31
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 17:48link do post | comentar

 

Uma análise política ao filme "Lincoln", no Cinebox da TVI24.pt, que estreia hoje em Portugal. Além da prestação de Daniel Day-Lewis, destaque para algum realismo histórico, o que nem sempre se observa neste tipo de filmes, e o afastamento daquela imagem quase perfeita e romanceada que por vezes se tenta passar de Lincoln. Vale bem a pena ir ver o filme.

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27
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 22:26link do post | comentar | ver comentários (2)

George W. Bush colocou na agenda do segundo mandato a reforma da imigração, cujo objectivo passava por abrir um caminho para a legalização de cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais a viver nos Estados Unidos. Após ter recebido mais de 40% do voto hispânico nas eleições de 2004, a concretização dessa reforma teria colocado o Partido Republicano no bom caminho para alcançar bons resultados eleitorais entre este segmento do eleitorado. A história é conhecida. A legislação introduzida por John McCain e o falecido Ted Kenney foi barrada no senado devido à oposição republicana, e desde então, até à última campanha eleitoral, o debate esteve contaminado por uma retórica agressiva contra os imigrantes ilegais. Barack Obama nem tentou passar a legislação nos primeiros dois anos do seu mandato, quando tinha maioria nas duas câmaras. Mas chegou a hora de resolver este problema. Os resultados eleitorais do Partido Republicano no eleitorado hispânico foram catastróficos, e poucos nesta altura acreditarão que haverá força das vozes oposicionistas para barrar legislação. 

 

Barack Obama já prometeu envidar esforços no sentido de criar um caminho para a legalização dos imigrantes ilegais neste mandato, e é bem possível que seja já no primeiro ano que o consiga fazer. Marco Rubio será um dos principais advogados do lado republicano, e já ganhou aliados importantes, como Paul Ryan, John McCain ou Lindsay Graham. Certamente haverá oposição de alguns republicanos, mas desta vez, ao contrário de 2007, não é de esperar um movimento tão forte de contestação à reforma. Do lado democrata, pouca ou nenhuma oposição deverá surgir. Um comité bipartidário do Senado está já a preparar legislação, onde estão presentes, além de Rubio, McCain do lado republicano, Dick Durbin e Robert Menendez do lado democrata. Será uma boa notícia para a América. 


22
Jan 13
publicado por José Gomes André, às 15:44link do post | comentar | ver comentários (2)

São hercúleos os desafios que esperam Obama: crise económica, reforma da saúde, problemas ambientais, controlo de armas, imigração, nova política energética – a nível interno. Instabilidade no Médio Oriente, relações difíceis com a Rússia e a China, a contenção do Irão – a nível internacional. Nada de muito diferente em relação a 2009, quando tomou posse pela primeira vez.

Hoje Obama tem todavia uma grande vantagem: por esta altura, ninguém espera, como no passado, que ele possa resolver todos aqueles problemas de uma só assentada. Obama tem diante de si uma agenda monumental, mas livre do messianismo que o perseguiu há quatro anos, pode agir recorrendo à “arte da política”, sem que a avaliação do seu desempenho esteja sistematicamente sujeita a uma comparação com o Rei Midas.

 

A nível interno, o maior desafio de Obama será lidar com a enorme bipolarização da política americana. O sistema político dos EUA assenta num sistema de “freios e contrapesos”, concebido para exigir permanentes lógicas de diálogo e construções de consensos entre os diversos agentes políticos. Todavia, os Pais Fundadores não contaram com as particularidades da modernidade, nomeadamente a radicalização ideológica e partidária, que têm minado o sistema e servido como autênticos mecanismos de bloqueio, impedindo os referidos consensos e a tomada de decisões políticas céleres e resolutas. Desde 2004 que Obama defende uma agenda bipartidária e a “reconciliação da América”, mas raramente tem promovido ambas. Com os Republicanos a controlarem a Câmara dos Representantes, as suas capacidades de negociação serão severamente postas à prova neste segundo mandato.

