Hoje Barack Obama e George W. Bush encontraram-se na Casa Branca para inaugurar o retrato presidencial de George W. Bush. Mas a fotografia mais comentada do dia foi esta. Uma conversa entre Joe Biden e Karl Rove. O que estariam eles a conversar?
Hoje Barack Obama e George W. Bush encontraram-se na Casa Branca para inaugurar o retrato presidencial de George W. Bush. Mas a fotografia mais comentada do dia foi esta. Uma conversa entre Joe Biden e Karl Rove. O que estariam eles a conversar?
A maioria dos analistas políticos estão convencidos que estas eleições vão ser renhidas. Os números da Gallup de ontem davam um empate e é bem provável que essa previsão se mantenha durante muito tempo. Larry Sabato, professor da Universidade da Virgínia, deixa-nos hoje um exercício interessante sobre o significado das sondagens neste momento da corrida. A conclusão é simples: muito pouco. Sabato analisou as sondagens da Gallup no mês de Junho em todos os anos de eleições presidenciais desde 1980 e apenas por duas vezes o resultado das eleições se aproximou das sondagens de Junho.
Em Junho de 1980 Jimmy Carter liderava Ronald Reagan por 39%-32%, com John Anderson, um republicano de Illinois que se candidatou como independente, com 21%. Como Sabato recorda e bem, a campanha foi bastante renhida quase até ao fim, e uma semana antes das eleições, as sondagens apontavam para um empate técnico. Foi apenas nos últimos dias da campanha que Reagan disparou, acabando por vencer com 51%, seguido de Carter com 41% e Anderson com 7%. Na campanha da reeleição, as sondagens deste mês já deixavam antever uma vitória confortável de Reagan, que se confirmou com 59% contra os 41% de Walter Mondale.
Em 1988 por esta altura Michael Dukakis liderava confortavelmente George H. Bush, com 52%-38%. O Vice Presidente de Reagan acabaria por vencer com 53% dos votos. Passado quatro anos, com Bush a afundar-se nas sondagens, era o independente Ross Perot quem liderava as preferências dos americanos, seguido de Bush com 31% e Clinton com 25%. O resultado de Novembro foi bem diferente: Clinton com 43%, Bush com 37% e Perot com 19%. Na campanha de reeleição, pela a última vez as sondagens voltaram a acertar em Junho, pois já nessa altura colocavam Clinton à frente com 49% contra 33% de Bob Dole e 17% de Perot. O resultado final seria ligeiramente diferente, mas com larga vantagem para Clinton.
Em 2000 George W. Bush liderava Al Gore com 5 pontos de vantagem por esta altura, mas sabemos como as eleições acabaram: Bush venceu os votos no Colégio Eleitoral mas perdeu no Voto Popular. Em 2004, por esta altura adivinhava-se uma Presidência Kerry, como Senador do Masshusetts a ter 49% das intenções de voto contra os 43% de Bush. Por fim em 2008, em Junho McCain liderava Obama por 46%-45%, num dos raros momentos em que esteve na dianteira (a outra foi depois da convenção republicana, antes da crise do Lehman Brothers rebentar). Por esta altura as sondagens pareciam indicar uma eleição bem disputada, mas Obama acabou por ser eleito com relativa facilidade.
Dito isto, é provável que este ano seja um dos que a Gallup acerta em Junho. A menos que aconteça algo excepcional nesta campanha, diria que Obama e Romney vão ter entre 48% e 52%. E não ficaria nada surpreendido que voltassem a acontecer situações idênticas às de 2000.
Mitt Romney ao vencer a primária do Texas ultrapassou ontem o número mágico dos 1141 delegados necessários para obter a nomeação, que apenas será formal na Convenção de Tampa, que irá decorrer neste próximo mês de Agosto. Mais tarde analiserei o que precisa de fazer Mitt Romney para vencer e quais os próximos passos da sua campanha.
Num ano em que um presidente se recandidata, as primárias do seu partido não têm normalmente história, embora haja, por exemplo, as notáveis excepções de Lyndon Johnson em 1968 (acabou por se retirar da corrida), Gerald Ford em 1976 e George H.W. Bush em 1992.
Os três presidentes que acima mencionei tiveram candidatos de relevo contra si, e nenhum deles ganhou em Novembro. Não é esse o caso do Presidente Obama, contra o qual nenhum candidato sério surgiu.
