Barack Obama marcou para o próximo dia 7 de Novembro um discurso perante as duas câmaras do Congresso, para apresentar o seu plano de combate ao desemprego. O problema, ou não, é que nesse dia irá realizar-se um debate entre os candidatos republicanos, na Biblioteca Presidencial de Ronald Reagan, patrocinado pelo Politico e NBC News. O timing não é inocente, e presume-se que Obama pretenda "abafar" o debate, colocando um contraste entre o seu discurso e um debate com oito candidatos, onde o ambiente será inevitavelmente confuso e pouco cerimonial. Mas não sei se a estratégia do Presidente irá resultar, pois tenho lido bastantes críticas por esta opção. E, com um descaramento incrível, o Secretário de Imprensa Jay Carney, disse que a coincidência de datas é apenas uma... coincidência. Pois. Mas no dia 8 saberemos quem venceu esta batalha pela opinião pública. P
PS1: Li agora no twitter do jornalista Chuck Todd, da NBC, que Speaker John Boehner convidou o Presidente a falar no dia seguinte. Vamos ver como acaba esta "novela".
PS2: Afinal Obama cedeu a John Boehner e mudou o discurso para dia 8. Não se percebe porque Obama tentou este número. Muito pouco presidencial...
Inspirado no famoso livro de Theodore White, este documentário relata-nos a campanha presidencial de 1960, onde John F. Kennedy venceu Richard Nixon, numa das eleições mais renhidas da história americana. White viria a escrever livros idênticos sobre as campanhas seguintes de 1964, 1968 e 1972. Este documentário, que estreou pouco depois da morte de John Kennedy, coloca-nos bem no meio de vários episódios relevantes desta campanha, desde as primárias de JFK contra Hubert Humphrey no Wisconsin, a convenção Democrata de Los Angeles, o primeiro debate televisivo com Richard Nixon ou ainda a noite da dramática vitória de JFK. Pode ser visto no Youtube. Aconselhado a todos os apaixonados de história, política e comunicação.
O último mês foi terrível para Barack Obama. Há um mês, quando coloquei aqui gráfico semelhante do Real Clear Politics, Obama tinha um saldo negativo de 46-48,3. Hoje é de 43,4-53. Muito más notícias para Obama. Por esta altura, os outros dois Presidentes que tiveram números semelhantes e saíram vitoriosos, Ronald Reagan e Bill Clinton, já tinham começado a recuperar, e havia em 1983 e 1995, boas perspectivas para a economia. Actualmente o cenário é inverso, pelo que se torna pouco provável que Obama comece a subir em breve. Continuo a pensar que a salvação de Obama poderá mesmo residir na destruição pública do adversário republicano. Caso contrário, não vejo como poderá ganhar a reeleição.
David Axelrod, o spin doctor de Obama, anunciou numa entrevista à Chicago Magazine, que a campanha presidencial de 2012 será a última da sua carreira. Com um longo percurso na política americana, foi em Chicago que se destacou, ajudando a eleger vários políticos negros na política local. Em 2004 trabalhou na campanha presidencial de John Edwards, e em 2006 ajudou a eleger os governadores Eliot Spitzer em Nova Iorque e Deval Patrick no Massachusetts. Mas foi 2008 que atingiu o estrelado, ao contribuir decisivamente para Barack Obama a ser eleito para a Casa Branca. Nos primeiros dois anos, foi conselheiro especial do Presidente, mas demitiu-se no inicio deste ano para regressar a Chicago e preparar a campanha presidencial de 2012. Agora anuncia a esperada retirada. Na verdade, segue as pisadas de outros míticos spin doctors, como James Carville ou Karl Rove, que depois de elegerem os seus homens, abandonam a actividade no terreno. Mas não se pense que deixaremos de ouvir falar dele. O seu percurso no futuro não deixará de andar muito longe disto. Depois de sair do círculo de Obama, caso este seja reeleito, é próvavel que regresse à Casa Branca, irá escrever um livro altamente rentável de memórias, e irá animar os debates televisivos dos canais de notícias. Pelo que já fez, já garantiu o seu lugar nos livros da história da política americana deste inicio de século.
