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Out 12
publicado por Nuno Gouveia, às 16:56link do post | comentar

Num post anterior comentei aqui que a Europa estaria numa fase de declínio, partindo da sua total ausência no debate de política externa entre Obama e Romney, e por arrasto, nesta campanha presidencial. O Bernardo argumentou que não será bem assim. O meu post era sobre a perda da centralidade da Europa na política externa americana, que vigorou nas últimas décadas e agora parece já não ser assim. Mesmo não sendo especialista nesta matéria, este debate intelectual suscita-me interesse, e apesar de confessar que tenho mais "simpatia" por um dos lados, também digo que tenho mais questões do que certezas.

 

O fim da União Soviética foi um factor preponderante, certo. A emergência de novas potências extra-atlântico também o será. As trocas comerciais entre a Europa e os Estados Unidos estagnaram nos últimos anos e os americanos têm aumentado trocas comerciais com outros mercados, como o México e Canadá, mas também com outras regiões do mundo como a Ásia. Nas instâncias internacionais a tendência é para os europeus perderem poder, enquanto os Estados Unidos vão aguentando a sua preponderância, ainda como potência dominante. O que a Europa representou para os Estados Unidos agora está dividido por outras regiões do globo. Era inevitável esta perda de influência? Talvez sim. Dava jeito à Europa arranjar uma voz que fosse respeitada em Washington, e não um Van Rompuy qualquer? Sem dúvida. David Cameron é considerado um anão político na Casa Branca? Provavelmente o líder britânico mais despeitado nas últimas décadas em Washington. Não temos hoje parcerias do estilo Reagn/Tatcher ou Clinton/Blair ou Bush/Blair? Penso que sim. A verdade é que nenhum líder europeu hoje tem grande influência no que os americanos dizem ou fazem. O inverso, se calhar, também será verdade. Ora, talvez a perda de influência seja de parte a parte. 

 

Outro ponto diferente, e aqui concordo com os argumentos do Bernardo, são as verdadeiras razões para a ausência da Europa na campanha presidencial. As preocupações dos americanos nos swing-states estão bem distantes da Europa. A China, devido ao comércio e crescente influência mundial, o Médio Oriente e o Norte de África, por questões de Segurança Nacional, e Israel, o velho aliado na região e pelo grande apoio que tem entre os americanos, são temas bem mais interessantes para Obama e Romney abordarem. Também concordo que a possibilidade de colapso da zona euro deveria preocupar mais os americanos. Mas a sensibilidade comum nos Estados Unidos é que esse um problema nosso e uma previsível derrocada não os afectará em grande medida. Nada mais errado, é certo, mas as campanhas movem-se pelos preocupações do eleitorado e nem sempre pelas razões correctas. Até penso que em termos puramente eleitorais, Romney teria algo a ganhar com a utilização da Europa como "exemplo a não seguir". Presumo que não o tenha feito muito veemente porque os seus conselheiros lhe disseram: "esqueça a Europa, aqui ninguém quer saber disso". Para o bem ou para o mal, ninguém está interessado em discutir a crise europeia e as suas consequências. Por fim, é lastimável é ir aos sites dos dois candidatos e não encontrar nada sobre a Europa. Romney fala sobre Israel, AF-PAQ, Médio Oriente, África, América Latina, Irão, Rússia e China, mas nada sobre a Europa. Obama é ainda mais vago. Foi assim no passado? Penso que não. 


Nuno Gouveia,

A China já está em recessão, ou na melhor das hipóteses tem crescimento perto do nulo. Digo o que digo sabendo que eles dizem ter crescido 8%. Mas essas estatísticas são falsas e os números martelados à grega.

Quando se é mentiroso (como o Partido Comunista Chinês é) tem de se ser um excelente mentiroso. Há indicadores muito interessantes como a concessão de crédito às empresas, o consumo de combustíveis e o consumo de electricidade. Estes indicadores são o rabo de fora de qualquer gato escondido quando falamos de crescimento económico. Chegam a ser mais fiáveis que a evolução recente do PIB para previsões de evolução no curto prazo da economia.

Ora, todos estes indicadores estão ou estacionários ou a regredir desde o início de 2012. A bota aqui não bate com a perdigota e todos esses números miraculosos de crescimento cheiram a Esturro de Outubro (se me permite a referência ao Congresso do PCC).

A América simplesmente não fala da Europa porque pouco há que falar. Se um dos candidatos falar mal da Europa, incorre na ira da população branca, a qual ainda é o maior grupo estatístico nos Estados Unidos. Se falar bem, incorre no desprezo dos restantes grupos, ressabiados (com alguma justiça) da herança europeia dos Estados Unidos. Há mais que falar neste momento.

De qualquer maneira, o Obama está de saída. Vejamos o que acontece entre Novembro e a inauguração do novo presidente.

Quanto à surpresa de Outubro, o Donald Trump tem o Obama pelo pendurado pelo esqueleto [as referências ao armário não me parecem de todo descabidas]. Ele deve ter informação de tal ordem importante que todos os que iriam espalhar lama no Romney, como a O'Donnel, se calaram bem caladinhos quando ele a prometeu divulgar (se não tem está a fazer o maior bluff da história). Estou por isso apenas preocupado com o dia 7 de Novembro, e daí até Janeiro.
Francisco Colaço a 28 de Outubro de 2012 às 22:23

Só por curiosidade, porquê tanta certeza de que Romney vence quando é o Obama que está bem à frente no Colégio Eleitoral?
HCarvalho a 29 de Outubro de 2012 às 10:47

Fiquei impressionado pela forma como, nos últimos dois debates, a União Europeia enquanto unidade política não foi mencionada uma única vez. Apenas houve referências a dois países isolados, a Alemanha como concorrente comercial (a segunda maior ameaça, a seguir à China), e a Grécia como exemplo derradeiro do caos financeiro e económico (várias vezes mencionada por Romney). Os americanos tratam a União Europeia como aquilo que ela é: uma inexistência política absolutamente indiferente, cujo fim será confirmado mais dívida menos dívida.
jaques a 30 de Outubro de 2012 às 22:09

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