27
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 14:46link do post | comentar | ver comentários (7)

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Na semana passada Bernie Sanders venceu os estados de Idaho e Utah com votações que andaram perto dos 80% (e perdeu o Arizona com 40%); ontem, o senador pelo Vermont conseguiu este impressionante desempenho: Alasca 82%, Havai 70% e Washington (estado) 73%. 

 

No cômputo destas seis eleições, Sanders angariou mais delegados vinculados que a sua adversária Hillary Clinton, mas sem fazer grande mossa na vantagem da antiga Secretária de Estado (a atribuição de delegados pelo estado de Washington não está ainda concluída, contudo, e era aí que ontem se atribuía a esmagadora maioria de delegados). Há também um importante busílis para Sanders: é que, além dos delegados vinculados, o sistema das primárias democráticas nomeia um número não desprezável dos chamados super-delegados, delegados não vinculados, independentemente dos resultados eleitorais, num total que ronda os 700, ou seja, cerca de um terço do total de delegados necessários a uma maioria na convenção do partido. Estes super-delegados representam basicamente a máquina do partido e têm alinhado esmagadoramente com Clinton: até agora, 469 para ela e apenas 29 para Sanders.

 

É certo que, super-delegados à parte, Clinton conseguiu até agora mais votos que Sanders - ela própria recentemente realçou isso, ao dizer, inclusivamente, que, entre os candidatos de ambos os partidos, é ela quem mais votos até agora angariou. Isso é um facto, mas também em 2008 ela conseguiu mais votos que o então Senador Barack Obama, mas este, ao concentrar os seus esforços nos "caucuses" (onde a participação é menor que nas primárias propriamente ditas), ganhou a maioria dos delegados. Sanders tem tido um especialmente bom desempenho precisamente nos "caucuses", e Clinton ganhou a vantagem que tem essencialmente devido ao seu robusto desempenho nos estados do Sul. Quanto ao facto de a antiga Primeira Dama ter até agora mais votos que qualquer republicano, isso é um argumento especioso, dado que, durante bastante tempo, as primárias republicanas foram disputadas por um elevado número de concorrentes, que entre si foram dividindo os votos. E, já agora, números contra números, as primárias republicanas têm tido uma substancialmente maior participação.

 

Ao contrário do que sucede no campo republicano, no qual, a partir de 15 de Março, a maioria das primárias atribui os delegados ao vencedor na sua totalidade (embora com algumas nuances), entre os democratas essa atribuição é sempre proporcional. Isso se, por um lado, permitiu a Sanders não ficar irremediavelmente derrotado com as primárias do Sul, torna também agora uma sua eventual recuperação mais difícil, pese embora o terreno a ele essencialmente favorável daqui até ao final.

 

Uma coisa é certa: uma vez que continua a vencer primárias e a angariar fundos, e dado a característica essencialmente ideológica e militante da sua campanha, Bernie Sanders dificilmente deixará de ir até ao fim, na primária do Distrito de Columbia a 14 de Junho. Um esforço meritório, galhardo, mas basicamente pírrico.

 

 

 

Foto: "caucus" democrático em Seattle, Washington

Elaine Thompson/Associated Press

 


24
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 17:50link do post | comentar

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As primárias e "caucuses" do dia 22 quase passaram despercebidas, mas não foram assim tão insignificantes, pelo menos em certos aspectos:

 

- pela primeira vez, um candidato republicano teve mais de 50% dos votos: Ted Cruz no Utah, com 69%, seguido de John Kasich com 17% e Donald Trump com 14%. Ao ultrapassar os 50% neste estado, Cruz angariou a totalidade dos respectivos delegados (40).

