Qual a razão de Barack Obama ter-se transformado numa figura tão controversa na sociedade americana? Não haverá uma só razão e nem os especialistas chegam a um consenso. Mas há algumas ideias que são partilhadas por grande parte dos opinion makers americanos: a actual situação económica, agravada pelas impopulares reformas da saúde e pelo plano de estímulos. Não por acaso, Obama hoje é mais impopular em tradicionais swing states do que George W. Bush, como no Ohio, e no seu próprio estado, o Illinois, a sua popularidade ronda os 50 por cento.
A equipa económica de Obama, que não deve sobreviver caso uma hecatombe atinja os Democratas em Novembro, tirou mais um coelho da cartola: um novo plano federal de apoio à construção de infra-estruturas terrestres, no valor de 50 mil milhões de dólares. Não pretendo discutir os méritos da decisão ou sequer se irá melhorar a economia periclitante do país. Mas esta medida tem poucas hipóteses de passar no Congresso até Novembro. Uma das principais críticas que os americanos fazem a Obama é precisamente ter aumentado despesa federal de forma brutal. E os próprios Democratas já perceberam isso, sendo que poucos estão a fazer campanha baseados no seu voto favorável ao Plano de Estímulos. Este novo plano de investimento federal poderá causar ainda mais dificuldades aos Democratas, fornecendo mais argumentos para a agenda republicana contra o défice e a despesa federal.
Mas o que terão pensado os Democratas? Vamos anunciar isto, para depois ser impedido no Congresso pelos Republicanos, e depois voltamos a acusá-los de serem o partido do não e de obstruir a recuperação económica. O problema é que veremos muitos Democratas a juntar-se aos Republicanos para condenar este projecto da Casa Branca. A única via possível para Barack Obama neste assunto é mostrar à base descrente do partido que a Casa Branca está a fazer alguma coisa para combater a crise, levando-os às urnas em Novembro. Mas não me parece que vá funcionar para conquistar os indecisos. Em termos políticos, parece-me uma decisão errada, pois além de dificilmente obter resultados práticos (neste ciclo eleitoral de certeza), ajuda os opositores e complica a vida aos Democratas em dificuldades nas eleições. Se era esta a medida com que contavam para dar a volta a dinâmica da campanha, parece-me que os estrategas da Administração vão falhar o alvo.
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