26
Out 10
publicado por Nuno Gouveia, às 15:38link do post | comentar

Será que os Estados Unidos estão perto de rebentar? Os dois principais partidos políticos parecem acreditar que sim, a acreditar nas declarações exacerbadas de alguns dos seus representantes. Do lado republicano, temos os gritos e apelos que o país caminha para a irrelevância e para o socialismo. Suportados por uma base de apoiantes estridentes que se tem manifestado nas ruas e cidades americanas, muitos candidatos republicanos têm feito campanha como se os Estados Unidos estivessem perto do abismo. Do outro lado, surgem igualmente apelos enraivecidos para o perigo de uma vitória republicana: tudo estará em causa, e o país pode ser tomado por extremistas que pretendem colocar em perigo a própria democracia. Mas será que não haverá um exagero de parte a parte?


A situação é muito complicada, e grave crise que afecta o país parece ter transformado a realidade político/partidária num caos permanente. Não têm razão os republicanos quando pretendem transformar Barack Obama no único e principal responsável pela situação actual. Não é verdade que quando tomou posse, o país já estava mergulhado numa profunda crise e que o desemprego já era bastante elevado? Quem ocupou a Casa Branca nos oito anos anteriores? Também não é verdade que sejam os republicanos os únicos culpados. Não foi Obama que prometeu que a situação seria hoje bastante melhor se fossem aprovadas, como foram, todas as iniciativas legislativas que pretendia? E o Partido Democrata não é detentor da maioria nas duas câmaras legislativas desde 2006? Tenho alguma dificuldade em fazer leituras do que ambos os partidos têm feito. Em períodos eleitorais é normal que as posições se radicalizem e que cada lado perca um bocado do bom senso que seria aconselhável. Obama, que foi eleito sob a promessa de ser um Presidente acima dos partidos, falhou claramente nesse desígnio. Ainda ontem afirmava que ele tem um lugar para os republicanos na condução dos destinos do país; mas que esse lugar era no “assento de trás”. Será essa uma atitude de um Presidente que deseja trabalhar com os dois lados? A resposta do outro lado não tem sido melhor. O líder da minoria republicana no Senado disse esta semana que o principal objectivo do seu partido é fazer com que Obama seja um Presidente de um mandato só. Será que o objectivo não deveria ser melhorar a economia e o estado do desemprego?


Independentemente do que vá suceder no próximo dia 2 de Novembro, a polarização e a radicalização partidária não deve parar. Como percebemos nos últimos dois anos, os Estados Unidos vivem num estado de permanente campanha eleitoral, e essa sim, é uma das maiores dificuldades para a governação de um país. Já a partir de Janeiro irá começar a campanha para as primárias republicanas, e o clima de guerrilha não vai parar. Os republicanos dificilmente assumirão uma postura mais negocial com os democratas. Apenas se o forem obrigados: pela opinião pública ou pela mestria dos democratas. Será que Obama vai conseguir dar a volta à situação e começar a governar realmente acima das questões partidárias? Se falhou na promessa de gerir acima dos partidos na primeira parte do mandato, quem sabe se não muda de estratégia e convida alguns republicanos a sentar-se ao seu lado na frente do veículo da governação?



Como já aqui tive oportunidade de dizer, não estou a ver Obama a "virar" ao centro, "à la Clinton ". Ao virar ao centro, Clinton limitou-se a regressar ao lar paterno, digamos assim. Já Obama fez questão, na sua curta passagem pelo Senado, de não se associar à maior referência do centrismo democrático, o Democratic Leadership Council . Por essas e por outras, uma sua viragem ao centro não lhe está na massa do sangue.

A actuação de Obama nesta campanha poderá ser um sinal do que vai acontecer a partir de Janeiro, antecâmara das presidenciais de 2012: um Obama a tentar motivar e empertigar a sua base eleitoral de 2008 e tentar basear nisso a sua reeleição - rezando aos seus santinhos para que os republicanos nomeiem Sarah Palin.

No fundo Karl Rove fez escola: o fundamental, dizia ele, era mobilizar e garantir o voto dos "nossos". Mas essa estratégia tem mais possibilidades de resultar quando aplicada por republicanos, pois cerca de 40% dos americanos consideram-se "conservadores" mas apenas uns 20% se consideram "liberais.".
Alexandre Burmester a 26 de Outubro de 2010 às 19:16

"rezando aos seus santinhos para que os republicanos nomeiem Sarah Palin"

Essa poderá ser mesmo a salvação caso Obama não mude nada. Ele é um político, e por muito que isso não lhe esteja no sangue, a possibilidade de uma derrota irá obrigá-lo a mudar. Repare-se que Bush em 2004 ganhou mantendo mais ou menos os mesmos votos e trazendo de casa mais 3 milhões de votos de pessoas que normalmente não votavam: a direita religiosa. Mantendo o mesmo rumo, Obama não vai manter os votos de 2008, pois os independentes estão a fugir-lhe. Como dizes, não chega motivar a base liberal, muito menor que a conservadora.

Mark Halperin deixa aqui o mote, que basicamente, é utilizar a táctica Clinton:
http://www.time.com/time/politics/article/0,8599,2027296,00.html

Nuno Gouveia a 26 de Outubro de 2010 às 19:51

arquivos
2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


pesquisar neste blog