 

- no Arizona, estado que atribui todos os delegados (58), na primária republicana, ao vencedor, Trump venceu com 47%, para 25% de Cruz e 10% de Kasich. De notar que, dada a votação antecipada que já ocorrera antes da desistência de Marco Rubio, o senador pela Flórida angariou bastantes votos, os quais, contudo, mesmo que transferidos na íntegra para Ted Cruz (um cenário muito pouco plausível), apenas teriam mitigado a sua derrota. As posições anti-imigração de Trump foram decerto bastante populares entre os republicanos do Arizona, um dos estados mais directamente afectados pela imigração clandestina.

 

- entre os democratas, persiste o bom desempenho de Bernie Sanders, que neste dia conseguiu perto de 80% (!) tanto no Idaho como no Utah e 40% no Arizona, ganho por Hillary Clinton. Sanders arrecadou assim, nestes estados, mais delegados que Clinton.

 

No dia 26 há três "caucuses" democráticos mas, depois disso, teremos de esperar por 5 de Abril para a próxima primária, de ambos os partidos, no Wisconsin, onde a corrida republicana parece estar renhida entre Trump e Cruz.

 

Em termos de delegados, a contagem está assim: 

 

Republicanos: Trump 739, Cruz 465, Rubio 166, Kasich 143

Democratas: Clinton 1.690, Sanders 946


21
Mar 16
publicado por Nuno Gouveia, às 21:35link do post | comentar | ver comentários (4)

As primárias republicanas de 2016 podem terminar com uma "convenção contestada", algo que não sucede desde 1976, quando Gerald Ford chegou à convenção de Kansas City sem os delegados necessários para obter a nomeação na primeira votação. No Partido Democrata, a última vez que tal aconteceu foi em 1980, numa disputa ganha pelo Presidente Jimmy Carter contra o senador Ted Kennedy. Se na era moderna da política americana este fenómeno é muito invulgar, até à introdução generalizada das primárias da década de 70, depois da reforma McGovern-Fraser, era mais comum. As lendárias convenções decididas pelos "party bosses" em "smoke-filled room" eram habituais, com as decisões a serem tomadas à porta fechada*. Para tal acontecer este ano, nenhum candidato pode atingir os 1237 delegados, o que é possível, pois ao contrário de outros anos, Donald Trump vai ter oposição até ao final das primárias. Apesar de me parecer que Trump deverá mesmo chegar muito perto desse número, se não o ultrapassar mesmo, este é um cenário em que vários republicanos do movimento #NeverTrump estão a trabalhar para impedir o milionário nova iorquino de se transformar no líder republicano. Se Trump não conseguir obter os 1237 delegados na primeira votação na Convenção de Cleveland, então os seus delegados vão se libertando da obrigação de votarem nele e tudo pode acontecer. Mesmo nomear um candidato que não tenha tido a votos nestas primárias. Improvável mas não impossível. E é nisso que apostam os seus opositores no Partido Republicano. 

Em 1976, o presidente Gerald Ford chegou à convenção à frente mas sem os 1130 delegados necessários para vencer a nomeação à primeira votação. Ronald Reagan, antigo governador da Califórnia, chega a Kansas City com a aspiração de derrotar o Presidente e anuncia que o seu candidato a vice presidente seria o senador da Pensilvânia, Richard Schweiker, para convencer a ala moderada do partido a apoiá-lo. O problema para Reagan foi que os conservadores não gostaram da sua escolha e muitos deles decidiram apoiar Ford, que ganhou a nomeação com 1187 delegados contra os 1070 de Reagan. Depois de perder a votação, Reagan declarou o apoio a Ford, terminando com a frase "There is no substitute for victory, Mr President". Gerald Ford perdeu para Jimmy Carter e passado quatro anos, na convenção de Detroit, tentou negociar a sua entrada no ticket republicano como Vice Presidente de Reagan. O acordo chegou mesmo a estar quase concluído, mas Reagan à última hora optou por George H. Bush. 

