Saíu recentemente o quarto volume da biografia de Lyndon Johnson da autoria de Robert Caro, este intitulado "The Passage of Power". Já vamos em quatro volumes e cerca de três mil páginas e ainda só estamos em 2 de Julho de 1964, dia em que Johnson promulgou a Lei dos Direitos Civis, o ponto máximo da sua carreira.
A carreira política de Johnson não se distinguiu, diga-se, pela honorabilidade, dado que, segundo Caro, desde o liceu que Johnson se habituara a ganhar eleições fraudulentamente. No segundo volume desta biografia, "Means of Ascent", Caro denuncia, inclusivamente, a vitória fraudulenta de Johnson na sua primeira eleição para o Senado em 1948, além de sugerir - o que não constitui propriamente uma grande surpresa - que LBJ também teve uma "mãozinha" no resultado do Texas nas presidenciais de 1960. Isto é uma alegação historicamente significativa, pois, juntamente com as "manobras", digamos assim, da máquina democrática de Chicago, terá permitido a vitória de John Kennedy sobre Richard Nixon.
Mas a eleição de 1960 deixa hoje poucas dúvidas acerca da sua limpeza (ou falta dela). O que importa aqui salientar é o magistral retrato de um homem complexo e algo neurótico, mas ao qual a História não tem feito a devida justiça. O nome de Johnson ficou essencialmente associado ao fiasco da Guerra do Vietname, mas a Lei dos Direitos Civis é um marco de monta na história americana e na civilização ocidental. Convém referir que John Kennedy não conseguira fazer aprovar essa lei, a qual concedia direitos iguais aos negros, à época ainda vítimas de grande discriminação nos estados do Sul. E isso, mesmo contando com maiorias em ambas as câmaras do Congresso, só que o Sul, embora quase completamente democrático desde o fim da Guerra Civil, se opunha a essa legislação. O Partido Democrático era, até essa altura, uma desconfortável coligação de liberais do Nordeste e de conservadores do Sul, zona do país onde o Partido Republicano - o partido de Abraham Lincoln - não existia na prática.
Usando a sua experiência adquirida como líder da maioria no Senado entre 1954 e 1960, Johnson conseguiu fazer aprovar a lei, embora, num à-parte, tenha dito, profeticamente: "Aquele sacana do Richard Nixon vai-nos limpar o Sul e torná-lo um bastião republicano". De facto, foi a partir daqui que os republicanos, dos quais a maior figura na altura era, de facto, o então antigo Vice-Presidente Richard Nixon, ressurgiram no Sul, o que não deixa de ser irónico, pois tanto Nixon como quase todas as principais figuras republicanas eram a favor da legislação.
Para se ter uma ideia do modo como as opiniões se dividiam acerca da matéria, refiro que a lei passou no Senado com 46 votos democráticos a favor e 21 contra, e 27 votos republicanos a favor e 6 contra. Não há dúvida que o principal obstáculo à sua passagem residia nos democratas do Sul.
Há muito que Lyndon Johnson almejava a presidência, e candidatou-se nas primárias democráticas de 1960. Nunca acreditou muito nas hipóteses de sucesso da candidatura de John Kennedy, que considerava um "um playboy rico e preguiçoso". Esse seu excesso de confiança acabaria por ser-lhe fatal, acabando, contudo, por aceitar o lugar de candidato a Vice-Presidente. Mas entre Johnson e os Kennedy nunca houve grande amor, especialmente entre ele e Robert Kennedy, que acabaria por ferir fatalmente a sua recandidatura em 1968.
Aguardo com expectativa a sequência desta monumental biografia.
Robert Caro: "The Years of Lyndon Johnson: Volume 4, The Passage of Power, Bodley Head (edição inglesa).