os partidos e abordou novamente um dos seus principais temas de campanha: o bipartidarismo. Estava dado o mote para as intercalares. Por fim, disse que irá propor o fim da limitação da participação dos gays no exército, com a revogação do “Don´t tell, Don´t Ask” de Bill Clinton. Esta medida irá certamente agradar os liberais, o que poderá ter sido uma boa jogada, depois da desilusão que vinha a tomar conta destes apoiantes.

 

A grande dúvida que suscita este discurso, e como já foi apontado pelos críticos republicanos, é que a acção da sua Administração no último ano foi contraditória com alguns dos princípios que ontem defendeu. A sua agenda foi claramente dominada pela ala esquerda do Partido Democrata, o Congresso esteve mais que nunca dividido em duas trincheiras, e a transparência que apregoou nem sempre foi uma realidade, como no caso das negociatas dos votos do Arkansas e Nebraska ou a promessa não cumprida de transmitir as negociações da reforma da saúde na C-Span. Se há um ano, o discurso baseava-se numa promessa de mudança, ontem renovada, agora existe um ano de trabalho para contrapor e o saldo não é completamente favorável. Resta saber se Obama irá, finalmente, conseguir impor a sua agenda, que ontem foi reafirmada, e apaziguar as criticas de que tem sido alvo. Uma tarefa monumental para a sua Administração.

 

Nota final para a resposta dos republicanos, que ontem esteve a cargo do recentemente eleito governador da Virgínia, Bob McDonnell. Estes são sempre discursos muito complicados, e nos últimos dois anos as respostas foram catastróficas. Na memória de muitos ainda estará a resposta de Bobby Jindal ano passado, que recebeu criticas generalizadas. Ontem, McDonnell esteve à altura, e conseguiu motivar os republicanos. Reafirmando os princípios conservadores, deu um bom pontapé de saída para sua carreira nacional. Ainda vamos ouvir falar muito deste politico.

 

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O que não é normal é um juiz do Supremo Tribunal quebrar a passividade com que os membros deste tribunal costumam assistir ao SOTU. Samuel Alito (nomeado por G.W. Bush) fê-lo ontem, ao abanar a cabeça e dizer "not true" quando ouviu as críticas de Obama em relação à decisão de acabar com as limitações às contribuições das empresas para campanhas políticas.

Outro facto curioso foi quando Obama anunciou o fim do "don't ask, don't tell" e os "joint chiefs" não aplaudiram, deixando bem clara a posição dos militares nesta questão.
João Luís a 29 de Janeiro de 2010 às 12:13

Caro João, não tenho a certeza que o silêncio dos militares tenha assim tanto significado, já que é tradição destes - tal como era dos juízes do supremo - não se pronunciarem sobre assuntos de política interna, inclusive de assuntos militares, reservando aplausos para os assuntos de politica externa onde estão directamente envolvidos (lei-se guerras). Li algo sobre este assunto, mas já não sei bem onde, por isso não ponho o link.
Mas Robert Gates aplaudiu, o que também quer dizer muita coisa.

Já agora, parabéns pelo seu excelente blog. Vai direito para a minha lista de leituras obrigatórias.
Vega9000 a 29 de Janeiro de 2010 às 17:45

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