O ambiente na convenção esteve verdadeiramente electrizante ontem à noite, especialmente na última hora, quando discursaram Condoleeza Rice, Susana Martinez e Paul Ryan. Se era de energia e entusiasmo que este partido necessitava, alcançou-o. Diferente é saber se esse sentimento irá passar para os eleitores indecisos que vão decidir esta eleição. Os ataques a Barack Obama têm estado afastados dos discursos do prime time, mas ontem Paul Ryan, cumprindo uma tradição dos candidatos a Vice Presidente, lançou um feroz ataque às políticas do Presidente. E fê-lo transparecendo optimismo e confiança no futuro, realçando uma mensagem positiva conforme mandam as regras. A equipa de Romney tem tentado sobretudo ultrapassar a imagem radical e divisionista dos últimos anos do Partido, e pelo que tenho visto e lido por aqui, tem-no conseguido.
Condoleezza Rice arrebatou a sala e mostrou que, se um dia quiser, pode ser candidata a Presidente. Ao ouvir o seu discurso, ninguém acreditará muito quando ela diz que não tem ambições políticas e que se irá manter em Stanford. O Tampa Bay Times veio abaixo quando ela referiu que nunca imaginou que uma menina negra nascida e criada num estado com as leis de Jim Crow poderia um dia ser candidata a Presidente, tendo chegado a Secretária de Estado. Com um discurso que não se limitou a ser a voz do excepcionalismo americano na convenção, Condi abordou também outros temas, como a imigração e a educação e deixou críticas à falta de liderança demonstrada por Barack Obama. Se ela já era bastante considerada pelo establishment republicano, penso que ontem à noite conquistou a alma do partido.
Paul Ryan não desiludiu e proferiu o maior ataque ao Presidente Obama nesta convenção, com um discurso bastante crítico sobre as políticas da actual administração, e vincando as suas credenciais ideológicas que o transformaram no novo herói do Partido Republicano. Pelo que deu para perceber no seu discurso, este fã AC/DC e Led Zepellin é já um dos favoritos para as próximas primárias republicanas, sejam elas disputadas em 2016 ou 2020. Ontem reforçou o seu apelo às gerações mais jovens e demonstrou que é um bom complemento ao cinzentismo que Romney tem apresentado. Resta saber se hoje o próprio candidato terá a capacidade de entusiasmar a sala como Ryan o fez. Não será tarefa fácil.
Susana Martinez, a primeira governadora hispânica dos Estados Unidos, também no horário de prime time, surpreendeu pela positiva, com uma mensagem directamente direccionada às mulheres e principalmente dos hispânicos, dois pontos fracos de Romney. Pouco antes tinha também falado Luís Fortuño, governador de Porto Rico que está que está a tentar fazer com que o seu território se junte à União. De resto, os assuntos sociais foram muito pouco referidos, ficando a cargo de Mike Huckabee cumprir o papel que no dia anterior tinha sido de Rick Santorum. Um discurso proferido num tom evangélico, num partido que pela primeira vez não apresenta nenhum no seu ticket. John McCain lançou o ataque à política externa de Obama e Rand Paul foi a voz do Tea Party, num apelo aos eleitores do seu pai para votarem em Mitt Romney.
Pelo que tenho percebido das conversas que vou mantendo por aqui, há um optimismo moderado sobre as possibilidades de vitória de Romney. Uma grande melhoria em relação a 2008, quando havia um sentimento de derrotismo entre os delegados. Mas não se pode dizer que existe euforia em redor de Romney. Em relação aos media, os conservadores estão bastante confiantes (talvez em demasia) e os afectos ao Partido Democrata estão muito apreensivos, algo que me surpreende, pois considero que, e olhando para as sondagens que têm sido publicadas, Obama ainda está à frente. Talvez a recuperação que Romney tem vindo a fazer nos swing-states os esteja a assustar, bem como os continuados maus sinais da economia. A única certeza é que se nada de extraordinário acontecer até Novembro, esta será sempre uma eleição disputadíssima.