1. Um debate presidencial é sobretudo uma encenação mediática, onde o que importa é parecer melhor: mais confiante e assertivo, mais simpático e descontraído, mais bem preparado, mais "presidenciável". A forma ganha os debates, não o conteúdo.
2. Face a estes parâmetros, Mitt Romney foi um evidente vencedor. Face a um Obama surpreendemente cinzento, cansado, tropeçando nas próprias palavras, olhando para baixo enquanto ouvia o adversário, Romney surgiu como um orador talentoso, afirmativo, confiante. A sua linguagem corporal (olhando Obama como um predador olha a presa) mostrou um macho-alfa dominador. E as suas permanentes referências a histórias concretas e ao sofrimento do americano comum quebraram a sua imagem robótica, humanizando-o perante o eleitorado.
3. Mas Romney ganhou noutros campos. Contrariando um dos (até aqui) maiores erros da sua campanha, Romney não se limitou a um discurso crítico do Presidente, como se "ser o outro" candidato bastasse para chegar à Casa Branca. Enviou portanto uma mensagem positiva ao eleitorado, insistindo nos méritos do seu próprio programa, focado na criação de emprego e na eliminação das "gorduras do Estado". Enquanto Obama se perdia em detalhes técnicos aborrecidos, Romney defendia o seu projecto político de forma articulada e sintética, sem soar demasiado abstracto.
4. Chegará, por si só, para ganhar a eleição? Provavelmente não. Os debates presidenciais são amplamente escrutinados e têm excelentes audiências, mas os dados mostram que a maioria dos eleitores atentos procuram apenas "confirmar" posições previamente definidas, sendo que muitos dos chamados "indecisos" confessam posteriormente à eleição ter prestado pouca ou nenhuma atenção aos debates. Em todo o caso, numa eleição renhida como esta, alterações em pequenas franjas do eleitorado podem ser decisivas. Além do mais, este debate tem desde já o condão de enfraquecer o optimismo reinante entre os Democratas e renovar o entusiasmo Republicano (tanto da base eleitoral como dos financiadores da campanha)...
5. Faltam dois debates presidenciais, um debate entre candidatos a vice-presidentes e um mês de campanha. Continuo convencido que Obama é favorito e que Romney, apesar desta boa prestação, tem alguns problemas por resolver - nomeadamente a explicação cabal da revolução fiscal prometida, as alterações na Segurança Social e os cortes nos programas de saúde, temas de grande sensibilidade onde a dupla Romney/Ryan gera grande desconfiança. Todavia, se até aqui os eleitores viam Obama como um "mal menor", a excelente prestação de Romney terá pelo menos generalizado a ideia de que ele pode constituir uma alternativa credível. Conseguir isto em hora e meia é notável.