13
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 17:11link do post | comentar | ver comentários (4)

O fatalismo dos analistas americanos tolda, por vezes, a sua capacidade de analisar fidedignamente a realidade política. Nem todos obviamente. Mas há narrativas baseadas somente na espuma dos acontecimentos actuais, esquecendo a história, a volatilidade da realidade política e um ensinamento fundamental: em política, não há nada que o tempo ou as circunstâncias não curem. Não foi logo após as presidenciais de 2008 que declararam que o GOP iria tornar-se irrelevante na próxima década? Pois.

 

Agora lemos muitas análises deste género, mas em relação a Barack Obama. O cenário de um candidato às primárias tem sido avançado em diversos círculos democratas, e muitos analistas têm escrito sobre a possibilidade Obama ser OTP* (One Term President). Vários democratas, entre Russ Feingold, Evan Bayh e até mesmo Hillary Clinton tem sido apontados como possíveis challengers numas primárias competitivas. Douglas Schoen and Patrick Caddell, dois democratas centristas, apelam hoje no Washington Post a Barack Obama para não se candidatar em 2012. Não acredito em nenhum destes dois cenários.

 

A possibilidade de Obama enfrentar uma oposição séria dentro do Partido parece-me absurda, do ponto de vista estratégico. Bem sei que pode acontecer, mas eu não acredito. Nas últimas décadas quatro presidentes em exercício foram desafiados internamente nas primárias. O resultado foi sempre o mesmo: a eleição de um presidente do outro partido. Em 1968, Lyndon Johnson teve a oposição de Eugene McCarthy e Robert Kennedy. Anunciou que não se se candidatava e o nomeado do Partido, o VP Humbert Humphrey foi derrotado por Richard Nixon. Em 1976 Ronald Reagan candidatou-se contra o Presidente Gerald Ford e Jimmy Carter acabou eleito. Quatro anos mais tarde foi Carter a enfrentar Ted Kennedy, que levou a batalha eleitoral até à Convenção. Ronald Reagan derrotou Carter num landslide. Por fim em 1992, Pat Buchanan desafiou George H. Bush pela direita e acabou por ser Bill Clinton a ganhar as eleições gerais. Com este registo histórico quem é que no Partido Democrata sentirá o apelo para avançar contra Obama? Pode sempre surgir alguém à procura de protagonismo, mas nunca será levado a sério pelos eleitores e pelo Partido Democrata. Por muito que exista descontentamento dentro do Partido sobre a performance de Obama, duvido que alguém credível avance para uma ofensiva contra o Presidente. Haverá algum Reagan neste momento dentro do Partido Democrata para desafiar o establishment? Não me parece.

 

Também não acredito na possibilidade de Barack Obama não se recandidatar. Isso seria aceitar que o seu mandato foi um fracasso, e nenhum político é capaz de o assumir de forma tão categórica. Aliás, a equipa de Obama saberá que as coisas não têm corrido bem, mas e até olhando para a história de outros Presidentes, como Reagan e Clinton, terão a consciência que tudo poderá mudar nos próximos dois anos. Além disso, e olhando para o campo adversário, não se vislumbra ainda um forte candidato republicano que seja imbatível contra Obama, mesmo mantendo-se o actual cenário económico. Não tenham dúvidas: Obama não vai desistir e irá procurar a reeleição.

 

Dito isto, acredito que Obama poderá mesmo ser um OTP. Vários factores irão ser decisivos. A prestação económica e a taxa de desemprego em 2012, à cabeça. A relação que Obama estabelecer com a nova maioria republicana na Câmara dos Representantes e de que forma esta relação será percepcionada pelo povo americano. Obama precisará também de voltar ao formato da campanha eleitoral, onde raramente cometeu erros políticos e conseguiu criar uma narrativa de sucesso em redor da sua candidatura. Sem recuperar o apoio dos independentes, das mulheres e das pessoas com formação universitária, que nestas eleições votaram maioritariamente republicano, Obama não conseguirá ser reeleito. Por fim, um aspecto que não depende de Obama: o nome do seu adversário republicano. Se o GOP encontrar um nome que consiga fazer a ponte entre o establishment do partido e o tea party, alguém com credenciais conservadoras mas que não afaste o centro político, Obama terá sempre dificuldades. Se, pelo contrário, o nomeado for alguém encostado à direita e ao tea party, mas sem uma mensagem que capte o eleitorado independente (e sim, estou a pensar em Sarah Palin, mas não só), Obama poderá ter a vida mais facilitada.

