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Fev 12
publicado por Alexandre Burmester, às 09:17link do post

 

 

Faz hoje precisamente 40 anos que o mundo assistiu, algo estupefacto, a um acontecimento quase tão incrível como aquele que, três anos antes, nos mostrara o homem a passear na Lua. De facto, nesse dia, o Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, encontrava-se em Pequim com aquele que, à época, poderia designar-se como o patrono da luta "anti-imperialista" e "anti-capitalista" em todo o mundo: o quase lendário Mao Zedong (para ser fiel à ortografia assumida no Ocidente a partir de certa altura).

 

Este acontecimento, altamente mediático na altura, como não podia deixar de ser, ainda hoje reverbera nas estruturas políticas e económicas em que vivemos. De hoje em dia parece-nos normal fazer-se comércio com a China, comprar as suas t-shirts e vender-lhe a nossa tecnologia. Há 40 anos não era assim. A República Popular da China era um país extremamente fechado (ainda hoje está longe de ser aberto), e era um forte apoiante do Vietname do Norte na Guerra do Vietname. Para um presidente americano ousar fazer uma viagem destas requeria, além de uma singular visão geo-estratégica (que Nixon tinha em abundância), um grande grau de coragem.

 

Também não deixa de ser evidente que Nixon era dos poucos políticos americanos a poder cometer semelhante "ousadia". De facto, atingira a proeminência política como jovem membro da Comissão da Câmara dos Representantes para as Actividades Anti-Americanas, onde granjeou irrefutáveis credenciais anti-comunistas. Este era o seu seguro, digamos assim, ao encetar tão histórica jornada.

 

O mundo comunista vivia na altura a grande ruptura sino-soviética, em debates ideológicos algo esotéricos, mas essencialmente em termos de poder. Os dois países tinham inclusivamente protagonizado incidentes fronteiriços em 1969, primeiro ano de Nixon na Casa Branca. O presidente dos E.U.A. viu aqui uma oportunidade estratégica a não perder. Já em 1967, ano anterior à sua eleição, escrevera num artigo na conceituada revista de política externa Foreign Affairs, que os E.U.A. não podiam ignorar um país que continha um quarto da população mundial (os E.U.A. , tal como a grande maioria dos países ocidentais, continuavam a reconhecer o governo da "China Nacionalista" ou Formosa - de hoje em dia Taiwan - como o legítimo representante da China). O regime comunista fora instaurado na Chine continental em 1949, mas o Ocidente, de facto, ignorava-o.

 

Com esta iniciativa, Nixon deu o primeiro passo na abertura ocidental à China comunista e mudou para sempre a correlação de forças na Guerra Fria. O facto de Mao o ter recebido deu alento àqueles dirigentes comunistas, como Deng Xiaoping, que mais tarde abririam a China, de um ponto de vista económico, ao Ocidente e ao comércio internacional. Simultaneamente, esta visita causou na sempre paranóica liderança soviética altas suspeitas, temores e suores frios. Mas, mais tarde nesse mesmo ano de 1972, Richard Nixon, visitaria também Moscovo, onde assinou um tratado de limitação de armas nucleares que esteve em vigor até há poucos anos. No mesmo ano tornou-se o primeiro presidente dos E.U.A. a visitar a República Popular da China e a U.R.S.S. 

 

Esta viagem de Nixon à China viria a mudar claramente o mundo.

 

 

 

P.S. Nas suas memórias ("RN: The Memoirs of Richard Nixon"), Nixon expressou o temor de que a História o recordaria essencialmente como o primeiro presidente dos E.U.A. a ter-se demitido. Acho, contudo, que a História tem sido bem mais magnânima para com ele: a abertura à China é hoje muito mais referida no seu currículo do que o infeliz episódio do Watergate.


Temos de reconhecer que Nixon ficou para a História como um dos presidentes americanos mais marcantes do Século XX.
Um dos que influiu de forma marcante no rumo do Mundo.
O Raio a 21 de Fevereiro de 2012 às 15:23

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