1952 foi um ano em grande para as convenções contestadas. No lado do Partido Republicano, Robert Taft e Dwight Eisenhower defrontaram-se na Convenção de Chicago, não para escolher o nomeado republicano, mas sim para escolher o Presidente. Depois de 20 anos de domínio democrata e com a popularidade do Presidente Harry Truman pelas ruas da amargura, era quase certo que o Partido Republicano iria recuperar a Casa Branca. Foi também um confronto entre os centristas e os conservadores, uma réplica da história da década anterior e posterior no GOP. Thomas Dewey, nomeado republicano em 1944 e 1948, optou por não se candidatar, mas conseguiu convencer o herói da II Guerra Mundial, o general Dwight Eisenhower, a candidatar-se pela ala moderada (curiosamente, também tinha sido "namorado" pelo Partido Democrata). Robert Taft, representante da ala conservadora do partido, tentou pela última vez ser o nomeado contra os moderados. Esta foi uma convenção cheia de truques de ambos os lados, com Einsenhower a ganhar na primeira votação com 845 votos contra 280 de Taft. No entanto, no inicio da Convenção o número de delegados era muito equilibrado, mas as manobras na convenção fizeram pender a vitória para o general. Para equilibrar o ticket, o Einsenhower nomeou um jovem senador da Califórnia, Richard Nixon. Também em Chicago, o Partido Democrata reuniu-se para escolher o sucessor de Harry Truman. E foi a última vez que nenhum partido escolheu o seu candidato à primeira. Nas duas primeiras votações, o senador do Tennessee, Estes Kefauver liderou, sem no entanto chegar à maioria dos delegados. Mas o governador do Illinois, Adlai Stevenson, que nem sequer era candidato no inicio da convenção, cedeu aos esforços de alguns party bosses e avançou para a luta pela nomeação. Apesar de destroçado popularmente, o apoio de Harry Truman viria a ser decisivo para a vitória de Adlai Stevenson na terceira votação. Passado quatro anos, voltaria a ser candidato e derrotado nas presidenciais de 1956. 

Muitas mais histórias de ambos os partidos haveria para contar. A mais conhecida do grande público, até pelo excelente livro de Doris Kearns Goodwin, Team Rivals, foi em 1860 na segunda convenção da história do Partido Republicano, quando o desconhecido Abraham Lincoln derrotou os favoritos William H. Seward, Salmon P. Chase e Edward Bates. A mais longa de todas foi no Partido Democrata em 1924, quando foram necessárias 103 votações para escolher John W. Davis, que derrotou o candidato apoiado pelo Ku Klux Klan William G. McAdoo, que chegou a ter 47% dos delegados na 77ª votação. Com uma furiosa oposição do governador de Nova Iorque, o católico Al Smith, Davis acabou por ser o candidato da reconciliação,

 

* Sobre este tópico aconselho o filme "The Best Man", escrito por Gore Vidal e realizado por Franklin Schaffner com Henry Fonda. 


16
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 17:17link do post | comentar | ver comentários (2)

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Das cinco primárias ontem disputadas (Florida, Ohio, Carolina do Norte, Illinois e Missouri), Donald Trump venceu quatro. Um "score" assinalável é certo, mas:

 

- No Missouri venceu apenas por 0,2% 

- Na Carolina do Norte venceu apenas por 3,4%

 

Nestes dois estados, segundo as sondagens à boca das urnas, Ted Cruz (segundo em ambos), teria sido o vencedor se Marco Rubio tivesse já saído da corrida (fê-lo ontem á noite). No Missouri ainda não está feita totalmente a atribuição de delegados (alguns estados que atribuem todos os delegados ao vencedor fazem-no círculo a círculo, além de atribuirem delegados a nível estadual, o que significa que um candidato derrotado no estado, caso vença num ou mais círculos, angaria também delegados). A Carolina do Norte atribui-os proporcionalmente, pelo que a diferença de delegados entre Trump e Cruz foi de apenas dois (29-27).