Hoje foram publicadas duas sondagens nacionais que indicam que Rick Perry entrou com força nesta campanha. Pouco tempo depois de anunciar a sua candidatura, o governador do Texas já lidera na Gallup e na PPP.
Na Gallup tem 29%, seguido de Mitt Romney com 17%, Ron Paul com 13% e Michele Bachmann com 10%. Todos os restantes candidatos têm menos de 5%. A sondagem da Public Policy Polling coloca Perry com 33%, Romney com 20%, Bachmann com 16%, Newt Gingrich com 8%, e por fim Herman Cain e Ron Paul com 6%.
Não dou grande importância a estas sondagens, até pelas disparidades que demonstram nos valores. No entanto, é evidente que a entrada de Rick Perry mexeu com a corrida, e colocou em marcha uma bipolarização que se adivinha entre o governador do Texas e Mitt Romney. Isto se não houver mais nenhuma entrada de peso. Quem parece perder embalagem é Bachmann, que perde eleitorado para Perry. Veremos se Perry mantém estes números nas próximas semanas, agora que já entrou em campanha e será certamente atacado pelos adversários e pelos media.
Mais importante do que estas sondagens será seguir as intenções de voto no Iowa e New Hampshire até Fevereiro do próximo ano. Mas nesta fase ainda interessam pouco. Basta relembrar o que as sondagens nos diziam por esta altura em 2008: a liderança de Hillary Clinton no Partido Democrata e de Rudy Giuliani no Partido Republicano, com John McCain a não passar dos 5 por cento.
Normalmente não devemos ligar muito a este tipo de sondagens. Segundo os analistas, as sondagens mais importantes nesta fase são as da popularidade do Presidente. Que são más. Mas hoje a Gallup publica quatro sondagens que indicam que Obama tem uma taxa de rejeição no eleitorado muito elevada, pois Obama surge atrás de Romney e empatado com Rick Perry (o que até se pode ser considerado normal), mas apenas ligeiramente à frente de Ron Paul e de Michele Bachmann. Estes números é que devem preocupar a equipa de Obama, que vê muito eleitorado preferir estes dois candidatos, considerados inelegíveis pelos analistas políticos, ao Presidente. Isto quer dizer que uma percentegem elevada do eleitorado (talvez os 44 por cento que dizem votar em Bachmann) já fugiram definitivamente de Obama, e que entre os indecisos, existe uma clara propensão para votar no adversário republicano. Ainda falta muito, mas se as eleições fossem esta semana, Obama seria derrotado. Tem um ano para recuperar, mas as suas perspectivas não são boas.
As perspectivas para Barack Obama não são boas para 2012. Eu próprio tenho escrito bastante sobre os cenários adversos para a reeleição do Presidente. Mas não se pense que Obama não tem sérias hipóteses de vitória. Na semana em que desceu dos 40 por cento na popularidade e em que a sua aprovação na economia atinge os 26 na sondagem da Gallup, permaneço convicto que pode ganhar.
Analisando a história, percebe-se que Barack Obama está em problemas. Vários presidentes estiveram em situações idênticas e conseguiram dar a volta. Ronald Reagan e Bill Clinton, nas últimas décadas, tiveram taxas de aprovação semelhantes, mas conseguiram ser reeleitos facilmente. No entanto, este cenário não é comparável com o de Obama. Pelo simples facto que a economia nos últimos anos do primeiro mandato de Reagan e Clinton estava em crescimento, enquanto o mesmo não irá suceder a Obama. A comparação mais evidente até será com o mandato de Jimmy Carter, que enfrentou a campanha de reeleição numa situação semelhante com a que Obama irá ter. Mas acredito que a comparação com Carter termina aí. Até porque a equipa de Obama teve tempo para estudar a campanha de 1980 e evitar cometer os mesmos erros.
