À última hora - de facto, já depois da meia-noite de 31/12 - um compromisso impediu a queda dos EUA no "Abismo Fiscal".
Por meio deste compromisso, apenas aumentaram os impostos para os indivíduos que auferem mais de $400.000/ano e casais com mais de $450.000/ano - o Presidente Obama pretendia subir os impostos naquelas categorias para quem ganhasse mais de $200.000 e $250.000, respectivamente, enquanto que os republicanos se opunham a qualquer aumento de impostos. Mas a questão da despesa não foi abordada, mantendo-se inalterada, o que representa um adiamento da questão.
O acordo foi conseguido com uma maciça votação favorável no Senado - apenas 8 senadores votaram contra - mas, sintomaticamente, na Câmara dos Representantes a maior parte dos republicanos opôs-se ao acordo (o voto final foi 257/167).
Dentro de dois meses há outra batalha, a que respeita à subida do tecto de endividamento do governo federal, sem a qual este último não poderá fazer face às suas obrigações. Decerto que os republicanos irão exigir os cortes na despesa de que agora, relutantemente, abdicaram, para darem o seu apoio ao aumento do referido tecto.
O acordo esteve na iminência de não ser atingido, e o Presidente Obama, ao desafiar publicamente os republicanos antes de ele ser concluído, contribuíu para esse risco. Mais uma vez pairou por cima de Washington como se não fizesse parte do sistema político, tendo delegado no Vice-Presidente Joe Biden as negociações com os republicanos. Este último negociou directamente com o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, tendo o líder da maioria democrática, Harry Reid, sido praticamente posto de lado.
Isto foi apenas um adiar do problema, como referi. A questão fundamental é que o orçamento federal mantém um monstruoso deficit, o qual se não resolverá sem grandes cortes na despesa, nomeadamente na Defesa, no Medicare (sistema de apoio na saúde aos idosos), no Medicaid (sistema de apoio na saúde aos mais pobres) e na Segurança Social. Não é aumentando os impostos aos "2%" (na linguagem de Obama, mas o aumento agora aprovado apenas atingirá os 1% com mais rendimentos) que o deficit federal desaparecerá ou diminuirá. A realidade acabará por ter de sobrepor-se à demagogia e à ideologia.