Mas que conclusões tirar das primárias democráticas nos estados de Arkansas, Kentucky e West Virginia? Sem ninguém contra si, Obama ficou abaixo dos 60% nesses três estados, incluindo 59% no último daqueles estados contra um concorrente que está a cumprir pena de prisão no Texas.
Estes números parecem denotar pouco entusiasmo na base democrática, que o Presidente terá de motivar para conseguir ser reeleito.
Hoje recorda-se todos os mortos em combate ao serviço dos Estados Unidos. Feriado com origem na Guerra Civil, este é um dos dias mais emblemáticos para os cidadãos americanos. O Presidente Obama vai estar no Cemitério Nacional de Arlington a homenagear todos os soldados que morreram no Vietname, assinalando o 50º aniversário do inicio do conflito.
Neste dia a Gallup publica uma sondagem que indica que a maioria dos veteranos americanos prefere Romney a Obama (58-34).
A Fundação Luso-Americana (FLAD) vai promover um ciclo de conferências dedicado às eleições presidenciais nos Estados Unidos, em parceria com a Embaixada dos EUA em Portugal e o American Club. O ciclo irá decorrer entre Maio e Novembro deste ano, e vai trazer a Lisboa um conjunto de especialistas e profissionais ligados ao mundo político internacional.
Primeira conferência a 30 de Maio - 18h30 - Auditório da FLAD, Lisboa
A primeira conferência do ciclo, intitulada “As escolhas das primárias e a campanha nos media”, terá como convidados Pedro Adão e Silva, professor no ISCTE e doutorado em Ciência Política e Pamela Rolfe, jornalista norte-americana, correspondente de vários media britânicos e norte-americanos em Madrid. Esta primeira sessão contará ainda com a participação de estudantes universitários do ISCTE. A entrada é livre.
Mais informações em www.flad.pt
Ainda é cedo para dizer se a estratégia de campanha negativa de Obama está a resultar. As sondagens estão praticamente na mesma (empate técnico) e não há grandes indicações sobre o modo como os americanos estão a reagir a esta ofensiva do Presidente. Mas há sinais preocupantes para Obama, nomeadamente pelas reacções negativas que recebeu de companheiros de partido ou pela forma como a imprensa tem vindo a relatar esta fase da campanha. É esperado que nas próximas semanas prossiga esta estratégia da campanha, e lá para final Junho veremos se Obama conseguiu deslocar de Mitt Romney. Uma coisa é certa: Mitt Romney tem conseguido manter-se coerente e dentro da mensagem desde que as primárias terminaram (depois de ter cometido vários erros) e os seus números na angariação de fundos têm sido surpreendentemente positivos, ameaçando a vantagem financeira que Obama sempre teve.
Sobre a estratégia de Obama, aconselho este excente artigo do Politico:
That’s the unmistakable reality for Democrats since Obama officially launched his re-election campaign three weeks ago. Obama, not Mitt Romney, is the one with the muddled message — and the one who often comes across as baldly political. Obama, not Romney, is the one facing blowback from his own party on the central issue of the campaign so far – Romney’s history with Bain Capital. And most remarkably, Obama, not Romney, is the one falling behind in fundraising.
A CNN é certamente o canal de notícias mais famoso do mundo. E, arrisco-me a dizer, o que tem mais credibilidade. A revolução que introduziu no panorama noticioso em todo o mundo só terá paralelo com a MTV na música. A televisão fundada por Ted Turner, em Atlanta em 1980, fez escola e iniciou aquilo que hoje chamamos de ciclo noticioso de 24 horas. Por lá passaram alguns dos nomes mais famosos da área, como Bernard Shaw, Larry King, Peter Arnett ou Wolf Blitzer e Anderson Cooper que ainda lá estão. Mas entretanto a concorrência aumentou, primeiro nos Estados Unidos e depois no mundo, e a CNN foi perdendo influência. Até chegar aqui.