 

O maior desafio de Obama é contudo um outro, que assola aliás em geral o Ocidente: preservar a estrutura fundamental do “Estado Social”, num quadro económico e demográfico mundial que não permite aos países desenvolvidos manter os mesmos níveis de despesa pública até aqui praticados. Se a nível interno a resposta para esta autêntica quadratura do círculo não foi ainda encontrada, no que toca à política externa e à Defesa, as orientações estão definidas: reduzir os gastos nuns impressionantes 400 mil milhões de dólares, cortando na ajuda a países em desenvolvimento, reduzindo os efectivos militares em vários continentes, diminuindo as operações de vigilância, etc.

Estas orientações têm implicações severas em toda a organização externa norte-americana e por consequência nos alinhamentos estratégicos do poder mundial. Se em alguns casos elas são sobretudo simbólicas (redução de bases militares na Europa, por exemplo), noutros significam uma efectiva retracção da influência norte-americana, que pode comprometer interesses futuros em áreas estratégicas vitais (designadamente o Médio Oriente e a Ásia).

 

Obama tem insistido que o recurso ao “soft power” (diplomacia, fortalecimento das relações comerciais, cooperação com as instâncias internacionais), aliado a um posicionamento militar mais diminuto, mas cirúrgico, será suficiente para manter a influência americana intacta, mas só o tempo dirá se os EUA continuarão a ser “a nação indispensável”. Mais um desafio para o mais desafiado Presidente americano.

 

[inicialmente publicado no site da TVI24; obrigado ao Filipe Caetano pelo convite]

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publicado por Nuno Gouveia, às 15:16link do post | comentar

 

 

Nos últimos dois meses Obama já tinha vindo a dar sinais desta viragem à esquerda, tendo ficado agora consumada com o discurso de tomada de posse. Num tom pouco habitual para estes momentos, Obama focou-se sobretudo em cinco áreas: armas, alterações climáticas, direitos dos gays, lei da imigração e defesa dos programas sociais. A América "liberal" rejubilou e os conservadores responderam com desdém. Agora falta o embate com a realidade, que não será assim tão dócil como o Presidente Obama desejaria, pois é difícil adivinhar como poderá ter sucesso em algumas destas suas invocações. Pelo menos nos próximos dois anos. Apesar da sua vitória clara de Novembro, a América continua a ser um país profundamente dividido, e as diferenças de opinião que existiam antes não terminaram. Além disso, nem Reagan nem Nixon, que tiveram vitórias com cerca de 60% dos votos, distantes do que Obama conseguiu, aprovaram tudo o que queriam. Precisamente porque não tinham a maioria no Congresso. Adivinho até que esta viragem à esquerda no discurso do Presidente poderá reanimar de novo as hostes conservadoras. Vamos por pontos. 

 

 

 


20
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 20:54link do post | comentar | ver comentários (2)

 

O estado de graça não dura para sempre. No site da TVI24. 

 

PS: amanhã estarei a partir das 16 horas na TVI24, nos estúdios do Porto, a acompanhar a tomada de posse de Barack Obama. O José Gomes André estará a partir de Lisboa. 

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13
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 22:43link do post | comentar | ver comentários (4)

 

Zero Dark Thirty, um filme de Kathryn Bigelow que está nomeado para os Óscares, está desde já envolto em polémica devido ao tema da tortura e das técnicas de interrogatório utilizados pela CIA durante os anos que se seguiram ao 11 de Setembro. O filme conta a história de alguns elementos da CIA na caça de Osama Bin Laden, que culminou em 2011 com a eliminação do líder da Al-Qaeda no Paquistão. Zero Dark Thirty, que contou com a colaboração de informações vindas da Administração Obama, esteve para estrear antes das eleições presidenciais, mas acabou por ser exibido apenas recentemente nos Estados Unidos devido às criticas de sectores conservadores na época, que temiam fosse um acto de propaganda em favor de Barack Obama. Na realidade, essas críticas mostraram-se completamente infundadas, pois o que é relatado no filme, a acreditar na sua história, é apenas a história dos elementos da CIA que desde 2001 lideraram a caça a Bin Laden e poucas referências são feitas às administrações Bush e Obama.