Ao contrário de Carter, Obama continua nas boas graças dos americanos, em termos pessoais. Apesar dos seus números serem maus, os americanos continuam a gostar de Obama. Por outro lado, ninguém acredita que irá ter um adversário democrata nas primárias, ao contrário dos três últimos presidentes que foram derrotados, Gerald Ford, Jimmy Carter e George H. Bush, que tiveram que fazer campanha interna nas primárias. E olhando mais para trás, ainda temos Lyndon Johnson, que desistiu da recandidatura quando surgiu a oposição de Eugene McCarthy e Bobby Kennedy nas primárias democratas de 1968. Portanto, apesar de começarem a surgirem sinais de insatisfação na base, Obama irá para as eleições com o partido unido e o eleitorado democrata fidelizado. E ninguém pense que isso não irá suceder. A explicação segue no próximo parágrafo.
Esta semana tenho lido que os estrategas de Obama desejavam para 2012 uma campanha à Reagan, a "Morning in América again". Com o estado da economia e a falta de "resultados" para apresentar ao eleitorado, a campanha só pode ter um rumo. E nem a reforma da saúde poderá ser utilizada pelo Presidente, pois permanece extremamente impopular. A estratégia para vencer será "destruir" o adversário republicano, seja ele quem for. Ao contrário da Europa, nos Estados Unidos uma campanha negativa pode ser eficaz e garantir a reeleição. Claro que Obama terá mais dificuldades em obter sucesso se o nomeado for Mitt Romney ou alguém com um perfil moderado (o que acredito que irá acontecer), apesar das suas incongruências e falhas, que não são poucas. Daí a importância do nome que os republicanos escolherem. Com uma base a radicalizar-se, os republicanos correm o risco de elegerem um candidato inelegível, como sucedeu em 1972 com o Partido Democrata, com George McGovern. Tenho estado atento à campanha republicana e estou curioso para observar o percurso de Rick Perrry, neste momento o adversário mais perigoso para Mitt Romney. Com um currículo interessante e bons resultados na governação do segundo maior estado da União, o Texano terá de provar que é capaz de ganhar o centro político. E a sua estreia na arena nacional pareceu-me francamente má. Se for o escolhido e manter esse rumo, Obama ganhará uma vantagem relevante.
Com a estratégia de diabolizar o adversário garantirá a totalidade da sua base e poderá recuperar o eleitorado independente, assustando-os com o perigo do radicalismo de direita. E enquanto os republicanos irão passar meses (até escolherem um candidato) a debater sobretudo à direita, Obama poderá desde já fazer a campanha ao centro, não perdendo tempo com a esquerda. Acredito que a campanha resumir-se-à a isto: Obama ao ataque ao radicalismo dos republicanos e estes a criticarem o legado do Presidente. Quem for mais eficaz na mensagem sairá vencedor.
Depois da entrada de Rick Perry e da saída de Tim Pawlenty, pensou-se que o campo republicano para 2012 estaria completo. Mas os rumores sobre mais candidatos continuam, sinal que ainda persiste descontentamento pelos nomes na corrida.
Ontem a Weekly Standard deu nota que Paul Ryan, o congressista do Wisconsin que tem liderado a batalha pelo controlo do défice estrutural dos EUA, estará a pensar em avançar. Apesar de ter apenas 41 anos, já está na Câmara dos Representantes há 12 anos, sendo uma das jovens estrelas em ascensão no Partido Republicano. O seu plano para o orçamento federal na próxima década granjeou-lhe popularidade nos sectores mais conservadores do partido, e é muito respeitado pelo establishment. Seria uma lufada de ar fresco nesta campanha. Hoje, uma notícia sobre o governador de New Jersey, Chris Christie. Apesar de ter negado sempre que poderia ser candidato, a verdade é que o nome de Christie continua a ser referenciado como potencial candidato. Apesar de não acreditar que avance, uma candidatura sua teria o enorme potencial de obter apoio em todos os sectores do Partido. Por fim, e acreditando que também não serão candidatos, os nomes de Sarah Palin e Rudy Giuliani continuam no leque de possíveis candidatos. Palin tem abordado isso várias vezes, apesar de não ser crível que avance, pois a nomeação seria quase impossível.