 

* Sobre este tema, aconselho a leitura deste artigo de Larry Sabato e Alan Abramowitz.


12
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 16:06link do post | comentar | ver comentários (4)

A vida politica norte-americana será dominada nos próximos dois anos pelas primárias republicanas. Num sistema político cada vez mais mergulhado em campanhas eleitorais constantes, após das intercalares a atenção mediática vira-se imediatamente para as primárias. Como no próximo ciclo eleitoral os democratas deverão (digo eu) estar unidos em redor do Presidente, serão os republicanos a dominar as atenções. Neste pequeno artigo divido os potenciais candidatos republicanos em quatro categorias: os frontrunners, os aspirantes e os underdogs. Por fim, apresento também uma classe distinta: os potenciais undergogs. Provavelmente nunca uma corrida esteve tão em aberto como agora, e não arriscaria dizer quem será o provável nomeado.

 

Frontrunners: Mitt Romney e Sarah Palin. Se ainda não sabemos se Palin vai mesmo avançar, Romney será candidato. A antiga governadora do Alaska será sempre uma candidata fortíssima, e terá muito apoio nos sectores mais conservadores do partido e do tea party. Apesar das suas hipóteses serem bastante menores numas eleições gerais, será sempre o alvo a abater pelo establishment. Romney, pelo seu percurso em 2008 e pelo número de apoios que tem vindo a recolher nos círculos republicanos tradicionais, poderá ser o candidato da máquina, pois é considerado aquele que terá mais possibilidades frente a Obama. No seu currículo tem uma reforma da saúde aprovada no Massachusetts que não deixará de aparecer durante a campanha eleitoral para o assombrar. Será o principal alvo do tea party.

 

Aspirantes: Mike Huckabee e Newt Gingrich. Dois candidatos que partirão de trás, mas com algumas hipóteses de vencer as primárias. Huckabee venceu os caucuses do Iowa em 2008, e terá o apoio da direita religiosa. Mas terá sempre dificuldades de convencer o tea party devido ao seu currículo económico, pois aumentou impostos quando foi governador do Arkansas. Além disso, e apesar de ser uma personalidade simpática, poderá ter dificuldades em obter o apoio dos independentes numa eleição geral. Newt Gingrich é um politico complexo e com muitos esqueletos no armário. Não sei bem se tentaria ser o candidato do establishment ou dos grassroots. Destes quatro que já referi, é o que terá mais dificuldades em vencer as primárias.

 

Underdogs: Nesta categoria há muitas hipóteses em cima da mesa. Tim Pawlenty será candidato quase de certeza. Com um currículo que tanto pode agradar o tea party como a máquina republicana, é ainda um desconhecido fora do Minnesota e falta-lhe aquela chama que necessitaria um candidato deste género. John Thune, senador do Dakota do Sul, tem potencial de crescimento: jovem, bom orador e com carisma. No entanto, o seu voto favorável ao baill out de George W. Bush poderá colocá-lo em dificuldades perante o tea party. Mitch Daniels, governador do Indiana, é um nome que tem circulado nos corredores. Fiscal Conservative, no entanto poderá enfrentar bastante oposição nos sectores conservadores depois de ter dito recentemente que poderia ser necessário aumentar os impostos para equilibrar as contas públicas. Além disso, defendeu que os assuntos sociais deviam ser “esquecidos durante esta crise económica. Haley Barbour, governador do Mississippi, é um político com muita experiência. O seu nome também aparece nestas contas, apesar de não se saber das suas intenções. Seria certamente o candidato do establishment.

