22
Jan 10
publicado por José Gomes André, às 00:54link do post | comentar

O Nuno apresentou aqui uma leitura rigorosa sobre a importância desta eleição surpreendente. Gostaria de a complementar reflectindo sobre as eventuais vantagens que, indirectamente, a vitória Republicana poderá ter para o Partido Democrata. Com efeito, embora humilhados, os Democratas poderão retirar importantes lições políticas e eleitorais do resultado no Massachusetts. Por três razões principais:

 

1. Este resultado serviu como um reality-check. Entusiasmados com as vitórias de 2006 e 2008, e alimentados por várias narrativas teóricas que sugeriam um período de dominação "azul" para os próximos anos, os Democratas assumiram uma postura arrogante, esquecendo a complexa realidade eleitoral americana. Talvez esta derrota os recorde que o Partido Republicano tem um peso significativo específico, algo erodido pelos erros da Administração Bush, é certo, mas que permanece vivo na sociedade americana.

 

2. A derrota no Massachusetts recorda a importância das batalhas eleitorais propriamente ditas. Martha Coakley perdeu, acima de tudo, porque não se preparou para o combate eleitoral. Confiante no perigoso conceito de "safe seat", não programou eventos, não definiu uma estratégia, não se preocupou em angariar fundos. Muitos Democratas em situação similar estarão agora mais precavidos para as (difíceis) eleições de Novembro.

 

3. Os Democratas serão agora obrigados a regressar ao fundamento do processo político na América - negociando com os seus adversários. Turvados pelo seu predomínio nas instituições federais, os Democratas esqueceram a importância de obter compromissos, rejeitando o diálogo com os Republicanos. Este erro estratégico criou dificuldades ao processo legislativo (não existindo disciplina partidária nos EUA) e gerou anti-corpos na imprensa e no próprio eleitorado.

 

P.S. Ainda sobre a vitória de Brown, ler esta entrevista a Michael Baum (Professor de Ciência Política em Dartmouth), que o André Freire nos traz no "Ladrões de Bicicletas".


Concordo, em grande parte, com esta análise mas com uma excepção - a do diálogo.

Obama desperdiçou grande parte deste 1º ano a tentar abrir um diálogo com o Republicanos e foram estes, e não os Democratas, que sistematicamente o recusavam.

Um excelente exemplo da postura de grande parte dos Republicanos (mas não só), foi o triste e até chocante espectáculo a que se assistiu nos diversos 'Town Hall meetings' que se realizaram sobre a 'Health Care reform'.

Basta ver este vídeo para perceber que é impossível falar com quem se recusa a ouvir...

http://www.youtube.com/watch?v=GQBMs3GpLkE
up_north a 22 de Janeiro de 2010 às 17:27

Se bem me recordo, já falámos um pouco sobre isto no "delito". É uma leitura que respeito, mas não é a minha :) Um abraço, até breve!

Concordo com o up_north. Os dois primeiros pontos estão bem, mas o terceiro é um tiro ao lado. Aquilo que atrasou a reforma de saúde foi precisamente a insistência dos Democratas (sobretudo Obama) em tentar obter nem que fosse um voto Republicano, para poderem clamar "bipartisanship". Daí as demoradas negociações e compromissos com Olympia Snowe, que depois de obter todas as concessões que queria - valendo-lhe a alcunha de "Presidente Snowe"- votou...contra!
Há apenas uma estratégia Republicana neste momento, e segue as linhas já definidas por William Kristol cotra Clinton em 93 - obstrução total, por puros motívos politicos.
Vega9000 a 23 de Janeiro de 2010 às 02:12

Não é totalmente correcto o que diz. Há meses que todos os republicanos se colocaram de fora das discussões, especialmente depois da reforma ter-se tornado bastante impopular. As opções Olympia Snow ou Susan Collins, por exemplo, há muito que estavam descartadas. O que atrasou a sua aprovação mais cedo no Senado foi precisamente convencer alguns blue dogs democratas a votarem a lei. Senadores como Joe Liebberman, Ben Nelson, Blanche Lincoln ou Evan Bayh sempre estiveram bastante reticentes em votar a lei. Liebberman só deu o seu acordo depois da Opção Pública cair, e Nelson e Lincoln apenas votaram porque obtiveram contrapartidas vantajosas para os seus estados.

Certo, não estou a dizer o contrário, nesta altura os Democratas só se podem culpar a eles mesmo por se terem posto nesta situação, quando esta legislação há meses que podia estar aprovada.
O que eu não concordo neste post é a afirmação que os Democratas de alguma maneira "rejeitaram" as negociações com os Republicanos, quando não foi de todo o que aconteceu, foi precisamente o oposto. Fizeram um esforço inglório, perdendo bastante tempo antes do verão quente dos "tea-baggers" a tentar ganhar nem que fosse um Republicano, quando estes rejeitaram qualquer compromisso que lhes era oferecido à partida.
Vega9000 a 23 de Janeiro de 2010 às 17:37

Mas as reticência vieram de onde? Dos liberais? Ou dos sectores mais conservadores dos Democratas e dos Republicanos? Acho difícil dizer que o problema foi não ter sido mais radical quando os problemas se sentiram ao centro... Obrigado pelo comentário!

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