Estas notícias indicam duas coisas: o establishment republicano continua não satisfeito com o leque de candidatos. Esperava-se que a entrada de Rick Perry pudesse captar a atenção da máquina. Mas o governador do Texas continua a gerar grande desconfiança, sobretudo no grupo de apoiantes de George W. Bush, que continuam à procura de um candidato às suas medidas. E como Mitt Romney ainda não obteve a sua atenção, as pressões para que surja uma outra alternativa continuam. É nesse parâmetro que enquadro as pressões que Paul Ryan e Chris Christie continuam a sofrer. Por outro lado, há muitos quem pensam que é possível derrotar Barack Obama, mas não acreditam que Rick Perry ou Mitt Romney sejam as melhores opções. E neste leque enquadro figuras tão relevantes do movimento conservador americano como Rush Limbaugh, Roger Ailes (o todo poderoso líder da Fox News) ou figuras da máquina, como Karl Rove, que persistem na demanda por um candidato. Até ao final de Setembro deveremos ter mais novidades. Uma coisa é certa: com este campo, será uma luta dura entre Romney e Perry, com Bachmann a poder fazer pender a balança para Romney, ao dividir o eleitorado conservador, ajudando a concentrar o voto moderado em Romney.
Na semana em que desceu pela primeira vez abaixo dos 40 por cento na popularidade, Barack Obama mete-se à estrada por três estados do Midwest que venceu em 2008, Minnesota, Iowa e Illinois. Na verdade, ele venceu todos os estados desta região considerados swing states (os Dakotas, Kansas e Nebraska são bastiões republicanos), à excepção do Missouri, mas a situação para 2012 parece bem mais complicada. Neste momento, todos os estados da região estão em jogo, isto retirado o Illinois, estado de Obama e o Indiana, que ninguém acredita que desta vez não acabe por cair na coluna republicana. Não tenho dúvidas que a campanha de 2012 irá passar em grande parte por estes estados.
Barack Obama desceu pela primeira vez dos 40 por cento na sondagem diária da Gallup. A grande questão para os próximos meses: ou Obama sobe para perto dos 50 por cento, ou terá muita dificuldade em ser reeleito. Enquanto não houver nome do adversário republicano, este é o indicador mais importante para estarmos atentos em relação a sua reeleição.
Os últimos dias abalaram a corrida republicana, com mudanças que terão impacto na história destas primárias. Na quinta-feira, um debate muito aceso, onde Tim Pawlenty esteve deliberadamente ao ataque a Michele Bachmann. Foi o melhor momento desta campanha, num debate onde Mitt Romney acabou por sair vencedor, sem grande esforço diga-se. Bachmann foi igual a sí própria (ou seja, não saiu dos talking points treinados previamente), não cometendo erros e gerando boa imprensa no final do debate. A actuação de Pawlenty, que transparecia algum desespero, já deixava antever o desfecho deste fim de semana. Pawlenty apontou o óbvio a Bachmann: ela não tem currículo, nunca alcançou nada nos anos no Congresso e resume-se a representar uma voz estridente no debate político. Pelo contrário, ele, tem um currículo de oito anos como governador de sucesso no Minnesota. Mas a vida não está fácil para quem tem currículo no GOP. Que o diga Jon Huntsman, que teve uma prestação muito fraca neste seu debate de estreia.
Ontem entrou em cena Rick Perry, governador do Texas e adversário muito perigoso para Mitt Romney nestas primárias. Este anuncio acabou por ofuscar a vitória de Michele Bachmann na Iowa Straw Poll. Em segundo lugar ficou Ron Paul e em terceiro Tim Pawlenty, que apostou tudo em vencer este evento. Hoje ao inicio da manhã, o antigo governador do Minnesota anunciava a sua retirada da corrida à nomeação republicana, por não vislumbrar um caminho para a vitória. Perfeitamente compreensível e expectável.
