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Jan 10
publicado por Nuno Gouveia, às 15:34link do post | comentar

O senador democrata do Indiana, Evan Bayh disse ontem, ainda antes do resultado ser conhecido, que havia sinais de catástrofe, acrescentando que “se perdemos no Massachusetts e isso não é considerado uma chamada para acordar, então não há esperança de acordarmos.” A derrota dos democratas num dos estados mais à esquerda dos Estados Unidos é um sério aviso para as eleições intercalares que têm lugar em Novembro. Se o lugar de Ted Kennedy passou para as mãos dos republicanos, então todos podem estar em risco.

 

Há uns dias estava a fazer um exercício do que poderia acontecer nas eleições para Novembro, olhando somente para os lugares em disputa no Senado. Mas parece-me que agora esse exercício está condenado ao fracasso, dado que tudo pode mudar depois de ontem. Será que Evan Bayh tem razão, e nenhum senador democrata está livre de perder a reeleição? Não será bem assim, mas a verdade é que os democratas, que ontem perderam a maioria anti-fillibuster, podem mesmo ser arrasados se algo não se alterar nestes próximos meses.

 

Scott Brown conduziu uma campanha inteligente, assentando a sua mensagem em três pontos fundamentais: a reforma da saúde (que prometeu reprovar), a economia e a segurança nacional. Apesar de ser pró-choice, e de estar distante da mensagem mais conservadora do Partido Republicano, não tocou sequer nesses assuntos. E fez da sua campanha um referendo às politicas dos democratas e de Barack Obama. Ganhou em toda a linha, e mostrou também aos membros do seu partido como se pode ganhar eleições em regiões tradicionalmente democratas. Terá sido também uma lição para o Partido Republicano. Não por acaso, ontem vi Rick Santorum, antigo senador republicano da Pennsylvania, da ala mais conservadora do GOP, a defender a teoria da Big Tent, algo que me surpreendeu bastante. Esta campanha, a exemplo do que já tinha sucedido com as vitoriosas campanhas de Jon Corzine em New Jersey e Bob McDonnell na Virgínia, irá contribuir para pacificar as guerrilhas internas entre conservadores e moderados no Partido Republicano, dirigindo as suas baterias para os democratas. A política é tramada, e as vitórias podem unir aquilo que seria impensável noutros tempos.

 

Em abono da verdade, a democrata Martha Coakley fez uma péssima campanha. Assente na verdade absoluta, ontem desmentida, que um democrata ganharia sempre esta eleição especial, tirou férias depois de vencer as primárias realizadas no mês de Dezembro. Nessa altura teria uma vantagem de mais de 30% sobre o seu adversário.  O agora Senador Scott Brown não deixou de fazer o seu trabalho, explorando bem o sentimento anti-governo que da população. Quando foi publicada uma sondagem da Rasmussen, no dia 4 de Janeiro, em que apenas tinha 9% de vantagem, soaram os alarmes no quartel-general democrata, mas ai já era tarde. Os republicanos já se tinham preparado para atacar estas eleições. Conforme se pode ver nesta sucessão de sondagens, a subida de Brown foi imparável. Coakley ainda teve o apoio de pesos pesados, como Bill Clinton e Barack Obama, e pelo meio foi cometendo gaffes embaraçosas, como a de ter chamado a Curt Schilling um “Yankee Fan”, ele que é uma lenda dos Boston Red Sox. A candidata era má, mas o que a derrotou foi o enorme descontentamento que existe nos Estados Unidos sobre as políticas da liderança democrata. E isso irá, sem dúvida, mudar a agenda da Administração Obama.Ou pelo menos, nada ficará igual depois de ontem. 

 

 

O segundo ano começa da pior forma para Barack Obama. Mas este resultado pode também ter efeitos positivos para os democratas. Ontem na MSNCB, um dos comentadores afirmava que esta derrota pode contribuir para impedir o desastre em Novembro. Resta saber como irá Barack Obama reagir, e corrigir o rumo mais à esquerda que tinha vindo a evidenciar na politica interna. 

 


A mim parece-me que é mais um caso de "all politics are local" do que propriamente uma derrota da agenda de Obama, e do que fui seguindo da corrida, o principal factor foi mesmo a péssima campanha de Martha Coakley, que Scott Brown aproveitou magistralmente. Tivesse o candidato sido Mike Capuano, e a história era bem capaz de ser outra...
A questão, para mim, é que leitura fazer desta derrota. A narrativa de que é uma derrota das propostas de Obama não me convence. Parece-me mais um castigo à incapacidade que os Democratas demonstraram de tomar acções decisivas, assumi-las sem medo, e vendê-las aos eleitores por cima da berraria da extrema-direita de Limbaugh & Cia. Como disse Bill Clinton: "people would rather be with someone who is strong and wrong than weak and right."
Pode ser que aprendam com o susto.
Vega9000 a 20 de Janeiro de 2010 às 23:52

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