 

- No Ohio, estado que atribui todos os delegados ao vencedor, sem consideração por círculos eleitorais, John Kasich, ao vencer, angariou a totalidade dos 66 delegados do estado.

 

Já na Flórida e no Illinois, o êxito do magnata de Nova Iorque foi assinalável em termos de delegados mas, mais uma vez, e muito principalmente no segundo desses estados, beneficiou da divisão entre os seus adversários (votação no Illinois: Trump 39%, Cruz 30%, Kasich 20%, Rubio 9%).

 

A percentagem média de votos de Trump teve ontem uma boa subida (na Flórida, por exemplo, teve 46% dos votos - Kasich conseguiu 47% no Ohio, já agora). A sua média no total de primárias e "caucuses" já disputados está agora nos 37%. Este número explica também por que motivo Trump continua aquém de um número de delegados que lhe permita desde já cantar vitória, embora, depois de ontem, as suas perspectivas tenham melhorado. De facto, conquistou até agora cerca de 47% dos delegados, precisando, portanto, de conquistar 54% dos ainda por atribuir. Daqui para a frente há terreno que se lhe tem revelado desfavorável e terreno onde tem tido bons resultados. Tudo dependerá também do modo como se articular a oposição a Trump, ou seja, dos votos tácticos e da permanência ou não do Governador do Ohio na corrida.

 

Parece, pois, bastante provável, que Trump chegue à convenção republicana em Cleveland com o maior alfobre de delegados, mas continua a ser incerto que lá chegue com a maioria deles, ocorrendo assim a tão falada "brokered convention". O próprio Trump não parece muito seguro de obter a maioria, pois já recentemente disse que o partido deveria nomear quem tivesse mais delegados e ontem advertiu para o perigo de motins em Cleveland, caso não seja ele o nomeado.

 

Entre os democratas, Hillary Clinton venceu as cinco primárias, embora, tal como no campo republicano, o resultado no Missouri tenha sido muito renhido (os mesmos 0,2% de diferença!), e no Illinois tenha ganho por apenas 2%. Mas depois do "susto" do Michigan, conseguiu evitar semelhante desfecho em estados com semelhanças, como os dois que referi. Bernie Sanders está, claramente, cada vez mais numa luta inglória.

 

Termino com a situação actual em termos de delegados, dos dois lados:

 

Republicanos (1.237 dão maioria): Trump 661, Cruz 406, Rubio 169 (campanha suspensa), Kasich 142

Democratas ( 2.382 dão maioria): Clinton 1599, Sanders 844 

 

 

 


13
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 16:49link do post | comentar | ver comentários (1)

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Numa altura em que a actualidade anda a ser dominada pelos confrontos em comícios de Donald Trump, ocorreu-me a maior manifestação de violência política na América do pós-guerra, a Convenção Democrática de 1968, em Chicago.

 

Norman Mailer imortalizaria o episódio no seu livro "Miami and the Siege of Chicago" (em Miami tinha tido lugar a Convenção Republicana, que nomeara Richard Nixon como candidato do GOP).

 

https://www.youtube.com/watch?v=1Iye1NQy1NY

 

 


publicado por Alexandre Burmester, às 15:41link do post | comentar

John Kasich lidera a mais recente sondagem para a primária do Ohio, na terça-feira. Aqui o temos em declarações, hoje, à Fox News.

 

http://video.foxnews.com/v/4798408719001/john-kasich-donald-has-created-a-very-toxic-environment/?intcmp=hpvid1#sp=show-clips


12
Mar 16
publicado por Nuno Gouveia, às 10:00link do post | comentar | ver comentários (9)

Nem estas intervenções, de grande qualidade de Ted Cruz e Marco Rubio, salvam a honra do Partido Republicano. Donald Trump, o provável nomeado do partido, está a levar o partido de Abraham Lincoln e Ronald Reagan para a extrema-direita xenófoba e populista. Será que o GOP tem salvação? Tenho muitas dúvidas. 