Consequências para a corrida destes acontecimentos? Diria que duas principais:
1- Michele Bachmann é a favorita a vencer no Iowa. Não propriamente pela vitória de ontem em Ames, mas pela força que tem demonstrado em todas as sondagens estaduais. Os cristãos evangélicos representam cerca de 60 por cento dos eleitores nestes caucuses republicanos, e apenas Rick Perry poderá competir seriamente com Bachmann por esta camada do eleitorado. Romney poderá ter uma hipótese diminuta, caso consiga angariar grande parte dos moderados. No entanto, o Iowa poderá este ano não ter grande impacto nas primárias, tal como sucedeu em 2008, quando Mike Huckabee venceu. Isto se a vencedora for Bachmann.
2- Dificilmente estas primárias deixarão de ser uma corrida entre Mitt Romney e Rick Perry. Depois do debacle de Tim Pawlenty e da não existente candidatura de Jon Huntsman até ao momento, estes parecem ser os únicos candidatos credíveis no campo republicano. Michele Bachmann poderá ser um factor nestas primárias, mas talvez para prejudicar um outro candidato, como Rick Perry, funcionando como Mike Huckabee, que em 2008 retirou votos importantes a Mitt Romney, favorecendo desse modo a vitória de John McCain. De qualquer forma, se não houver grandes alterações, o adversário de Barack Obama deverá ser Romney ou Perry.
Há uns dias li num jornal americano a seguinte citação de um democrata que não quis dar a cara: "Hillary teria sido melhor Presidente". Esta é a sensação de muitos democratas, entre os quais alguns apoiantes de primeira hora de Barack Obama. A desilusão com Obama é profunda e extravasa em muito o eleitorado independente, que votou maioritariamente nele em 2008. As últimas semanas foram dramáticas para o Presidente, que viu a sua capacidade de liderança ser colocada em causa, ao ser constantemente ultrapassado pelos acontecimentos. Depois da campanha quase perfeita que realizou no ciclo eleitoral de 2008, "agravada" pela sua retórica messiânica, a desilusão era uma certeza para qualquer espectador atento. A dúvida, e eu também sempre a tive, era se esse sentimento seria apenas de circunstância ou, pelo contrário, colocaria em causa a sua reeleição. Neste momento, e com a salvaguarda que ainda falta mais de um ano, e que temos à direita um Partido Republicano ainda à procura do candidato ideal, as suas hipóteses de vitória em 2012 parecem diminuir a cada dia que passa. Esta semana, enquanto Barack Obama discursava numa tentativa de acalmar os mercados, Wall Street caía a pique. Nada é mais perigoso para um Presidente americano do que o sentimento de impotência. Jimmy Carter também acabou por sucumbir devido a essa mesma impotência de mudar o rumo da economia, agravada pela situação dos reféns da embaixada americana em Teerão.
Com a sua impopularidade a subir em flecha, Obama só poderá fazer uma coisa: transformar as eleições num referendo... ao seu adversário. Como dizia um assessor de Obama esta semana ao Político, para Obama vencer será preciso "kill Romney", a crer que será esta a escolha republicana. Ou outro qualquer. A campanha não vai ser bonita. Mas será certamente muito interessante.