 

O inicio do filme é poderoso e marcante, e que provoca a polémica actual. Nessas primeiras cenas vemos um elemento da Al-Qaeda a ser interrogado por dois operativos da CIA num seus dos famosos black sites, sendo que um deles recorre ao Waterboarding, à privação do sono e à música de heavy-metal para quebrar o prisioneiro. Não sendo bem claro no filme se foram estes métodos que levaram à informação sobre o correio de Bin Laden, a realidade é quem visiona o filme fica claramente com a sensação que o prisioneiro cede ao interrogatório e revela o nome da pessoa que viria a levar a CIA, anos depois, até à casa onde Bin Laden se refugiava no Paquistão. E é aqui que a polémica rebenta: os senadores John McCain (R), Diane Feinsten (D, e Carl Levin (D) criticaram violentamente o filme por mostrar que as técnicas de interrogatório da CIA contribuíram decisivamente para eliminar Bin Laden. Na verdade, as informações que têm saído sobre este tema nos últimos anos têm sido contraditórias: vários membros da Administração Bush, como o antigo director da CIA, Michael Hayden ou o Procurador Geral, Michael Mukasey, têm afirmado que esses métodos foram importantes para o processo Bin Laden, o que tem sido negado por vários políticos com acesso à informação privilegiada, como os referidos senadores. E em quem acreditar nesta história toda? Isso fica para cada um decidir de acordo com as informações conhecidas publicamente.

 

Que houve elementos da Al-Qaeda que foram submetidos a actos questionáveis, como o Waterboarding ou a privação de sono, isso é um facto. Se esses métodos foram eficazes na obtenção de informação relevantes, penso que nunca saberemos com toda certeza. O que temos assistido é que quem defende a utilização desses métodos em situações extremas afirma que foram eficazes. Quem é contra, diz que o inverso. Estes métodos deixaram de ser sancionados pelo governo americano nos últimos anos de Bush. A luta contra o terrorismo prosseguiu nos últimos anos, com a Administração Obama a aumentar a utilização de Drones para eliminar terroristas da Al-Qaeda, com grande sucesso, sendo que a sua captura deixou de ser uma prioridade. O que seria melhor? Capturá-los para retirar informações ou simplesmente eliminá-los? Um debate que ganha contornos ainda mais interessantes, quando Obama nomeou para a CIA John Brennan, que esteve directamente envolvido na espionagem da agência nos anos Bush. Zero Dark Thirty estreia esta semana em Portugal, sendo que tem recebido boas críticas. A ver e retirar ilacções. 


12
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 19:12link do post | comentar | ver comentários (1)

No primeiro mandato, Obama escolheu Robert Gates para a Defesa, Hillary Clinton para o Departamento de Estado e Leon Panetta para a CIA, que depois foi para a Defesa e substituído por David Petraeus. Talvez com excepção de Panetta (que, apesar de tudo, era um dos homens de Bill Clinton), tudo nomes que não faziam propriamente parte do inner circle de Obama. Gates e Petraeus foram escolhas de George W. Bush do seu último mandato. Hillary Clinton foi sua rival nas primárias democratas. Para este segundo mandato, e depois da decepção do caso de Susan Rice (outra protegida), Obama optou por homens da sua total confiança. Chuck Hagel, apesar de republicano desavindo, era considerado bastante próximo de Obama ainda antes deste ser presidente. John Kerry já em 2008 tinha optado por Obama contra Hillary e era falado há imenso tempo para o cargo. Por outro lado, John Brennan, a sua opção para a CIA, já em 2008 tinha sido a primeira escolha, mas o seu nome acabaria por cair depois de ter sido conhecido o seu apoio e envolvimento nos métodos de interrogatório que a CIA utilizou durante os anos W. Bush. Fora segurança nacional, Obama também optou por nomear para o Tesouro Jack Lew, seu actual Chefe de Gabinete. O que isto nos diz sobre este segundo mandato?