 

Potenciais underdogs: Bobby Jindal, governador da Lousiana, é alguém que se entrasse na corrida poderia fazer a síntese entre o tea party e establishment. No próximo ano haverá eleições para o governo do estado e se não se candidatar, será sinal que pretende concorrer à nomeação presidencial. Chris Cristie, de New Jersey. Ele tem dito que não será candidato em 2012, mas não seria a primeira vez que alguém voltaria com a palavra atrás. Outro com potencial para fazer a ponte entre establishment e tea party. Será que Marco Rubio poderá avançar? Não sei, mas o seu nome começa a circular nos blogue e sites sobre o assunto. Com um currículo político curto, e com apenas 39 anos, seria uma espécie de Obama republicano. É o mais improvável candidato.


11
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 15:42link do post | comentar

A primeira medida com apoio bipartidária após as eleições intercalares: a extensão dos Bush Tax Cuts. David Axelrod assumiu, em entrevista ao Huffington Post, que os cortes de impostos de Bush vão ser prolongados no Congresso. Ao expirarem no inicio do próximo ano, isso significaria que haveria um aumento de impostos em 2011.. Enquanto a maioria dos democratas e a Casa Branca defendia que apenas se deveria manter os cortes às famílias de classe média, com rendimentos anuais até 250 mil dólares, os republicanos e alguns democratas pediam pelo sua extensão a todos os americanos. As afirmações de Axelrod confirmam que será a via republicana a triunfa nesta discussão.

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publicado por Nuno Gouveia, às 14:39link do post | comentar

O antigo Presidente tem ocupado arena mediática esta semana. A promover o seu livro “Decision Points”, George W. Bush tem-se desdobrado em entrevistas em diversos canais de televisão e jornais. Tive a oportunidade de ver a sua entrevista a Matt Lauer, na NBC e a Sean Hannity, na Fox News. Não se pode dizer que Bush tenha oferecido grandes novidades, limitando-se a defender as decisões que tomou durante a sua presidência, nomeadamente em relação ao 11 de Setembro, às guerras do Iraque e Afeganistão, as medidas tomadas na luta contra o terrorismo, os erros assumidos em relação ao Katrina e crise financeira na parte final do seu mandato. Nota-se que Bush está em paz consigo próprio e satisfeito com a sua presidência. Numa altura em que a sua popularidade tem vindo a subir, Bush confia que o seu legado será avaliado de forma positiva no futuro pelos historiadores.


Duas notas breves: Bush será avaliado no futuro pela forma como lidou com o terrorismo e pelas suas intervenções no Iraque e Afeganistão. Se é verdade que após o 11 de Setembro os Estados Unidos não voltaram a ser atacados, a instabilidade no médio oriente é ainda enorme. A surge poderá ter salvo a face de Bush no pós invasão, mas não sei se será suficiente para lhe salvar o legado. E no Afeganistão, que passou a ser a guerra de Obama, as dúvidas são ainda maiores, com grande indecisão sobre o saldo final desta guerra. Por fim, na frente caseira. Bush fez reformas importantes no sector da saúde e da educação, e os Bush Tax Cuts estão na ordem do dia da discussão politica, gerando hoje um consenso alargado sobre a importância da sua manutenção. Mas Bush falhou na reforma da imigração e da segurança social. E a sua herança na economia foi muito pesada para Barack Obama. Mas apenas daqui a uns 50 anos saberemos como os historiadores avaliarão a Presidência Bush. Harry Truman e Ike Einsenhower ensinaram-nos que nem sempre a forma como são avaliadas as presidências no seu final persiste na história. Por motivos diferentes.  Harry Truman saiu da Casa Branca com taxas de aprovação fraquíssimas e foi posteriormente absolvido pelo seu papel enquanto líder. Pelo contrário, Einsenhower saiu da Casa Branca com uma popularidade elevada e hoje é apenas considerado como um presidente razoável.

 


09
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 14:11link do post | comentar | ver comentários (1)

Apesar de na Câmara dos Representantes o Partido Republicano ter obtido a maior vitória de um partido desde 1938, a manutenção da maioria no Senado, muito por culpa de Sarah Palin e de alguns de candidatos exóticos do tea party, deu a Barack Obama uma oportunidade para respirar de alivio. Mas será a sua acção nos próximos dois anos que vai ditar o seu destino nas próximas presidenciais.