Nos últimos anos a CNN foi relegada para terceiro canal de notícias dos Estados Unidos, atrás da MSNBC e da Fox News, tendo atingido há duas semanas o pico negativo nas audiências em horário nobre. Por vezes tem sido mesmo ultrapassada pela HLN, um canal de notícias do grupo da CNN. Enquanto a Fox News assumiu um pendor conservador, especialmente nos horários da noite, a MSNBC para fazer o contraponto transformou-se num canal "liberal", no sentido americano. No meio ficou a CNN, tentando manter-se com uma cobertura tendencialmente neutra (apesar das críticas que normalmente recebe dos conservadores). Isto transformou a CNN, a outrora televisão mais influente da política americana, num canal quase irrelevante. Nos últimos anos os administradores da estação têm tentado de tudo para recuperar as audiências. Enquanto as grelhas da Fox News e MSNBC têm-se mantido estáveis e com poucas alterações, na CNN tem sido um corrupio de mudanças. Ainda ano passado tentaram ter um programa de opinião em horário nobre, com o antigo governador de Nova Iorque, o democrata Eliot Spizer e Kathleen Parker, uma comentadora de centro-direita. Mas, e como tem sucedido quase sempre, este programa foi um fracasso. Este ano lançaram o jornalista tabloide Piers Morgan no último horário da noite, mas o inglês tem tido audiências miseráveis. Por enquanto a situação financeira ainda não é preocupante, mas já se anunciam mudanças para breve. Como antigo espectador da CNN, gostava que esta recuperasse algum do fulgor, mas temo que tal não vá suceder.
Mitt Romney deu hoje uma entrevista a Mark Halperin na Time onde explora o seu argumento biográfico para derrotar Barack Obama. Segundo o republicano, enquanto ele teve 25 anos no sector privado, além dos Jogos Olímpicos de Inverno em Salt Lake City e foi governador do Massachusetts, o currículo de Obama resume-se à política. Em tempos de crise, Romney pretende utilizar as suas credenciais económicas para convencer os americanos a entregarem-lhe as chaves da Casa Branca. Como defende Karl Rove, os candidatos devem ser atacados precisamente nos seus pontos fortes. É isso que Obama tem feito com estes ataques à Bain Capital.
Não será novidade para ninguém que acompanha este blogue. Sempre defendi que a estratégia de Barack Obama ira ser esta: uma campanha negativa para destruir a credibilidade de Mitt Romney perante os americanos, aliás, muito ao estilo das tácticas utilizadas por George W. Bush em 2004. Desde o final das primárias republicanas a equipa de Obama lançou duas ofensivas mediáticas, devidamente acompanhadas pelos tradicionais anúncios televisivos e pelos diversos estrategas espalhados pelos media a apoiar essa estratégia. No final do mês de Abril, para assinalar o primeiro aniversário da morte de Osama Bin Laden, surgiu um anúncio onde era sugerido que Mitt Romney não teria tomado a decisão de enviar os Navy Seals para eliminar o líder da Al Qaeda. Na semana passada, nova ofensiva contra Romney, desta vez por causa da Bain Capital e do seu passado como investidor. Pelo meio surgiram algumas iniciativas da campanha de Obama sobre o seu mandato, mas o tom está lançado: será uma campanha negativa e não vai ser bonita de acompanhar. A Hope and Change deu lugar ao Seek and Destroy. Os americanos estão dispostos a mudar, e essa a percepção que tem sido transmitida pelas sondagens. A melhor forma de Obama se manter na Casa Branca é descredibilizar Romney.
Até ao momento é difícil saber se Obama está a ter sucesso. Alguns democratas têm denunciado os seus métodos e isso tem prejudicado os intentos do Presidente. Romney tem mantido uma disciplina de ferro, concentrando-se sobretudo na economia e não se desviando dela. Romney aposta sobretudo em colocar o desemprego e os indices económicos como temas desta campanha. Quem vencer esta batalha: descredibilização de Romney Vs resultados económicos do mandato de Obama irá provavelmente ser eleito em Novembro.
A campanha de Obama para caracterizar Mitt Romney como um capitalista ganancioso, que referi na semana passada, prossegue e tem tido desenvolvimentos notáveis. Se algum sucesso tem tido esta acção de Obama tem sido colocar em discussão o passado de Mitt Romney como homem forte da Bain Capital. Hoje lançaram mais um vídeo a explorar uma empresa onde a Bain não teve sucesso. Mas a estratégia de Obama sofreu um grande revés com duras criticas vindas do Mayor de Newark, Cory Booker, uma estrela em ascensão no Partido Democrata, quando ontem no Meet The Press defendeu que estava "enojado" e que se sentia desconfortável com este tipo de ataques. Esta "gaffe" do democrata tem sido explorada pelos republicanos, apesar de hoje já ter vindo retratar-se em público. Por outro lado, estes ataques têm sido criticados por diversas figuras da imprensa americana, e foi revelado também que colaboradores da Bain Capital têm sido financiadores de vários democratas, incluindo do próprio Barack Obama. Como disse anteriormente, esta é uma "batalha" que pode ser decisiva nesta campanha. Se Romney conseguir escapar ileso destes ataques ao seu currículo de empresário, a Casa Branca poderá ficar mais perto.
