Barack Obama discursou ao país na semana passada e desde então a sua popularidade caiu a pique. Segundo o Real Clear Politics, a sua taxa média de desaprovação é de 50 por cento, enquanto a aprovação é de 45 por cento. Que diferença para 2008, quando Obama discursava e o país parava maravilhado a contemplar a sua retórica. Mas governar é bem diferente, e não é fácil convencer os eleitores da bondade das palavras quando as acções suscitam comportamentos díspares. Estes são dos valores mais baixos da sua presidência, e parece-me evidente que há uma crise instalada na Casa Branca. Atentemos a dois exemplos que explicam as actuais dificuldades de Obama.
Em primeiro lugar, o preço dos combustíveis. Em 2008, os republicanos popularizaram o "drill, baby, dril", um slogan que apelava à exploração do petróleo na costa do território americano. Obama, depois de muitas reservas, parecia aceitar a necessidade de aumentar a exploração petrolífera, mas depois aconteceu o desastre da BP na Costa do Golfo. Pressionado pela opinião pública, recuou, mas agora, passado um ano, e com o petróleo a atingir os preços mais altos desde os tempos de Jimmy Carter, Obama está novamente a ser pressionado, mas em sentido inverso. Numa sondagem publicada esta semana, quase 70 por cento dos americanos declara-se favorável ao aumento da exploração na costa, mais 20 pontos do que há um ano atrás. Muito se tem falado nas energias alternativas e nas suas potencialidades. Parece inevitável que esse vá ser o futuro, mas no presente quem alimenta as necessidades dos cidadãos é o petróleo. E nenhum Presidente irá escapar a isso tão cedo. Depois de não ter seguido o plano republicano, e ainda por cima, ter encorajado os brasileiros a fazer o que ele se recusou a fazer em território americano, Obama estará na linha de fogo nas próximas presidenciais. Se o preço dos combustíveis continuar a subir, esta situação ameaça tornar-se explosiva. Não que a culpa seja de Obama; todos sabemos que os problemas que afectam o mundo, nomeadamente no médio oriente. Mas a recusa em aumentar a exploração em solo nacional não deixará de ser associada a esta escalada nos preços.
Por fim, um aspecto que tem estado ausente do debate público nas últimas semanas: a falta de liderança de Obama na intervenção na Líbia. Ninguém parece saber bem o que Obama está a fazer neste país do Norte de Africa, e esta intervenção tem recebido críticas de quem não deseja envolvimento americano e... de quem apoia a intervenção. Ou seja, esta posição ambígua, onde não se percebe bem o que a Administração pretende fazer na Líbia, não satisfaz ninguém. Uma sondagem da ABC é reveladora do sentimento que grassa nos EUA: 40 por cento opõe-se liminarmente à intervenção, 32 por cento considera que o objectivo inequívoco da missão deveria ser remover Khadafi do poder, enquanto apenas 22 por cento apoia a política do Presidente.
Juntando estes problemas que referi (a Líbia é um caso menor) à grave crise económica, ao problema estrutural do défice e ao elevado desemprego, poderemos concluir que Obama está em risco de ser derrotado? Ainda não. Ainda faltam dez meses para as primárias republicanas, mas têm sido os candidatos das franjas que mais têm dado nas vistas. Donald Trump, a quem Charles Krauthammer apelidou, e bem, de palhaço, tem ocupado grande parte da esfera pública com o tema patético do "Obama was not born in Hawaii". Por outro lado, tem-se falado constantemente na possibilidade real da congressista Michele Bachmann avançar em breve. Apesar de nas últimas intervenções públicas ter adoptado uma postura mais consensual, e de ter criticado Trump pelo seu "birtherism", uma candidatura dela irá encostar o GOP ainda mais para a direita radical. Não têm hipóteses de vitória, mas é carismática e pode prejudicar as aspirações do nomeado para as eleições gerais. Sarah Palin, que nos últimos meses tem estado mais calma, mas esta semana lançou um novo website, dando sinais que poderá avançar mesmo para uma candidatura. E por muitos defeitos que Palin tenha, sabemos que uma candidatura dela poderá transformar as primárias num reality show, com consequências imprevisíveis para o partido. Nesta fase não vale a pena olhar muito para as sondagens, mas ou o GOP arranja um candidato afastado da "nutty right", como lhe chamou Karl Rove esta semana, ou estará a entregar de bandeja a reeleição a Obama. E quem poderá ser esse nome? Do que tenho visto, Mitt Romney, Tim Pawlenty, Mitch Daniels ou Jon Huntsman. Todos os outros serão catastróficos.