 


09
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 18:45link do post | comentar

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Algumas notas sobre as primárias de ontem.

 

Para variar, começo pelos democratas, pois foi aqui que se registou a grande surpresa do dia. De facto, Bernie Sanders, contra todas as sondagens e vaticínios, obteve uma das maiores surpresas eleitorais dos últimos anos, ao vencer a primária democrática do Michigan. Foi uma vitória por apenas 1,5% dos votos, é certo, mas todas as sondagens davam a Hillary Clinton vantagens muito folgadas.

 

Como foi esmagadoramente derrotado no Mississippi, o senador pelo Vermont acabou por recolher menos delegados que a sua adversária no dia de ontem. De qualquer modo, terminaram as primárias no "Deep South", terreno que se revelou especialmente favorável à antiga Secretária de Estado. Os olhos estão agora postos noutros grandes estados industriais, semelhantes, portanto, ao Michigan, onde se realizam primárias no próximo dia 15: Illinois e Ohio. Também aqui as sondagens não favorecem Sanders, mas a sua vitória no Michigan poderá dar uma nova dinâmica à sua campanha.

 

Clinton continua a ser, de longe, a favorita, até porque cerca de um terço dos delegados necessários à obtenção de uma maioria na convenção democrática (uns 700) estão na categoria dos chamados "super-delegados", e representam largamente a máquina partidária (o "establishment", para se usar um termo que tem vindo a ser muito aplicado na corrida republicana, bastante mais democrática neste aspecto, já agora). Além disso, tem já uma larga maioria no número de delegados conquistados. Mas, como já anteriormente referi, a permanência de Sanders na campanha representa um incómodo assinalável para Clinton.

 

Entre os republicanos, o fenómeno da divisão dos votos entre vários candidatos continua a favorecer Donald Trump, em termos de vitórias, que não em termos de delegados conquistados (ontem, voltou a angariar menos que a soma dos conquistados pelos seus antagonistas).

 

É certo que, perante os resultados do último sábado, Trump ontem conseguiu estancar uma aparente hemorragia. Venceu o estado mais importante do dia, o Michigan, mas com 37% dos votos, contra 25% e 24%, respectivamente, de Ted Cruz e John Kasich (a disputar, finalmente, terreno mais favorável para si). Juntou-lhe uma vitória no Mississippi e uma no Havai, este último um estado pouco importante em termos de delegados. Ted Cruz ficou em segundo em todos estes três estados e venceu no Idaho.

 

A próxima Terça-Feira apresenta-se, portanto, como um dia crucial para a corrida republicana. Se Marco Rubio e Kasich não vencerem os seus estados de Flórida e Ohio, respectivamente, é difícil ver como poderão manter-se na corrida, especialmente o primeiro, sobre cuja manutenção na corrida até esse dia vêm, inclusivamente, levantando-se dúvidas. E a partir desse dia, inclusive, a maior parte das primárias atribuirão a totalidade dos delegados ao respectivo vencedor.

 

Para terminar: sondagens nacionais dos últimos dias, com confrontos virtuais entre apenas dois dos candidatos republicanos, dão vantagem tanto a Cruz como a Rubio sobre Trump (Kasich não foi considerado). O "establishment" republicano, para grande parte do qual Ted Cruz também era, até há pouco, anátema (mais pelo seu estilo que pelas suas propostas políticas, diga-se), está, lentamente, a tentar acomodar-se à ideia de que Cruz poderá ser o último obstáculo à nomeação de Trump.


06
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 22:50link do post | comentar

Sábado 5 de Março pode vir a ficar na História como o dia em que a candidatura de Donald Trump começou a soçobrar. Ou não. 

