A segmentação do eleitorado americano por parte das campanhas é uma realidade, bem diferente do que estamos habituados a observar em Portugal. Não se pode considerar que os blocos sejam todos homogéneos (a excepção é o eleitor afro-americano), mas as campanhas investem forte em capturar o voto destes grupos demográficos. Haverá muitos mais, mas deixo aqui alguns que poderão ser extremamente relevantes para o desfecho das eleições de amanhã.
Hispânicos: Representam cerca de 14% dos cidadãos americanos, mas a sua participação eleitoral é historicamente baixa. Em 2010 representaram apenas 7% dos votantes, tal como em 2008. Em 2008 votaram Obama numa relação de 61-31. Se Obama conseguir manter estes números ou até melhorar, como algumas sondagens têm indicado, isso poderá ser estaticamente importante em três swing-states: Nevada, Colorado e Florida. Com o Nevada a pender para o lado de Obama e a Florida para o Romney, diria que é no Colorado que poderão fazer a diferença. Em corridas muito renhidas, como no Ohio, onde representam apenas 4% da população, poderão também ajudar a decidir. De resto, nos estados com populações hispânicas mais significativas, o desfecho está encontrado: Texas e Arizona para Romney, Illinois, Califórnia e Nova Iorque para Obama.
Negros: Obama precisará de uma votação recorde semelhante ao que teve em 2008, com cerca de 95% para segurar a Carolina do Norte e Virgínia. Penso que neste segmento do eleitorado não deverá haver grandes mudanças, mas talvez seja insuficiente para vencer nestes estados. Mas uma afluência idêntica à de 2008 poderá ajudar no Ohio, Michigan ou Pensilvânia, onde representam mais de 10% da população.
Brancos: o eleitorado branco votou John McCain em 2008, numa ordem de 55%-43%. Romney precisará de fazer muito melhor. Algumas sondagens indicam que Obama poderá ficar-se pelos 37% e Romney com mais de 60%, o que seria um excelente número para Romney. A grande dúvida aqui é se os brancos irão manter os 76% que representaram em 2008 (dados da Gallup) ou se esse número vai baixar. Pode residir aqui a derrota ou vitória de um dos candidatos.
Mulheres: Tem-se falado muito da gendergap, mas é tradicional os republicanos vencerem no eleitorado masculino e os democratas vencem no feminino. Por exemplo, desde Ronald Reagan que os republicanos perdem no eleitorado feminino. Em 2004 Bush venceu nos homens por 11% e perdeu por 10% nas mulheres. Há quatro anos Obama conseguiu mesmo vencer no eleitorado masculino por 1 por cento e nas mulheres por 13 por cento. Será interessante verificar se Romney conseguiu aproximar os números, e “perder por poucos” entre as mulheres, já que é amplamente esperado que vença no eleitorado masculino.
Judeus: Romney terá encurtado a distância para este segmento do eleitorado, que vota tradicionalmente nos democratas. Em 2008 Obama teve 76% dos votos dos judeus, enquanto John Mccain ficou-se pelos 24%. Pensa-se que Romney terá mais votos, até pela decepção que Obama criou em alguns judeus. Um resultado à volta dos 35% seria excelente para Romney, e que o poderia ajudar sobretudo na Florida.
Católicos: Nos últimos três eleições presidenciais representaram cerca de 25% do eleitorado, e tem havido um certo equilíbrio entre os dois partidos. Em 2000 votaram Gore contra Bush (50-47), em 2004 ajudaram a reeleger Bush (52-47). Em 2008 Obama teve 54% contra 45% de Mccain. Este voto será particularmente decisivo no Midwest. Ambos os candidatos a Vice Presidente são católicos.