Esta promete ser uma semana quente para os republicanos. O Politico refere que Rick Perry, governador do Texas, irá anunciar no Sábado na Carolina do Sul as suas intenções presidenciais, isto depois de semanas com relatos a indicarem que o Perry irá mesmo ser candidato à nomeação republicana. A entrada do governador do Texas irá afectar de maneira decisiva a corrida eleitoral. Mitt Romney, que até ao momento parecia balanceado para a nomeação, ganhará desta forma um adversário de peso. Até ao momento, com Huntsman e Pawlenty a não deslocarem nas sondagens, Michele Bachmann surgia como a sua mais séria adversária. Se a situação não mudasse até ao próximo ano, Romney não deixaria escapar a nomeação. Eu nunca acreditei que Romney teria a vida assim tão facilitada, e sempre pensei que iria surgir um adversário credível a Romney. Estivesse já ou não na corrida. Rick Perry é um caso bem diferente de Bachmann. Governador do segundo maior estado da União desde 2000, tem um currículo que fala por si: o Texas é um dos estados que tem fugido da crise e apresenta-se como um sucesso económico. Olhando para o actual campo de concorrentes, Perry é o que terá mais condições para reunir o apoio dos diferentes quadrantes. E se Bachmann nunca fugirá de ser a candidata do Tea Party e da direita religiosa, Perry poderá juntar a esses grupos, o apoio do establishment e dos country republicans, que neste momento parecem estar com Romney. Não acredito que Perry irá transformar-se logo no frontrunner, até porque também apresenta algumas debilidades. E não nos esqueçamos que é outro governador do Texas, que sucedeu a George W. Bush no cargo. Apesar de manter uma distância assinalável com o 43º Presidente, isso não deixaria de ser jogado pelos opositores democratas e pelos media numas eleições gerais. Com a situação de fragilidade do Presidente Obama, acredito que a elegibilidade vai ser um dos critérios decisivos nas primárias republicanas.
Na próxima quinta-feira vai decorrer mais um debate no Iowa, desta vez organizado pela Fox News e pelo Washington Examiner. Este debate deverá marcar a estreia de Jon Huntsman. No Sábado, o mesmo dia em que Perry deverá anunciar a sua candidatura, decorre a Iowa Straw Poll, cujo desfecho poderá marcar o destino de Tim Pawlenty. Sabe-se que investiu um milhão de dólares neste evento, e duvido que a sua candidatura possa sobreviver a um mau resultado.
A agência de rating Standard & Poor's baixou esta noite o rating da dívida americana a longo prazo para AA+, o que acontece pela primeira vez na história dos Estados Unidos. Os analistas prevêm que se as outras duas agências seguirem o mesmo caminho, a Moodys e a Fitch, isso poderá custar cerca mais de 100 mil milhões de dólares por ano em juros. Esta decisão não é surpresa, mas o governo americano esperava que o acordo que foi aprovado recentemente para o aumento do limite do endividamento impedisse esta descida.
Ainda é cedo para apontar responsabilidades, mas ninguém ficará bem na fotografia. Os responsáveis da S&P referem que esta descida reflecte a opinião que o plano aprovado pelo Congresso e pela Administração falha em controlar a dívida americana. Pelas razões apontadas pela agência de rating, há muito "sumo" para ambos os lados: por um lado os republicanos vão acusar os democratas de não terem ido tão longe como eles desejavam nos cortes na despesa, falhando num verdadeiro plano para controlar a dívida galopante do país. Por outro, os democratas vão contrapor que a intransigência dos republicanos em não aumentar os impostos limitou as negociações. Como quase sempre sucede em política, a verdade estará algures no meio entre as diferentes opiniões. Mas no plano estritamente político, será importante acompanhar como a opinião pública irá reagir. No entanto, parece-me que quem não sairá bem desta situação é o Presidente Obama, que será encarado como um líder fraco e sem capacidade de apresentar soluções. A reeleição parece cada vez mais difícil. Resta-lhe esperar que os republicanos surjam aos olhos dos americanos como parte do problema, e nesse caso, a escolha do mal menor seja Obama em 2012. Nesse ponto, interessa também saber quem irá emergir das primárias republicanas e de que forma ele será encarado pelo eleitorado independente, que irá decidir essas eleições. Mas quem pensava que haveria um período de tréguas neste Verão estava bem enganado.