 

Depois de no primeiro mandato ter optado por nomes que em diversos momentos estiveram em campos opostos, como Hillary Clinton e o próprio Joe Biden, agora Obama está claramente a optar por pessoas da sua estrita confiança pessoal e política. Se em 2008 tivemos um Obama a ser comparado com Lincoln, que também ele preencheu os lugares na sua Administração por antigos rivais, como os seus antigos adversários da nomeação republicana, William Seward, Salmon Chase e Edward Bates ou ainda Edwin Stanton, que tinha humilhado Lincoln anos antes deste assumir a presidência, desta vez preferiu optar por escolhas mais convencionais, dentro do que é normal. O que se pode esperar desta nova equipa de Obama, isto se forem todos confirmados no Senado? Um grupo mais coeso, e possivelmente, mais obediente, não havendo grande margem de manobra para divergências dentro da Administração. Pelo que se já se sabe do primeiro mandato, também não se pode dizer que tenha havido grandes guerras internas, com a excepção da equipa económica. Obama quer um grupo que pensa como ele e que não suscite grandes ondas às suas opções. Este governo irá garantir-lhe isso, sendo de esperar que os lugares de relevo ainda por confirmar, como no Conselho de Segurança Nacional e na chefia do seu gabinete, sejam também ocupados por homens do Presidente. Este será, sem dúvida, um governo mais à sua imagem. Veremos se funcionará para melhor ou pior. 

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09
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 21:52link do post | comentar | ver comentários (4)

 

O Alexandre já destacou aqui Richard Nixon, dividindo o seu legado em duas facetas: o político, que ficou com má fama, e o estadista, onde alcançou grandes feitos. Gostaria de me debruçar especificamente sobre a longa carreira política de Nixon, que começou em 1946 e terminou apenas em 1974, após a sua demissão com Watergate. Um percurso repleto de vitórias e derrotas, que o colocam como o verdadeiro "político" americano do pós guerra, tendo apenas paralelo num outro político de excepção da sua época, Lyndon Johnson, também ele extremamente hábil na arte, se assim lhe podemos chamar, da política. 

 

Depois de ter estado na Marinha durante a II Guerra Mundial, Nixon foi eleito congressista pela Califórnia em 1946, tendo chegado a Washington como um feroz anti-comunista, imagem essa que lhe foi imensamente útil durante toda a sua carreira política. A fama chegou passado dois anos, quando se destacou na comissão de actividades anti-americanas, contribuindo decisivamente para denunciar o célebre caso de Alger Hiss, um alto funcionário do Departamento de Estado da Era Roosevelt, que na época foi acusado de ser um espião soviético. Apesar de Hiss ter sido condenado por perjúrio, já neste século diversos investigadores concluíram que de facto tinha sido um espião ao serviço da URSS. Nixon, após ter ganho notoriedade nacional, rapidamente começa a pensar em destronar o senador democrata da Califórnia Sheridan Downey, sendo que este nem chegou a ir a votos em 1950. Já no Senado, Nixon continua a fortalecer a sua imagem anti-comunista, criticando a condução da guerra da Coreia pelo Presidente Truman e mantendo também relações cordiais com o famoso senador do Wisconsin Joseph McCarthy, sem no entanto envolver-se muito com as suas actividades. Ao mesmo tempo, Nixon votou a favor de leis que apoiavam os direitos civis das minorias. Quando o Partido Republicano nomeou o general e herói de guerra, Dwight Eisenhower, os party bosses do GOP (na época fundamentais nas nomeações dos partidos) optaram por indicar Richard Nixon, um jovem senador de 39 anos do grande estado da Califórnia, e com impecáveis credenciais anti-comunistas. Foi uma forma de satisfazer a base conservadora do Partido, depois da nomeação de Eisenhower. Nessa campanha presidencial, Nixon teve a seu cargo a os ataques e críticas aos democratas, lançando as bases para o papel actualmente destinado aos candidatos a VP: o de attack dog. Nixon aproveitou os seus oito anos de Vice Presidente para reforçar a sua experiência internacional, viajando por todo o mundo e conhecendo líderes diversos países, e envolvendo-se em episódios como aquele fantástico debate da cozinha que o Alexandre referiu

