Mitt Romney encetou um périplo internacional que o levará à Grã-Bretanha, Polónia e Israel. Este é o tipo de digressão que os candidatos presidenciais com menores credenciais em política externa vêm sentindo necessidade de efectuar. Já em 2008 Barack Obama fez o mesmo, visitando a inevitável Grã-Bretanha e efectuando até uma espécie de comício em Berlim, perante uma adoradora multidão. Alguns - uns com admiração, outros com cinismo - disseram estar-se perante "o candidato europeu" às eleições presidenciais americanas.
Mas além de procurar ganhar credenciais em política externa, Romney procurará decerto nesta digressão estabelecer um contraste com a política externa de Obama. Esta última, mercê essencialmente da retirada americana do Iraque (aliás já programada por George W. Bush, e porventura apenas possível devido ao famoso "surge" militar americano naquele país no tempo dele) e ao audacioso e bem sucedido ataque à residência de Osama bin Laden, e consequente morte do líder da Al Qaeda, tem até sido considerada, ao contrário do que muitas vezes tem sucedido com presidentes democratas, uma das vertentes bem sucedidas do mandato de Obama.
Mas mesmo assim, há aspectos da política externa de Obama que têm sido alvo de crítica dos republicanos. Logo à partida, aquilo que eles consideram como negligência, e até indiferença, de Obama para com o mais tradicional aliado dos E.U.A., a Grã-Bretanha, cujas tropas, convém não esquecer, formam o segundo maior contingente no Afeganistão, tal como já o haviam feito no Iraque. De facto, a "Relação Especial" entre as duas potências anglo-saxónicas, que vem essencialmente do tempo da Segunda Guerra Mundial e da dupla Churchill-Roosevelt (na foto) já terá conhecido melhores dias, e, por exemplo, não caiu bem em certos meios britânicos, nem entre os republicanos, a decisão de Obama de devolver à Embaixada Britânica em Washington o busto de Churchill que esta emprestara no tempo de George W. Bush. Num gesto simbólico, Romney já anunciou que pedirá de novo emprestado o referido busto.
Apesar das suas efusões anglófilas, Romney não começou bem esta sua incursão na política externa e nas relações com o velho aliado, como o Nuno Gouveia já aqui referiu. Mas tratar-se-á de pormenores pouco importantes, e o Reino Unido não seria atá o principal objectivo desta viagem - Romney, aliás, como CEO dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 em Salt Lake City, fora convidado a deslocar-se a Londres, a propósito da abertura da Olimpíada de 2012. A aliança anglo-americana é tão importante que nunca seria a devolução de um busto ou uns comentários infelizes acerca do grau de preparação dos britânicos para o arranque dos Jogos Olímpicos que a poriam em causa.
Os principais objectivos desta viagem de Romney serão então as outras duas etapas da mesma, Polónia e Israel. No caso polaco, ainda não cessaram as reverberações da decisão unilateral de Obama de cancelar a instalação do escudo anti-míssil previsto para território polaco, cujo principal objectivo era, aliás, o de defender o Ocidente de um Irão com possível capacidade nuclear e munido de mísseis inter-continentais. Dada a oposição russa à instalação desse escudo, Obama acabou por decidir pelo seu cancelamento, mas o facto de não ter consultado os aliados polacos antes de tomar tal decisão caiu mal em Varsóvia e entre os "falcões" da política externa americana. Na Polónia Romney, que decerto se absterá de criticar abertamente o presidente do seu país enquanto numa digressão pelo estrangeiro - estabelecendo novo contraste com Obama, que em 2008 foi acusado de não se ter coibido de criticar Bush na sua viagem pela Europa - tentará passar a mensagem de que os E.U.A., sob uma sua eventual administração, tratarão sempre bem os aliados, preferindo abraçá-los a eles que aos inimigos e rivais. Este é um tema antigo da política externa republicana, e só mesmo um homem com as credenciais anti-comunistas e de política externa de Richard Nixon podia dar-se ao luxo de abraçar inimigos e rivais, como nas suas famosas viagens a Pequim e Moscovo em 1972, e ao Cairo em 1974. Mas fazia-o a partir de uma posição de força.
A mais simbólica etapa do périplo de Romney será contudo, certamente, Israel. Tanto no estado judaico como em determinados círculos americanos existe a percepção - e a crítica - de que Obama é o presidente dos E.U.A. menos amistoso para com Israel desde a criação daquele país. Neste seu primeiro mandato não visitou o estado judaico, e ainda esta semana tivemos o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, a recusar-se a responder a uma pergunta - algo provocatória, é certo - de uma jornalista sobre qual cidade a Administração Obama considerava ser a capital de Israel. Portanto, em Israel, Romney decerto fará juras de amor eterno para com a pátria dos judeus. Não será tanto entre a comunidade judaica americana - que tradicionalmente vota democrata numa média de 70% - que o candidato republicano almejará ganhar grandes simpatias com esta sua visita, mas convém não esquecer que o eleitorado americano em geral é significativamente pró-israelita.
Seja como for, a política externa não é o tema principal desta campanha. Mas é sempre conveniente e de bom tom um candidato mostrar-se sintonizado com a arena internacional.