 

É indesmentível, como ponto de partida desta análise, que a aura de quase invencibilidade do bilionário de Nova Iorque sofreu um golpe neste "Semi-Super Sábado". Com efeito, e com excepção dos "caucuses" de Iowa, foi esta a primeira jornada eleitoral em que Donald Trump não só não venceu mais eleições que os rivais, como até conquistou menos delegados que um deles, e isto em contraste com o que as sondagens faziam prever.

 

Não sou de opinião que as sondagens estivessem todas erradas. Para além das dificuldades técnicas que a realização de sondagens sobre "caucuses" encerram (Maine, Kentucky e Kansas tiveram "caucuses"), parece muito provável que tenha havido flutuações de última hora no eleitorado, já não captadas pelas sondagens. É o caso, principalmente, da Louisiana, onde as últimas sondagens davam uma vantagem de entre 12 e 17 pontos a Trump, mas em que este acabou por vencer por apenas 3,6%. Com efeito, na contagem dos votos antecipados (os daqueles que votaram antes do dia das eleições), Trump tinha uma folgada margem mas, à medida que foi sendo feita a contagem dos votos do próprio dia, Ted Cruz foi-se aproximando, chegando a pôr em risco a vitória de Trump. No Kansas, a última sondagem dava uma margem da ordem dos 6% a Trump, e contudo Cruz venceu por uns avassaladores 25 pontos. No Kentucky houve mais uma disputa renhida, com Trump  a vencer Cruz por pouco mais de 4 pontos, e no Maine, território que parecia favorável a Trump, anterior vencedor das primárias em estados da Nova Inglaterra, e onde, ainda por cima, recebeu o apoio do respectivo governador, Cruz teve uma vitória surpreendente, com 13 pontos de vantagem.

 

A que se ficou a dever esta aparente viragem? O debate de 5ª feira passada deve ter influído, não só no desgaste da imagem de Trump, como na do seu principal atacante dessa noite, Marco Rubio, o qual pode assim ter muito bem cometido um suicídio involuntário, ao mesmo tempo que favoreceu a estratégia anti-Trump do "establishment" do partido (à falta de melhor expressão). Há também a forte possibilidade de muitos eleitores republicanos (e estas quatro eleições foram todas "fechadas", isto é, só de acesso a republicanos, situação em que Trump tem obtido resultados menos bons) estarem a decidir concentrar os votos no candidato que aparece com mais possibilidades de parar Trump, o Senador Cruz.

 

 

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A noite foi, sem dúvida, muito boa para o senador pelo Texas. Mas, exceptuando o Maine, estava em terrenos que, em princípio, lhe eram favoráveis. No dia 8 votam Havai, Idaho, Michigan e Mississippi, um espectro geográfico e demográfico mais diverso. No Michigan haverá também que prestar atenção ao desempenho de John Kasich, pois trata-se de um estado vizinho do Ohio, onde é o governador. Nesse dia poderemos talvez confirmar se as notícias acerca do declínio de Donald Trump eram ou não largamente exageradas, como diria Mark Twain.

 

Uma nota final para as primárias democráticas do mesmo dia 5: duas vitórias folgadas de Bernie Sanders, mais que compensadas por uma, também ela folgada, de Hillary Clinton no mais importante estado da noite, a Louisiana. Nada de novo, portanto, nesse campo. Sanders continuará na corrida, à espera de melhores dias, mas o seu destino está traçado. A sua permanência, contudo, não deixa de ser incómoda para Clinton, obrigando-a a tomar posições à Esquerda que poderão ser-lhe prejudiciais na eleição geral.

 

 


03
Mar 16
publicado por Nuno Gouveia, às 22:37link do post | comentar | ver comentários (7)

 

A nomeação de Donald Trump ainda não é uma realidade, mas depois dos resultados que já obteve e das sondagens conhecidas, é difícil encontrar um cenário em que não seja ele a acumular mais delegados até Junho. Aliás, o cenário de outro candidato atingir os delegados necessários para obter a nomeação antes da convenção é quase impossível. A única forma de impedir Trump de ser o nomeado republicano na Convenção de Cleveland será impedir que ele atinja os 1237 delegados e partir para uma "Brokered Convention". Neste cenário, caso nenhum dos candidatos atinja esses votos na primeira votação, voltaria a repetir-se a votação, mas já sem a obrigação das delegações votarem conforme os resultados eleitorais das primárias. Esse é o cenário mais plausível (e mesmo assim, pouco provável) de derrotar Trump.