 

 

 


publicado por Alexandre Burmester, às 17:09link do post | comentar

 

 

 

 

Nesta série de apontamentos acerca da carreira de Richard Nixon, acho que o famoso "Debate da Cozinha" não podia faltar.

 

Com efeito, tratou-se, muito possivelmente, da única discussão pública de que há memória entre dois políticos de países diferentes. Richard Nixon, então Vice-Presidente (1953/1961), e o mais conhecido combatente da Guerra Fria americano, deslocara-se a Moscovo para a inauguração da Exposição Nacional Americana, em 1959.

 

Durante a digressão pela exposição, e ao chegarem à zona onde se demonstrava as modernas técnicas ao serviço das donas de casa americanas nas cozinhas de suas casas, Nixon e o líder soviético Nikita Khrushchev travaram-se de razões e protagonizaram uma acesa discussão. Parte do debate, em tom já mais moderado, chegou a ser gravado em vídeo. Mas talvez a mais famosa tirada de Nixon nesta discussão tenha sido quando Khrushchev, minimizando a tecnologia americana exposta na "cozinha", disse a Nixon que, também eles, soviéticos, gozavam de grandes padrões de vida e que desde já o convidava a visitá-lo no Kremlin quando ele, Khrushchev, festejasse 90 anos, ao que Nixon famosamente retorquiu: "Não me diga que, nessa altura, ainda vai estar no poder sem eleições!" E isto em público, e traduzido inclusivamente para o público soviético.

 

O "Debate da Cozinha" aumentou a popularidade de Nixon nos E.U.A. e tê-lo-á tornado o inevitável candidato republicano às eleições presidenciais de 1960.

 

 

PS: Deixo aqui um relato de uma testemunha deste debate: William Safire, à época representante do fabricante da casa-modelo em exposição e, mais tarde, "speechwriter" do Presidente Nixon.

 


publicado por Alexandre Burmester, às 13:36link do post | comentar | ver comentários (4)

 

 

Conforme o Nuno abaixo refere, celebra-se hoje o centenário do nascimento de Richard Milhous Nixon, 37º Presidente dos Estados Unidos (1969/74).

 

Quando Nixon morreu, em Abril de 1994, a revista Time quebrou a sua tradição de só publicar fotografias de pessoas vivas na sua capa, salientando que, àquela data, o antigo presidente era a pessoa que mais vezes ali surgira. Isto dá bem uma ideia da presença dominante de Nixon na política americana, desde que foi eleito para a Câmara dos Representantes em 1946, e mesmo para além da sua demissão em 1974, pois teve um ressurgimento uns anos mais tarde, tendo terminado a sua vida no papel de estadista veterano que os políticos - e o público - gostavam de ouvir.

 

Na realidade, pode dizer-se que houve dois "Nixons": o político combativo, que em campanha tinha o dom de irritar os adversários, que o alcunharam de "Tricky Dick", aspecto que culminou no caso Watergate, que fez com que Nixon, enredado numa comédia de equívocos, se tornasse o primeiro presidente dos E.U.A. a demitir-se. O mais irónico do caso Watergate é que, se as famosas gravações da Casa Branca em alguma coisa ajudaram Nixon, nos milhares de horas de conversas do presidente não há um único segundo que mostre que Nixon tivera conhecimento antecipado do assalto à sede do Partido Democrático no edifício Watergate. Mas ao incentivar o encobrimento do caso, viu-se acusado de obstrução de justiça, e a sua impugnação pela Câmara dos Representantes parecendo inevitável, Nixon demitiu-se.