Vai animada a discussão na blogosfera sobre o liberalismo americano e a figura de James Madison (entre o Samuel Paiva Pires e o Miguel Castelo Branco), que aliás até começou por se centrar na importância do contributo americano para um hipótetico federalismo europeu (ver Paulo Marcelo, Samuel Paiva Pires, Nuno Pombo e João Vacas, entre outros).
Em relação a Madison - e depois de ter escrito 400 páginas sobre o senhor - tenho dificuldade em avançar com opiniões sintéticas. Mas vale a pena tentar, pelo menos para sublinhar quão injusto é descrever a sua obra como "menor" ou "pouco original". Tal visão deriva de um erro comum - associar Madison quase exclusivamente ao "The Federalist" (1787-88) - quando, na verdade, a sua obra completa preenche mais de 50 volumes, com milhares de discursos, artigos de jornal, panfletos, cartas e peças de ocasião. Com efeito, os 29 textos que Madison escreveu para o "The Federalist" correspondem a menos de 1% da sua obra, que se espraia até 1836! Só quando consideramos esta imensa vastidão podemos apreciar verdadeiramente a sua relevante herança teórica.
Na realidade, Madison foi o primeiro autor a tematizar a ideia de federalismo, na sua dimensão teórico-conceptual e prática. Foi também o primeiro pensador a defender claramente as virtudes do pluralismo para uma sociedade livre, quebrando com o preconceito europeu nesta matéria (que fazia equivaler eficácia a homogeneidade). Madison foi ainda um dos primeiros autores a advogar o paradigma activo da liberdade religiosa (direito natural do indivíduo) por oposição ao conceito passivo da "tolerância" (mera concessão do governante). Foi o primeiro autor a defender abertamente as vantagens dos partidos para a vivência democrática. E foi um dos primeiros a abordar questões-chave do pensamento político moderno como o constitucionalismo, a ideia de cidadania, o princípio do "filtro representativo" e as virtudes da liberdade de imprensa. Já chega para pertencer ao Panteão dos grandes pensadores do Ocidente?
Quanto ao federalismo europeu e o "exemplo americano", remeto para um texto que escrevi há uns meses, destacando o seguinte trecho: "A preferir um verdadeiro federalismo, a Europa não se pode dar ao luxo de rejeitar um profundo debate teórico sobre os seus fundamentos. Neste contexto, é particularmente importante reaprender com o passado, enquanto se prepara um futuro alicerçado em soluções próprias. O caso norte-americano deve ser aqui peça modelar essencial, pelas suas inúmeras lições. Umas, históricas (federalismo americano também se ergueu sobre a cacofonia de treze Estados independentes e com poucas ligações entre si, após uma espinhosa crise institucional que se seguiu à Revolução). Outras, conceptuais: a importância de criar equilíbrios institucionais numa república federal (para não tornar opressiva nenhuma das estruturas políticas envolvidas); a necessidade de alicerçar a união política numa sanção popular; e o elogio do pluralismo, uma vez que a diversidade não é um obstáculo, é uma bênção."
Na semana passada referi que Obama ia investir este mês 25 milhões de dólares em importantes swing states. Mitt Romney, com as contas da sua campanha depauperadas depois da época de primárias, e com muito menos dinheiro angariado do que Obama, tem estado fora das televisões. Mas, e como tenho repetidamente escrito por aqui, as Super Pacs vieram mudar tudo. Hoje a American Crossroads de Karl Rove anunciou que este mês irá igualar o investimento de 25 milhões de dólares de Obama em anúncios televisivos. Este já está a ser transmitido em 10 estados: Colorado, Flórida, Iowa, Michigan, Carolina do Norte, New Hampshire, Nevada, Ohio, Pensilvânia e Virgínia. Definitivamente este ano não vai acontecer o mesmo do que em 2008, quando Obama foi o verdadeiro "rei" das televisões.