 

É com este cenário que começa-se a formar-se um bloco conservador anti-Trump, apelando ao voto nos restantes três candidatos - Marco Rubio, John Kasich e Ted Cruz. Hoje Mitt Romney, anterior nomeado republicano, discursou perante o povo americano (os canais noticiosos cobriram em direto a sua intervenção), fazendo um apelo ao voto nos três candidatos, mediante o estado em disputa. Num emotivo e duro discurso, Romney repetiu alguns argumentos populares na direita americana contra Trump, alertando para os riscos que o movimento conservador americano incorrerá caso Trump seja o nomeado. Romney afirmou que Trump é uma "fraude" que tenta fazer dos americanos parvos e que uma vitória sua colocaria os Estados Unidos em risco, criando uma guerra comercial e fazendo entrar o país em recessão. Não deixou de atacar também o carácter xenófobo e misógino de Trump, dando os exemplos dos ataques aos mexicanos, aos muçulmanos e às mulheres. Romney afirmou mesmo que a integridade e a decência da democracia americana está em causa nestas eleições. Minutos depois, John McCain, nomeado republicano em 2008, disse que concordava com Romney e apelou à derrota de Trump.

 

Vários republicanos já afirmaram em público que nunca irão votar em Trump nas eleições gerais. Alguns eleitos, como o Governador do Massachusetts, Charlie Baker e o Senador do Nebraska, Ben Sasse, diversos congressistas e antigos governadores, como Tom Ridge da Pensilvânia e Christine Todd do New Jersey e algumas personalidades dos media, como Glenn Beck, Bill Kristol, Erick Erickson ou Peter Wehner. E depois da intervenção de Romney, será virtualmente impossível que ele não se junte ao movimento criado nas redes sociais #NeverTrump. Parece-me que esta revolta que temos assistido nas últimas semanas tem tido o efeito de suster o crescimento de Trump. Apesar de tudo, tem tido melhores sondagens do que resultados e na Super Terça-Feira apenas teve 35% dos votos, enquanto as sondagens apontavam para resultados bem melhores. Mas a falta da união na frente anti-Trump tem-lhe permitido ganhar e provavelmente irá continuar a ganhar. Diria que esta revolta devia ter aparecido antes das eleições começarem, pois parece-me que agora é tarde para parar Trump. 

 

O que isto significa para o Partido Republicano? O cenário mais provável neste momento é uma nomeação de Trump, com um clima de guerra civil dentro do partido. Mesmo que muitos dos que se têm oposto publicamente (ou nos bastidores, como o Speaker Paul Ryan e o Líder da Maioria no Senado, Mitch McConnell) acabem por declarar o seu apoio a Trump mais lá para frente, será um partido profundamente dividido que enfrentará Hillary Clinton. Caso venhamos a enfrentar uma "Brokered Convention", os apoiantes de Trump irão criar um clima de guerrilha nas ruas de Cleveland, que já há muitos a recordar os tumultos de 1968 na Convenção Democrata de Detroit. Hillary Clinton tem bons motivos para sorrir perante este caos no Partido Republicano.


02
Mar 16
publicado por Alexandre Burmester, às 13:43link do post | comentar | ver comentários (2)

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A Super Terça Feira de 1 de Março, se bem que não contrariando as expectativas gerais face às 

sondagens, acabou por ser melhor para Hillary Clinton que para Donald Trump.

