09
Abr 12
publicado por Nuno Gouveia, às 14:10link do post | comentar

 

Agora que Mitt Romney é o presumível nomeado, deixo aqui alguns apontamentos sobre o que esta vitória representa para o Partido Republicano. Após as eleições intercalares de 2010 e a emergência do Tea Party como força política nacional, muitos se apressaram a caracterizá-lo como radical e definitivamente encostado às correntes mais conservadoras dos Estados Unidos. E, concluíram, o nomeado teria sempre de ser alguém da ala mais conservadora. Nem pensar que os republicanos iriam eleger um moderado para enfrentar Obama. Mas estas previsões falharam redondamente, o que evidencia também um desconhecimento do lado pragmático do Partido Republicano, que se tem manifestado quase sempre na era moderna da política americana. O influente William F. Buckley criou a "Buckley Rule", que diz que deve nomear-se o candidato mais conservador com hipóteses de ser eleito. E tem sido isso que o Partido Republicano anda a fazer desde 1964, quando nomeou Barry Goldwater. Desde então, o candidato melhor colocado para vencer as eleições gerais acaba sempre por ser o escolhido. Mesmo que não consiga vencer, como aconteceu com Gerald Ford, Bob Dole e John McCain. 

 

Desde o Verão passado, quando Tim Pawlenty saiu da corrida presidencial, era óbvio que Mitt Romney, o antigo governador do Massachusetts, era o nome mais capaz de derrotar Obama. O que não significa que tal aconteça, claro. E até nem é propriamente por ser moderado, mas porque é o candidato que tem o currículo, a personalidade e a organização necessária para tal empreendimento. Por uns breves momentos, a entrada de Rick Perry, governador do Texas, introduziu alguma dúvida nesta minha certeza, pois também ele tinha o currículo e a organização para apresentar-se como um candidato credível. Algo que se dissipou imediatamente após a sua entrada na arena nacional,  revelando uma inabilidade gritante para competir a este nível. Além de Mitt Romney ser o nome mais bem preparado para ocupar a presidência, pode-se dizer que também teve bastante sorte, pois não teve adversários à altura, por muito que a imprensa tenha andado a vender o contrário. Além do já citado Rick Perry, quem foram os adversários de Romney? Jon Hunstman é demasiado moderado para vencer umas primárias republicanas, apesar de ter o currículo e o temperamento necessário. Newt Gingrich é uma personalidade instável e cheio de esqueletos no armário. Nunca teria chegado a Tampa. Herman Cain e Michele Bachmann nunca foram candidatos minimamente sérios. Ron Paul, por muito entusiasmo que tenha gerado nas camadas mais jovens, nunca correu para a nomeação. O seu objectivo sempre foi marcar uma posição. Por fim, Rick Santorum, que até teria o currículo, mas nunca teve uma máquina de campanha nem os apoios necessários para vencer as primárias. Além que está demasiado refém dos valores mais conservadores para poder vencer uma eleição nacional. Por isso foi fácil no inicio destas primárias ter prognosticado (acompanhado pelo Alexandre Burmester e José Gomes André) que Mitt Romney seria o nomeado republicano. E como já citei aqui uma vez, Democrats fall in love, republicans fall in line. E foi o que sucedeu nestas primárias, com os eleitores a escolherem o nome mais forte, devidamente apoiado pela máquina republicana, para as eleições gerais. 


Muito bom o post.

No entanto, eu creio que houve um movimento do Partido Republicano para uma posição mais conservadora. Em termos de comparação, Romney em 2008 era o queridinho dos setores mais conservadores do partido, e foi apoiado por Jim De Mint, Rush Limbaugh e Rick Santorum. Enquanto isso, McCain, apesar de ser um "moderado" conseguiu a nomeação com relativa facilidade.

Em 2012 vimos o eleitorado republicano muito, mais muito lentamente aceitando Romney como alternativa. Entendo que, se houve momentos difícies, ele sempre foi o favorito. Entretanto, sua vitória foi muito mais difícil. De qualquer forma, o simples fato de Jon Huntsman, que foi um governador extremamente popular de um estado solidamente republicano e extremamente conservador, ter sido visto demasiadamente moderado já é um indício de algo mudou.

Por outro lado, talvez o erro tenha sido ver no Tea-Party um movimento monolítico. Entendo que parte dos seus partidários é formada por "social conservatives", mas há muitos libertários, e "fiscal conservatives". E que sua composição varia regionalmente. Aparentemente, o Tea-Party votou maciçamente em Romney em Arizona e Nevada, por exemplo, mas buscou outras opções no sul e meio-oeste, onde questões religiosas e sociais tem mais peso. Em todo o caso, embora Romney seja relativamente moderado em questões sociais, sua visão de orçamento, endossando a propsta Paul Ryan, é bem radical.

Nehemias
Nehemias a 9 de Abril de 2012 às 17:33

Concordo que o Partido Republicano está hoje mais à direita do que em 2008. Aliás, é normal quando se é oposição, e a pressão do tea party também terá contribuído para isso. Mas também repare-se que Romney não mudou de posição em nenhum dos grandes temas desde 2008. Os seus flip-flops são anteriores a essas eleições. Como alguém dizia com piada, Romney não mudou mais nenhuma vez de posição, depois de o ter feito na última vez :)

Acho, no entanto, que o atrasar da sua vitória deveu-se mais a factores conjunturais (o sistema winner takes all e o facto da superterça-feira este ano não o ter sido de facto - apenas 10 eleições este ano e em 2008 mais de 20 estados foram a jogo). Mas também me parece indesmentível que a resistência a Romney foi bastante maior do que a McCain.

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