O Bernardo Pires de Lima certeiro no DN sobre o debate da imigração.
Costuma-se dizer que qualquer norte-americano descende de imigrantes, herança cultural que torna a reforma da lei de imigração politicamente incontornável. Mas a razão porque ela voltou ao topo da agenda é outra. Dia 6 de novembro de 2012 o partido republicano bateu no fundo na captação do voto latino: Obama bateu Romney por 71%-27%, fator determinante para a derrota. O GOP tinha radicalizado o discurso sobre imigração (até contra George W. Bush) e nem conseguiu apontar o dedo à promessa não cumprida de Obama sobre flexibilização legislativa. A queda sustentada do eleitorado latino - Bush em 2004 (40%) e McCain em 2008 (31%) - provou ser impossível continuar a confiar cegamente no eleitorado branco (72% do total).
Revelou ainda que um candidato republicano com intenções de ganhar as presidenciais tem de construir soluções para a imigração que sejam próximas do consenso bipartidário e das múltiplas sensibilidades do Congresso. Foi isto que na noite eleitoral ficou claro na cabeça do senador republicano, Marco Rubio, um dos filhos da imigração cubana na Florida e estrela em ascensão para 2016. Rubio percebeu que não podia esperar pela iniciativa de Obama e que tinha de ser ele a liderar o debate no partido. Rubio sabe que a reforma legislativa será longa e debatida sem tréguas, que assentará no reforço do controlo da fronteira com o México e no cardápio de regras que um imigrante ilegal tem de alcançar para ter visto de residência e cidadania (desde a aprendizagem do inglês ao sucesso universitário).
Os 11 milhões de imigrantes ilegais são um problema social, político e cultural para os EUA. Mas são também um dos maiores desafios para democratas e republicanos: os dois vão poder mostrar quem percebeu as eleições, a demografia nacional, a segurança interna, o rigor da contratualização laboral, a própria herança cultural do país. Marco Rubio é o camisola amarela.