 

Efectivamente, a favorita à nomeação democrática, tendo embora perdido para o seu concorrente Bernie Sanders quatro estados (Vermont, Oklahoma, Colorado e Minnesota) dominou completamente - e arrazadoramente -  nos estados do Sul e conseguiu até uma vitória tangencial no Massachusetts, terreno favorável ao seu rival.

 

Já no campo republicano, Trump venceu, de facto, sete dos onze estados em competição, mas antes da votação havia quem previsse, sem ser preciso grande arrojo, que poderia vencer nove, ou até dez estados. Ted Cruz acabou por ganhar confortavelmente o seu estado do Texas (44% v 27%), quando nos úlimos dias havia sondagens que davam os dois candidatos praticamente empatados. Além disso, Cruz venceu também o vizinho estado de Oklahoma e o Alasca. A vitória no Oklahoma tem um significado especial: tratava-se do único estado em que apenas republicanos podiam votar na primária do partido, e Cruz venceu com 34% contra 28% de Trump e 26% de um revitalizado Rubio. Este último conseguiu finalmente uma vitória, ao vencer o Minnesota (37% contra 29% de Cruz e 21% de Trump). O resultado do Minnesota mostra a potencial fraqueza de Trump no Midwest, como já anteriormente demonstrado nos caucuses do Iowa. Além disso, na Virgínia, onde as sondagens davam uma vantagem de 14 pontos a Trump, a sua vitória - sobre Rubio - acabou por ser apenas por uns apertados 3 pontos. A isto acresce a luta renhida que John Kasich opôs a Trump no Vermont, perdendo apenas por 2,3% dos votos.

 

O mais importante continua a ser, contudo, a acumulação de delegados às convenções nacionais por parte dos candidatos dos dois partidos, e foi aí que esta noite eleitoral não foi um retumbante sucesso para Donald Trump. Estavam em disputa 595 delegados do lado republicano, e Trump terá conseguido uns 245, o cenário mais pessimista, do seu ponto de vista, nas previsões pré-eleitorais. Além disso, a soma dos delegados conseguidos por Cruz, Rubio e Kasich - uns 320 - foi superior à de Trump. E, no cômputo geral de delegados até agora conquistados, Trump lidera, claro, mas com apenas 316 dos 1.237 delegados necessários a garantir a vitória. A partir de 15 de Março a maioria dos estados atribui a totalidade dos seus delegados ao vencedor da respectiva primária, o que poderá possibilitar a Trump um aumento da sua margem. A possibilidade de uma "brokered convention", uma convenção onde nenhum candidato chega com a maioria dos delegados, não é ainda de excluir totalmente, portanto, embora o favoritismo de Trump não tenha propriamente sofrido um sério abalo. Até porque, mantendo-se as candidaturas de Cruz e Rubio ambas em jogo, a unificação do bloco não-Trump continua adiada. Mas mais uma vez se viram os limites do apelo de Trump: a média da sua votação na noite de ontem foi de 36%, números bem aquém do normal para um líder das primárias nesta altura da campanha.

 

Já no lado democrático, a aritmética está a favorecer Clinton claramente: dos 2.382 delegados necessários a uma maioria, a antiga Secretária de Estado já angariou  1.000, contra apenas 371 de Sanders. Este continuará decerto na corrida, enquanto tiver fundos - e tem bastantes - e a sua rival não tiver conseguido a maioria dos delegados. E pode até fazer ainda alguns brilharetes. No final, tentará que algumas das suas propostas façam parte da plataforma democrática para a eleição geral, o que normalmente é pouco mais que simbólico.

 

 


01
Mar 16
publicado por Nuno Gouveia, às 21:59link do post | comentar

Um comentário meu à Rádio Universitária do Minho sobre as eleições de hoje nos Estados Unidos. 


publicado por Nuno Gouveia, às 19:56link do post | comentar

Um brilhante manifesto anti-Trump do comediante John Oliver. Este é o provável nomeado do Partido Republicano. 

 

 


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