No ciclo presidencial de 2008 muitas vezes ouvimos falar na possibilidade de uma "brokered convention" no Partido Democrata, depois de muitos meses sem que candidato que tivesse ganho definitivamente as primárias. Esse tipo de convenção sucede quando os partidos chegam às suas convenções nacionais sem que um candidato tenha a maioria dos delegados do seu lado. A história da política americana é fértil neste tipo de convenções, onde os "Party Bosses" decidiam quem seria o nomeado. Mas com o institucionalização do sistema de primárias desapareceram do mapa, o que se compreende pelo profissionalismo que os partidos adoptaram, bem como os processos de nomeação serem bem diferentes. Mas em 1952 a situação era bem diferente, e foi a última vez que um dos partidos, o Democrata, escolheu o seu nomeado nesse formato.
Harry Truman, no cargo desde 1945, estava no final do sétimo ano como Presidente, mas ainda podia candidatar-se a novo mandato, pois a recentemente aprovada 22ª emenda, que limitou a dois mandatos ou a 10 anos o período em que pode exercer-se o cargo de Presidente, não se lhe aplicava. Mas a sua popularidade andava pelas ruas da amargura, sobretudo à impopular guerra da Coreia. Além do mais, o Partido Democrata estava no poder desde 1933, e a corrupção alastrava pelas estruturas do partido. O seu principal adversário declarado era o senador do Tennessee, Estes Kefauver, um político que tinha denunciado a corrupção do sistema e de muitos membros do Partido Democrata. Depois das primárias do New Hampshire, onde foi derrotado pelo senador, Harry Truman anunciou que não se recandidataria a um novo mandato, lançando a confusão no Partido Democrata. Nesse ano apenas decorreram primárias em 13 estados, tendo Kefauver vencido 12 delas. Mas nesses tempos as primárias tinham pouco significado, pois a maior parte dos estados escolhia os delegados através de convenções estaduais, sendo que estas eram controladas pelos líderes partidários, muitos deles controlados pelo próprio Harry Truman. E logo começaram a procurar alternativas a Kefauver, que era detestado pela máquina partidária. Nomes como Humbert Humprhey, futuro Vice-presidente, o senador do Arkansas, William Fulbright ou o Vice-presidente de Truman, Alben W. Barkley, foram testados pela máquina, mas nenhum parecia reunir as condições ideais.
A convenção realizou-se em Chicago, que tinha como Governador Adlai Stevenson II, neto de Adlai Stevenson, Vice-Presidente de Grover Cleveland entre 1883 e 1887. Antigo membro da Administração Roosevelt e apoiante do New Deal, Stevenson era o escolhido de Truman. Mas o governador de Chicago continuava a insistir que não queria ser candidato, e Truman chateou-se e tentou novamente o o seu Vice-presidente Alben Barkley no primeiro dia da convenção, mas a resistência dos sindicatos fizeram-no regressar a Stevenson. Convidado para discursar na abertura da convenção, que ainda não tinha um candidato preferido, Stevenson proferiu uma intervenção que entusiamou a sala. Imediatamente aumentaram as pressões do grupo de Truman para que Stevenson colocasse o seu nome no boletim de voto para a nomeação.
Os líderes partidários do Norte e do Midwest, que tinham bastante força dentro do partido, conseguiram que Stevenson acedesse em avançar. Na primeira votação acabou por ficar em segundo lugar, atrás de Kefauver e à frente do Richard Russel, o senador da Georgia que representava o partido segregacionista do Sul. Na segunda votação, Kefauver ainda teve mais votos, mas o crescimento eleitoral de Stevenson era evidente, e começaram as deserções no campo do senador do Tennessee para Stevenson, que arrebatou finalmente a nomeação à terceira votação, com mais de 50 por cento dos votos. O sulista Richard Russel manteve o terceiro lugar, com 22 por cento. Após proferir o discurso de aceitação, Stevenson retirou-se para uma sala para reunir com os "Party Bosses" que o escolheram para seleccionar um candidato a Vice-presidente. A opção recaiu sobre o senador do Alabama John Spark, para satisfazer a ala sulista do partido. Esta convenção decorreu também sob o espectro da divisão com o Sul, temendo-se novamente a saída dos Dixiecrats, os sulistas segregacionistas que em 1948 avançaram com a candidatura do presidencial do senador Strom Thurmond, que acabou por vencer em quatro estados do Sul. Esta foi a primeira convenção a ser transmitida em directo pela televisão.
