Robert Gates, Secretário da Defesa de George W. Bush e Barack Obama, publicou um livro de memórias onde critica severamente a última administração a que pertenceu, onde Joe Biden, Hillary Clinton e o próprio Presidente ficam muito mal na fotografia. Através de excertos e de entrevistas de Gates, ficamos a saber que os anos em que passou no Pentágono a servir Obama terão sido repletos de discussões constantes com a Casa Branca. Obama é considerado um líder fraco, que não acreditava nas decisões militares que tomou em relação ao Afeganistão, e que desconfiava abertamente das intenções dos líderes militares. Revela ainda que os spin doctors da Casa Branca tentaram, muitas vezes com sucesso, orientar decisões sobre segurança nacional baseados em intenções políticas, e que a própria Hillary Clinton e Obama terão assumido que a oposição à "surge" no Iraque em 2007 do Presidente W. Bush deveu-se sobretudo a tácticas eleitorais. Joe Biden é descrito como um político ineficaz que esteve errado em todas as grandes opções americana de política externa dos últimos 40 anos. A crítica mais dura que faz ao Presidente é que ele não sentia grande empatia pelos soldados americanos envolvidos em combate, e que nunca respeitou as lideranças militares, apesar de, como é óbvio, apoiar os soldados.
Estas revelações causaram um profundo impacto no debate público americano, pois não é normal que um presidente em exercício seja confrontado com críticas de antigos membros da sua administração. São acusações graves, pois Barack Obama aumentou o contingente militar americano no Afeganistão em cerca de 30 mil soldados, quando aparentemente não acreditava nessa solução. Se não acreditava, para quê mandar soldados morrer em combate? No entanto, e como bem recordou John McCain, crítico do Presidente Obama, esta não é a melhor altura para Gates lançar um livro de memórias. Estando ainda os Estados Unidos envolvidos no Afeganistão, e numa luta sem quartel contra a Al-Qaeda, estas críticas de Gates diminuem o status do Presidente e colocam em causa o prestigio de Obama perante os militares. Robert Gates, que serviu presidentes como Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush, W. Bush e Obama, sempre foi cauteloso e discreto, muito respeitado em Washington. Não se percebe porque decidiu agora sair desse formato e apresentar-se desta maneira. Penso que teria sido mais correcto ter esperado pelo fim do mandato do Presidente Obama. A lealdade com que sempre serviu os presidentes americanos assim o exigiria.