George W. Bush declarou hoje o seu apoio a Mitt Romney. Sem surpresa, esta decisão do anterior Presidente cumpre uma tradição de todos os antigos ocupantes da Casa Branca apoiarem os nomeados do seu partido. W não será uma cara visível nesta campanha, por dois motivos: a forma como terminou a sua presidência, com a crise económica que rebentou em 2008 ainda está bem viva aos olhos dos americanos e o 43º Presidente tem declarado insistentemente que não pretende voltar a ter um papel activo na política.
O libertário Ron Paul anunciou ontem o abandono da campanha para as restantes primárias republicanas que ainda faltam disputar. Sem vencer uma única eleição, e apesar de não ter provocado o terramoto político que chegou a ameaçar, o saldo final da sua candidatura ainda está por fazer. Com mais de 100 delegados eleitos, o ainda congressista (este ano não se recandidatará) texano terá deixado sementes para o futuro do movimento. Com 76 anos, esta terá sido provavelmente a sua última campanha eleitoral, mas as suas ideias estão hoje mais fortes dentro do Partido Republicano, e já até têm um novo líder: Rand Paul. Com uma postura mais próxima das ideias mainstream republicanas, não deixará de ser uma voz activa no futuro do partido, e será certamente candidato presidencial em 2016 ou 2020, dependendo de quem vencer as eleições gerais. Poderá Rand ser o nomeado? Muito dificilmente, até porque a concorrência no futuro, pelo que se pode observar pelas diversas estrelas em ascensão, será bem mais agressiva do que em 2012. Mas Rand Paul sabe que tem um exército de fiéis à sua espera. E isso foi alcançado pelo seu pai nestes últimos quatro anos. Uma tendência a acompanhar com muita atenção nestes próximos anos.
Em relação a Ron Paul, será também interessante de analisar a sua postura até à Convenção Republicana de Tampa. Ele tem reafirmado que será muito difícil de declarar o apoio a Mitt Romney, mas estou certo que este tudo fará para poder contar com Paul a seu lado. Os apoiantes de Ron Paul têm batalhado pela conquista de lugares no aparelho do GOP, e têm conseguido conquistar peso político para a convenção. Ron Paul, que há quatro anos não apoiou McCain e até realizou uma convenção própria em Minneapolis St- Paul durante a convenção republicana, poderá ser tentado a colocar-se ao lado de Romney com algumas compensações: discurso na convenção, inclusão de algumas ideias na plataforma do Partido Republicano e, especialmente, colocar Rand Paul mais próximo da máquina republicano. Não tenho dúvidas que Romney tentará cooptar Paul e os seus fiéis apoiantes. E numa eleição renhida, como se prevê, isso pode ser decisivo.
Em todas as campanhas eleitorais há momentos decisivos que ficam para a história. E ao contrário do que sucede na Europa, as campanhas negativas e/ou erros próprios costumam ser muito relevantes para o desfecho final. Em 1988, a campanha de Michael Dukakis, que chegou a ter uma liderança de 20 pontos sobre George H. Bush, desabou depois de dois momentos particularmente penosos: o anúncio de Willi Horton de Lee Atwater, que já referi aqui e uma photo op de Dukakis em que este aparecia ao lado de um tanque. Em 1992 a campanha de Bill Clinton conseguiu com sucesso caracterizar o Presidente Bush como desligado da realidade económica do país. A famosa expressão "It´s the economy, stupid" de James Carville foi o momento em que os americanos perceberam que deviam mudar de presidente. Em 2004, os ataques que John Kerry sofreu da máquina republicana, especialmente os anúncios destrutivos dos Swift Boat Veterans for Truth, bem como os seus flip-flops, foram determinantes para a vitória de George W. Bush. Já em 2008, quando depois da convenção republicana John McCain apareceu a liderar as sondagens, a crise do Lehman Brothers rebentou, a resposta de McCain, que suspendeu a campanha para regressar a Washington, foi considerada pelos eleitores como uma manobra eleitoral de quem não tinha, de facto, solução para os problemas económicos. A partir daí, nunca mais a vitória de Obama esteve em causa.