 

Além deste Nixon "de campanha", tivemos o Nixon estadista, o homem de grande visão estratégica, a qual culminou na sua famosa iniciativa em relação à China e não menos famosa visita àquele país em 1972, a qual deixou o Mundo positivamente embasbacado. Começou aí o processo de abertura da China ao Mundo.

 

Figura complexa e que não deixava ninguém indiferente (as pessoas ou o adoravam ou o detestavam), Nixon detém o "recorde" de presenças no "ticket" presidencial americano (5), pois foi três vezes candidato presidencial e duas vezes candidato a vice-presidente.

 

Na sua extensa e monumental biografia de Nixon, em três volumes, o historiador americano Stephen E. Ambrose começa por dedicar a obra aos seus dois irmãos, "que asseguraram que, entre os irmãos Ambrose, Nixon ganhou sempre por 2-1", e termina-a  com esta sintomática frase: "Quando Nixon se demitiu, a América perdeu mais do que ganhou".

 

 

Na foto: Fevereiro de 1972: Mao Tsé Tung recebe Nixon em Pequim

 


publicado por Nuno Gouveia, às 11:40link do post | comentar

Richard Nixon nasceu a 9 de Janeiro de 1913. Congressista, Senador, Vice-presidente e Presidente. Personalidade única do século XX, nos Estados Unidos e no mundo. Hoje que se assinala os 100 anos do seu nascimento, iremos publicar aqui alguns destaques à sua vida. 


07
Jan 13
publicado por Alexandre Burmester, às 08:11link do post | comentar

A famosa composição de Irving Berlin, um homem para sempre grato à grande terra que o acolheu, na sua interpretação original, por Kate Smith, ainda nos tempos da rádio.

 

PS: aos 4:20 minutos surge o jovem actor Ronald Reagan, lendo um jornal.


06
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 14:14link do post | comentar

Chuck Hagel, antigo senador republicano do Nebraska. Depois de ter recuado na intenção de nomear Susan Rice para o Departamento de Estado, Obama não quis voltar a fazer o mesmo com Hagel para o Pentágono. Mas a verdade é que esta escolha tem tudo para provocar uma batalha acesa no Senado pela sua confirmação. Tendo sido um forte opositor à Guerra do Iraque, conquistou vários inimigos dentro do seu partido, e em 2012 ofereceu mesmo o seu apoio a Barack Obama, depois de em 2008 ter-se recusado a apoiar John McCain. Dificilmente terá o apoio de muitos republicanos nas sessões de confirmação. Mas também do lado democrata pode surgir oposição feroz: por um lado, no passado teceu declarações contra o gays, que o colocam em maus lençóis entre a ala mais liberal do partido. Mas também devido às suas posições menos favoráveis a Israel, o que poderá colocar vários democratas contra Hagel. Será a primeira batalha de Obama em 2012 no Congresso. Para Obama conseguir a confirmação de Hagel precisará de duas coisas: angariar republicanos para a sua causa e limitar os danos ao mínimo no seu partido. Não será fácil.


05
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 00:56link do post | comentar | ver comentários (2)

Nancy Pelosi decidiu inovar e mandou acrescentar nesta fotografia, através do Photoshop, as congressistas democratas que não conseguiram estar presentes na foto. Uma maneira diferente de apresentar as boas vindas ao 113º Congresso dos Estados Unidos da América.

