Charles Krauthammer escreve esta sexta-feira um artigo demolidor sobre a politica externa da Administração Obama. Esta Administração tem tratado os aliados tradicionais de forma bastante diferente do que era normal na política externa americana de anteriores presidentes.
O Henrique Raposo tem escrito vários artigos que explicam esta deslocalização dos interesses estratégicos dos Estados Unidos, e nessa nova ordem mundial que se tem vindo a impor pode estar uma explicação para esta alteração de comportamentos. Mas não se compreende que, ao mesmo tempo que se vão aprofundando novas alianças, as velhas e mais antigas sejam relegadas para um segundo plano. E aqui destaco a relação com a Inglaterra. Ao longo dos últimos 60 anos, e não prevejo que isso vá alterar-se significativamente nas próximas décadas, sempre que os Estados Unidos se envolveram em algum conflito, os ingleses foram os primeiros a estar a seu lado. E por vezes, como se viu no Iraque, foram mesmos os únicos. O tratamento que tem sido oferecido aos britânicos, nomeadamente no caso das Falklands e das recepções muito pouco calorosas a Gordon Brown que Krauthammer descreve, indiciam que na Casa Branca há uma mudança de visão relativamente ao seu aliado. Não será mais o aliado indispensável, mas sim apenas mais um aliado. Não tenho lido muita imprensa britânica, nem sei como este esfriar de relações está a ser encarado nas ilhas, mas sei que isto não joga em favor dos Estado Unidos em potenciais novas crises que os envolvam. David Cameron, que provavelmente será o novo inquilino de Downing Street, estará muito atento a estas movimentações.
Por outro lado, existe também um distanciamento em relação a Israel, que Krauthammer não refere. A humilhação que a Casa Branca ofereceu ao primeiro-ministro israelita na sua recente visita pretendeu demonstrar que Israel já não tem carta branca de Washington. Com o processo de paz congelado, haverá certamente a tendência para castigar o governo de direita israelita pela falta de avanços. Mas não sei se afastar-se do aliado tradicional também contribuirá para a melhoria da situação no terreno. Ao mesmo tempo que Obama vai ganhando o respeito dos países do médio oriente, vai perdendo apoio em Israel e na comunidade judia americana. Nota-se que Obama está a praticar um jogo arriscado no Médio Oriente. A longo prazo isso poderá ser prejudicial para Obama, pois se não conseguir alcançar resultados positivos no processo de paz, isso não deixará de o assombrar.