É como os americanos chamam ao acto de seleccionar, a partir de um conjunto muito variado, uma sondagem particular favorável ao nosso argumento ou interesse. Assim como, perante uma taça com muitas cerejas, escolhemos as mais apetitosas. O resultado daquele acto é, naturalmente, pouco científico, impedindo uma análise racional sobre a tendência de um determinado evento político.
A cobertura da eleição presidencial americana tem sido marcada por actos constantes de cherrypicking. A imprensa continua a divulgar as sondagens que mais interessam à sua narrativa (e já nem falo dos blogues!), esquecendo todas as outras publicadas no mesmo período. Nas últimas semanas, ora surgem referências a vantagens claras de Obama (7 pontos) ora a um empate técnico. Uns preferem as sondagens estaduais para anunciar Obama como o mais-que-provável-vencedor. Outros agarram-se à Rasmussen para descrever uma luta titânica.
Tudo isto é verdadeiro. E tudo isto é falso. Estes intervalos são naturais, se pensarmos que há diversas sondagens diárias nos EUA. Com tantos dados, podemos de facto contar a história que quisermos. A imprensa tenderá a narrar uma história emocionante, para manter vivo o interesse da opinião pública, mas uma análise séria deve sempre procurar olhar para a média ponderada das sondagens, a única forma de decifrar afinal a objectiva tendência da corrida.
É menos emocionante, claro. Não é divertido anunciar que a disputa deste ano tem-se mantido relativamente estável, com ligeira vantagem de Obama, reforçada nas últimas semanas, por factores ainda a determinar (eu aposto em Convenção Democrata e erros tácticos de Romney). Com tantas narrativas de altos e baixos, os leitores ficarão provavelmente surpreendidos ao verificar que Obama lidera as sondagens desde Novembro de 2011 (!) (média RCP).