 

Uma palavra também para John Boehner, que foi ontem eleito novamente Speaker da Câmara dos Representantes, apesar das ameaças de alguns republicanos. O congressista do Ohio é o 53º na longa lista de Speakers, que começou em 1789 com Frederick Muhlenberg. Apesar de ser o terceiro na hierarquia dos Estados Unidos, apenas um Speaker chegou a Presidente: James Polk, que esteve na Casa Branca entre 1845 e 1859 pelo Partido Democrata. No entanto influentes personalidades da história americana ocuparam este cargo: Henry Clay, o poderoso político do Kentucky da primeira metade do Séc. XIX; os republicanos James Blaine, que foi Secretário de Estado de Benjamin Harrison e James Garfield, e Thomas Brackett Reed, que ocupou o cargo no final do Séc. XIX e talvez o mais influente Speaker até à data; os democratas John Carlisle, que além de ter sido Speaker durante a década de 1880, foi também Secretário do Tesouro de Groover Cleveland e Senador do Kentucky, e já no século XX, o famoso Sam Rayburn, Speaker durante 17 anos (o que esteve mais tempo no cargo) e que passou por três presidentes: Frank D. Roosevelt, Harry Truman e Dwight Eisenhower. Mais recentemente, dois destacaram-se pelo papel que tiveram na luta político-partidária e pelos entendimentos que chegaram com Presidentes de partidos adversários. O democrata Tip O'Neill, que apesar de um relacionamento tenso com o Presidente Reagan, nunca deixou de negociar e alcançar sucesso em importantes peças legislativas, e o republicano Newt Gingrich, que depois de um inicio tumultuoso com Bill Clinton, que levou mesmo ao "encerramento" do governo, conseguiu negociar e aprovar legislação importante. 


03
Jan 13
publicado por Era uma vez na América, às 16:45link do post | comentar

  

 

Num ano em que Barack Obama venceu a campanha de reeleição, não poderia deixar de ser considerado a personalidade do ano nos Estados Unidos. A vitória não foi fácil, e Obama teve mérito. Mas não esteve sozinho nessa conquista. Seleccionamos mais dois "parceiros": os seus estrategas de campanha, aqui representados por David Plouffe e David Axelrod, que conseguiram executar uma campanha que anulou os adversários republicanos; e por fim, o eleitor branco, que representou a menor percentagem de sempre numas eleições presidenciais. Se a demografica fosse a mesma do que em 1980, Mitt Romney teria ganho com um landslide. A América mudou. 


02
Jan 13
publicado por Nuno Gouveia, às 23:15link do post | comentar | ver comentários (8)

O Alexandre já referiu aqui que o acordo nada resolve na situação dramática que as contas públicas americanas atravessam. Independentemente das "politiquices" que se vivem em Washington, e ambos os partidos devem ser responsabilizados, a verdade é que nada no acordo ataca de frente os problemas estruturais, com uma dívida que já vai em 16,3 Biliões de dólares (no inicio do mandato de Obama era de 10 Biliões). Obviamente este é um problema que não começou com Obama, mas que se agravou durante o seu primeiro mandato. Os democratas, tendo alcançado uma vitória clarificadora em Novembro, tinham todo o direito de impor as suas condições, cedendo ligeiramente na questão de qual o tipo de famílias que sofreu um aumento de impostos. Percebe-se que os republicanos tenham cedido em quase toda a linha, pois não houve cortes na despesa, como tinham exigido anteriormente. As eleições têm consequências. Mas a verdade é que se Obama não atacar de frente o problema do despesismo do estado federal, terá um segundo mandato muito difícil. Não pela oposição republicanas, mas simplesmente porque a situação não é sustentável durante muitos mais anos. 

 

Nota para três republicanos com pretensões para 2016: Marco Rubio e Rand Paul, que votaram contra (e muito bem, diga-se, estrategicamente falando) e Paul Ryan, que votou a favor. Este é um mau acordo para republicanos (e diria para os americanos também). Mas também é óbvio que algo teria de ser feito para evitar o aumento generalizado de impostos. Uma posição populista de Rubio e Paul, que antevê já uma disputa acesa com Ryan em 2016.

 

Este acordo tem apenas uma nota positiva para os republicanos: consagra, definitivamente, os Bush Tax Cuts do inicio da década passada, que deste modo se tornam efectivos, com a excepção dos que ganham mais de 400 mil dólares. E essa é uma vitória para George W. Bush, ver democratas e republicanos unidos a concordarem com a sua polémica proposta. 


publicado por Alexandre Burmester, às 17:25link do post | comentar | ver comentários (6)

À última hora - de facto, já depois da meia-noite de 31/12 - um compromisso impediu a queda dos EUA no "Abismo Fiscal".

