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Jan 10
publicado por Nuno Gouveia, às 14:59link do post | comentar

Em Novembro os americanos regressam às urnas depois da histórica eleição de Barack Obama em 2008. As Intercalares irão marcar o ano político nos Estados Unidos, e foi também essa uma das motivações para arrancarmos com este blogue. Por isso mesmo, será tema de análise recorrente aqui. Depois do que aconteceu no Massachusetts, são umas eleições completamente imprevisíveis. Neste momento os ventos sopram em favor dos republicanos, e tudo pode acontecer, mesmo improváveis mudanças de maioria na Câmara dos Representantes e no Senado. Se alguma coisa podemos depreender das últimas três eleições que se realizaram (Massachusetts, Virgínia e New Jersey), é que existe um grande descontentamento com o partido no poder, e se algo não mudar nos próximos dez meses, o Partido Republicano poderá obter grandes vitórias.

 

Apesar de tudo, neste momento não me parecer crível que os republicanos recuperem a maioria no Senado. Para tal acontecer, teriam de “roubar” 9 lugares aos democratas, algo que só aconteceu uma vez, em 1980, e em circunstâncias muito especiais (ano da vitória de Ronald Reagan sobre Jimmy Carter). Mas a possibilidade de ganharem a Câmara dos Representantes não estará assim tão afastada, precisando para isso de recuperar 40 lugares. As eleições para esta câmara são sempre mais disputadas, onde a alternância do partido vencedor sucede mais vezes. Mas a análise a estas eleições ficará para outra altura. 

 

Ainda vão realizar-se várias primárias para os partidos escolherem os seus candidatos, mas deixo aqui uma previsão do que poderá acontecer em Novembro no Senado, baseada naquilo que tenho lido pela imprensa americana. Com uma premissa relevante: ainda faltam dez meses, o que em politica é uma eternidade. Veja-se o exemplo da eleição especial do Massachusetts.

 

No Senado vão estar em disputa 36 lugares, com 18 ocupados por democratas e 18 por republicanos. A maioria esmagadora que o Partido Democrata detém neste momento deverá terminar em Novembro. Essa parece-me ser uma previsão segura, pois é expectável que os republicanos possam recuperar alguns lugares. Além dos estados que vou nomear, é bem possível surjam outras eleições disputadas. 

 

Lugares republicanos em perigo

 

Os actuais senadores republicanos do Missouri, Ohio, New Hampshire e Kentucky  já anunciaram que não se vão recandidatar. O Missouri é uma das apostas dos democratas, com a Secretária de Estado,  Robin Carnahan, a aparecer sempre à frente do congressista Roy Blunt nos estudos de opinião. No Ohio, o antigo congressista Rob Portman (R) tem aparecido com ligeira vantagem sobre a favorita democrata, Jennifer Brunner, Secretária de Estado do Ohio. No New Hampshire, a antiga Procuradora-geral Kelly Ayotte (R) também vai à frente de Paul Hodes, actual congressista democrata. O único senador republicano que estará em perigo de perder a reeleição será David Vitter, do Louisiana. A sua popularidade no estado foi afectada pelo escândalo das prostitutas em 2007. Na Florida, também há eleições em aberto, mas neste momento, as primárias republicanas parecem ser as mais relevantes para a escolha do próximo senador. O governador Charlie Crist (R) debate-se com Marco Rúbio (R), que tem sido apadrinhado pelos sectores mais conservadores do GOP. Quem vencer esta primária deverá ser o próximo senador júnior da Florida, pois o lado democrata ainda não conseguiu apresentar um candidato forte. Outra eleição interessante, mas também nas primárias, acontecerá no Kentucky. Rand Paul, filho do candidato presidencial Ron Paul, vai à frente de Trey Grayson. Sendo um estado tradicionalmente conservador, também é pouco provável que os democratas consigam roubar este lugar. Mas nada é impossível. 

 

Lugares democratas em perigo

 

Mas no campo democrata, surgem muitos senadores com o lugar em perigo. A começar pelo Líder da Maioria no Senado, Harry Reid (Nevada), que tem insistentemente surgido atrás dos candidatos republicanos mais fortes, Danny Tarkanian e Sue Lowden. E depois de ter estado na linha da frente da reforma da saúde, Reid poderá mesmo perder a reeleição. Colorado, Delaware e Illinois viram os seus senadores eleitos sair directamente para  Casa Branca após as eleições de 2008 (Ken Salazar, Joe Biden e Barack Obama). E estes lugares estão também em jogo este ano, com os republicanos a apostar muito forte. No Colorado, Jane Norton (R) tem ganho vantagem nas recentes sondagens em relação a Michael Bennet (D), o senador incumbente. No Delaware, Beau Biden (D), filho do Vice-Presidente, poderá avançar para tentar manter o lugar, contra Michael Castle (R), membro da Câmara de Representantes e antigo governador do estado. No Illinois, Mark Kirk (R) irá provavelmente enfrentar Alexi Giannoulias (D). As sondagens apontam para um empate técnico, mas estando a falar do Illinois, apostaria na vitória democrata. Na Pennsylvania, Arlen Specter (D), que abandonou ano passado o Partido Republicano, surge em dificuldades contra Pat Toomey (R), antigo Congressista e presidente do influente Club for Growth. No Arkansas, Blanche Lincoln (D), que se pensava ter o lugar seguro, poderá sair derrotada nas urnas devido ao seu  voto favorável na Healh Care Bill. No campo republicano, ainda há grande indefinição em relação ao resultado final das primárias, que se realizam a 5 de Maio. E recentemente, outro lugar que parecia seguro para os democratas apareceu na zona vermelha. O popular governador do Dakota do Norte, John Hoeven (R) vai avançar, tendo feito com que o senador Byron Dorgan (D) se tenha retirado. Esta será uma conquista segura para os republicanos. Por fim, há hipóteses (que considero ténues) dos republicanos conquistarem os lugares de Barbara Boxer (Califórnia) e Kirsten Gillibrand (Nova Iorque). No primeiro caso porque a candidata republicana Carly Fiorina (que até pode perder as primárias) terá muitas dificuldades em se impor na corrida. Apesar dessa minha convicção, Fiorina surge esta semana a apenas 3% de Boxer. E em Nova Iorque, porque os republicanos não conseguem arranjar um candidato forte. Rudy Giuliani já se colocou de fora da corrida, e o outro candidato com aspirações à vitória, o antigo governador George Pataki, não tem demonstrado interesse nesta eleição. Aqui a surpresa poderá surgir do lado democrata, com o antigo congressista do Tennessee, Harold Ford, a ser pressionado para se candidatar nas primárias contra Gillibrand. 

 

Este será um ano particularmente difícil para os democratas, mas os próximos meses poderão ser decisivos. Se a economia der sinais claros de recuperação, os democratas poderão manter uma vantagem confortável e vencer a maioria dos confrontos nos Blue States. Mas se a impopularidade da Administração Obama se mantiver, os republicanos poderão aproximar-se perigosamente dos 50 senadores, o que poderia causar sérios problemas aos dois últimos anos da presidência de Obama.


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