Nota de rodapé: Adlai Stevenson foi derrotado por Dwight Einsenhower, que obteve 55 por cento dos votos contra 44. Quatro anos mais tarde, Stevenson voltaria a ser o nomeado democrata, com o desfecho a ser idêntico. Foi embaixador nas Nações Unidas nas Administrações Kennedy e Johnson.
O mundo político americano nos próximos dias vai ser ocupado por um estranho evento que se realiza numa pequena cidade do Iowa, a já famosa Iowa Straw Poll. E o que é este evento que capta grande parte da atenção mediática neste inicio de Agosto? Resumindo em poucas palavras, é uma festa organizada pelo Partido Republicano do Iowa, como forma de angariação de fundos. Este evento ocorre sempre Verão anterior ao caucus do Iowa e representa desde 1979, a primeira vez que foi organizado, um importante acto de campanha para os candidatos republicanos. Durante o dia, e é por isso que candidatos gastam centenas de milhares de euros no Iowa por esta altura, os participantes votam no seu candidato preferido. Já aconteceu candidatos desistirem da candidatura por terem obtido resultados fracos nesta Iowa Straw Poll, casos de Lamar Alexander e Elisabeth Dole em 1999. Como se ganha este evento? No fundo, motivando os apoiantes a deslocarem-se a Ames e pagando as suas entradas (este ano, a participação na votação custa 30 dólares). É muito importante para a nomeação? Nem por isso. Das cinco edições que já se realizou, apenas em duas o nomeado venceu esta "sondagem": Bob Dole em 1995 e George W. Bush em 1999. Por exemplo, em 1987 o vencedor foi o evangelista Pat Robertson a sair vencedor de Ames, um candidato inelegível.
Este ano, a exemplo do que fez John McCain em 2007, também Mitt Romney preferiu ficar fora da competição, ele que venceu nesse ano. Jon Huntsman e Newt Gingrich também anunciaram que não iriam competir em Ames. Apesar disso, os seus nomes irão constar do boletim de voto. Quem dedicou esforço e dinheiro a este evento? Michele Bachmann, Tim Pawlenty e Ron Paul. Os restantes nomes são Rick Santorum, Herman Cain e Thaddeus McCotter, o congressista do Michigan que entrou recentemente na corrida à nomeação republicana. Consequências para a corrida presidencial? Tim Pawlenty tem tido umas últimas semanas muito dificieis, e um mau resultado poderá complicar ainda mais a sua vida. De resto, ganhe Bachmann ou até Ron Paul, que tem apostado forte neste evento, não terá grande impacto na corrida, além de um excelente Agosto mediático.
Sem surpresas, o Senado aprovou hoje a lei sobre o limite da dívida pública. Acabou a crise (política) em Washington e os representantes do povo americano podem regressar aos seus estados. Em Setembro começa uma nova "guerra", a do debate sobre o orçamento para o próximo ano. Para mais tarde fica uma análise sobre os vencedores e derrotados desta "batalha".
A Câmara dos Representantes aprovou esta noite o aumento do limite do endividamento, com cortes na despesa de mais de 2 biliões na próxima década. A lei passou à vontade, com 269 votos a favor e 161 contra. A bancada republicana demonstrou mais apoio à lei, com 174 congressistas a aprovarem contra 66 votos negativos. Pelo contrário, os democratas dividiram-se ao meio, com 95 votos para cada lado. Amanhã ao meio dia a lei deverá ser aprovada no Senado, onde precisa de mais de 60 senadores.