Com um relógio noticioso de 24 horas, alimentado pela Internet, pelos canais de cabo, e pelas redes sociais como o Twitter, essa procura do "momento" decisivo tem sido uma constante por parte das candidaturas. Neste ciclo eleitoral, onde os episódios, os ataques ou os erros de cada um dos lados vão-se sucedendo em catadupa, cada campanha está sempre à procura de motivos para tentar definir o seu adversário. Sempre disse que, exceptuando a eventualidade de erros (colossais) não forçados por parte das duas campanhas ou de factores extraordinários que aconteçam até Novembro, esta eleição vai decidir-se de dois modos: se for sobre o mandato de Obama e a crise económica, Romney será provavelmente eleito Presidente. Se Obama conseguir com sucesso apontar baterias para Romney e caracterizá-lo aos olhos dos americanos como inelegível, conseguirá manter-se por mais quatro anos.
Hoje Barack Obama iniciou uma série de ataques a Mitt Romney pelo seu passado na Bain Capital, onde teve sucesso empresarial e fez fortuna. Nas primárias republicanas, os adversários de Romney tentaram sem sucesso implementar estratégia, até porque o eleitorado republicano é menos adverso ao capitalismo e ao discurso contra os empresários. Mas já era de esperar que este tipo de ataques surgisse em força por parte de Obama. Um anúncio que está a ser transmitido em vários swing-states, juntamente com um site são as ferramentas principais de Obama nesta fase. Talvez seja cedo demais, mas a estratégia de Obama parece ser óbvia: começar desde já a tentar definir Romney como um empresário ganancioso que só teve sucesso à custa da desgraça dos trabalhadores e dos despedimentos. Uma jogada que me parece correcta por parte da campanha Obama, mas que também contém riscos. Se fosse na Europa, tenho poucas dúvidas que este tipo de ataques teria muito sucesso. O eleitorado independente americano, a quem esta campanha negativa se dirige, é normalmente bastante compreensivo para o capitalismo, mas nesta época de crise nunca se sabe. Será interessante analisar o ritmo das sondagens nas próximas semanas e saber qual o impacto que terá no eleitorado independente dos swing-states. O modo da resposta da campanha de Romney, que a partir de agora se irão multiplicar nos meios de comunicação sociais e na Internet, será também determinante. Se Romney conseguir estancar esta ofensiva, terá dado um passo essencial para ter possibilidades de vencer em Novembro.
Pela primeira vez numa sondagem Mitt Romney atingiu hoje os 50% (contra 43% do Presidente Obama). Estes números foram obtidos pela Rasmussen, na sua "tracking poll".
Conforme a Rasmussen refere, esta é também a maior vantagem até agora registada por Romney nas suas sondagens, as quais, convém lembrar, dizem respeito a prováveis votantes, uma medida tradicionalmente mais segura da opinião do eleitorado.
Estamos a seis meses das eleições, e as sondagens procuram medir apenas o sentimento do eleitorado na altura em que são feitas - é sempre bom referir isto. Mas estes números não deixam de ser significativos.
O resultado mais notável das primárias de terça-feira - embora já esperado - foi a derrota do Senador republicano Richard Lugar do Indiana.
Para colocar tal desfecho - ainda por cima esmagador - em perspectiva, Lugar está a terminar o seu sexto mandato em Washington, é o terceiro Senador mais antigo e o Senador republicano há mais tempo no cargo, além de ser o Senador que mais tempo serviu na história do Indiana.
Além disso, Dick Lugar foi por duas vezes Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e é ainda o principal membro do Partido Republicano na mesma comissão.
Na sua actividade Lugar destacou-se pelo seu empenho no desmantelamento de armas nucleares, químicas e biológicas, mormente em países da antiga U.R.S.S, o que conseguiu levar a cabo com sucesso.
No início da sua carreira, Richard Lugar serviu dois mandatos como Mayor de Indianápolis, de 1968 a 1976, tendo até adquirido o "título" de "President Nixon's favourite mayor". Foi ele o "keynote speaker" na Convenção Republicana de 1972, a qual nomeou o Presidente Richard Nixon pela terceira vez como candidato presidencial do partido. Seria eleito pela primeira vez para o Senado em 1976
Este foi sem dúvida mais um retumbante sucesso do "Tea Party", que apoiou o opositor de Lugar, o Tesoureiro do Estado, o conservador fiscal Richard Mourdock. No seu discurso de aceitação da derrota, Lugar foi até pouco simpático para com o seu opositor e para aquilo que descreveu como a desagradável e prejudicial tendência entre alguns republicanos de procurarem "limpar" o partido de pessoas menos "ortodoxas" do ponto de vista deles.
Um resultado que é um sinal dos tempos.