 

Por meio deste compromisso, apenas aumentaram os impostos para os indivíduos que auferem mais de $400.000/ano e casais com mais de $450.000/ano - o Presidente Obama pretendia subir os impostos naquelas categorias para quem ganhasse mais de $200.000 e $250.000, respectivamente, enquanto que os republicanos se opunham a qualquer aumento de impostos. Mas a questão da despesa não foi abordada, mantendo-se inalterada, o que representa um adiamento da questão.

 

O acordo foi conseguido com uma maciça votação favorável no Senado - apenas 8 senadores votaram contra - mas, sintomaticamente, na Câmara dos Representantes a maior parte dos republicanos opôs-se ao acordo (o voto final foi 257/167).

 

Dentro de dois meses há outra batalha, a que respeita à subida do tecto de endividamento do governo federal, sem a qual este último não poderá fazer face às suas obrigações. Decerto que os republicanos irão exigir os cortes na despesa de que agora, relutantemente, abdicaram, para darem o seu apoio ao aumento do referido tecto.

 

O acordo esteve na iminência de não ser atingido, e o Presidente Obama, ao desafiar publicamente os republicanos antes de ele ser concluído, contribuíu para esse risco. Mais uma vez pairou por cima de Washington como se não fizesse parte do sistema político, tendo delegado no Vice-Presidente Joe Biden as negociações com os republicanos. Este último negociou directamente com o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, tendo o líder da maioria democrática, Harry Reid, sido praticamente posto de lado.

 

Isto foi apenas um adiar do problema, como referi. A questão fundamental é que o orçamento federal mantém um monstruoso deficit, o qual se não resolverá sem grandes cortes na despesa, nomeadamente na Defesa, no Medicare (sistema de apoio na saúde aos idosos), no Medicaid (sistema de apoio na saúde aos mais pobres) e na Segurança Social. Não é aumentando os impostos aos "2%" (na linguagem de Obama, mas o aumento agora aprovado apenas atingirá os 1% com mais rendimentos) que o deficit federal desaparecerá ou diminuirá. A realidade acabará por ter de sobrepor-se à demagogia e à ideologia.

 


01
Jan 13
publicado por Era uma vez na América, às 19:00link do post | comentar

   

 

Desatre eleitoral do GOP - A vitória de Barack Obama terá sido o grande acontecimento do ano, mas como reservamos outro espaço para representar essa vitória, optamos por seleccionar o resultado calamitoso do Partido Republicano, que, quando tinha tudo para recuperar a maioria no Senado e até para vencer a Casa Branca, foi derrotado em toda a linha, que nem a manutenção da maioria na Câmara dos Representantes serviu como consolo. Os resultados eleitorais provam que o GOP precisa de um novo realinhamento político para poder competir a nível nacional.

 

Furacão Sandy - Em plena campanha eleitoral, as forças da natureza irromperam pela Costa Leste e imobilizaram a região durante dias. Além dos estragos que causou, serviu ainda para alguns considerarem que foi peça essencial para a vitória de Obama. Não somos dessa opinião, mas a verdade é que durante esses dias serviu como importante tónico para a campanha de Obama. 

 

Massacres (Newtown, Aurora, Azana Spa) - O ano de 2012 terminou com um massacre na escola primária de Newtown, voltando a colocar o debate do controlo de armas na agenda mediática. Na verdade, este ano aconteceram diversos incidentes com armas que, se não tivesse sido ano eleitoral, teria provocado mais cedo este debate. Mas como não interessava a nenhum partido nem ao Presidente Obama este debate em cima de eleições, ficou adiado para o final do ano, após o massacre de Newtown. Veremos o que sairá daqui. 


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