Não me parece que existam grandes dúvidas, fora de alguns círculos do Partido Democrata, que estas eleições foram um referendo à agenda de Obama e aos resultados  das suas políticas económicas. Depois de ter aprovado um plano de estímulos e uma reforma da saúde muito impopulares nos Estados Unidos, os resultados não agradaram aos americanos: o desemprego atingiu os 10 por cento, ao contrário do que Obama tinha prometido, a economia não cresce como a sua equipa económica tinha garantido. A reforma da saúde, que ainda não entrou em vigor, para já fez com que os preços no sector aumentassem este ano, mais uma vez, ao contrário do prometido.  A grande dúvida dos analistas é se Obama vai conseguir ultrapassar esta situação, como fez Bill Clinton, ou se será uma cópia de Jimmy Carter, que foi derrotado no final do seu primeiro mandato.


Ainda é cedo para dizer, mas os primeiros sinais indiciam que Obama não irá mudar de rumo. A sua resposta à derrota foi de alguma humildade, mas não deixou de reconhecer que o problema parece resumir-se à comunicação. Segundo o Presidente, o seu falhanço reside em não ter conseguido persuadir o povo americano da justiça das suas reformas. Se em 2012, os americanos não virem resultados positivos, se o desemprego for superior a 8 por cento, se a economia continuar a não arrancar, Obama poderá ter muitas dificuldades em ser reeleito. E Obama não pode esperar que o Partido Republicano nomeie alguém como Sarah Palin para facilitar a sua reeleição. Para merecer a reeleição, Obama terá de apresentar soluções nos próximos dois anos, e tentar recuperar o apoio perdido entre os independentes e as mulheres, estas que pela primeira vez desde os tempos de Reagan, votaram maioritariamente nos republicanos. Serão dois anos muito interessantes de acompanhar.


08
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 17:01link do post | comentar

Barack Obama deu uma longa entrevista ao programa 60 minutes, da CBS, sobre os primeiros dois anos do seu mandato, e inevitavelmente, sobre a derrota do seu partido nas eleições intercalares. O Presidente assume as suas responsabilidades perante a derrota, e diz compreender a insatisfação de muitos americanos. Apesar disso, Obama parece acreditar que o principal problema é a comunicação com os americanos. Para quem tiver interesse, a entrevista na totalidade está aqui.

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07
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 22:27link do post | comentar

George Will, Senador Evan Bayh, Matt Dowd, John Podesta e Amy Walter discutem os resultados das intercalares no This Week da ABC.


06
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 19:00link do post | comentar

Marco Rubio foi a escolha do Partido Republicano para a mensagem ao povo americano após as eleições intercalares. Quase que aposto que será também o escolhido para a resposta ao discurso do Estado da União de Barack Obama no próximo ano. Ainda não tomou posse e já é um dos líderes mais mediáticos do Partido Republicano.


publicado por José Gomes André, às 16:26link do post | comentar

Esta semana, o programa "Olhar o Mundo" (sábado, RTPN, 21h; 2ª feira, RTP2, 19h20) é dedicado às eleições intercalares americanas. Tive o prazer de estar presente, juntamente com a Professora Teresa Botelho e a apresentadora Márcia Rodrigues.


publicado por Nuno Gouveia, às 14:36link do post | comentar | ver comentários (3)

Na próxima semana o nome de George W. Bush vai ocupar grande parte da agenda mediática americana, em virtude da promoção do livro "Decision Points". Este é um excerto de uma entrevista que deu a Oprah Winfrey, onde defende a sua posição de não criticar Barack Obama. E entretanto já fez notícias com criticas a Sarah Palin e John McCain.


05
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 16:11link do post | comentar

 

Eu e o José Gomes André vamos estar no programa Descubra as Diferenças, com André Abrantes Amaral, a debater o resultado das eleições intercalares norte-americanas e ainda o lançamento da candidatura presidencial de Cavaco Silva.


O “Descubra as Diferenças”, pode ser ouvido hoje às 18 horas e no Domingo, dia 7 de Novembro, às 19. Tem podcast disponível e é também transmitido pela Rádio Universitária de São Paulo, no Brasil. Com emissão também disponível através da powerbox da ZON TV Cabo.


“Descubra as Diferenças”… Um programa de opinião livre e contraditório, onde o politicamente correcto é corrido a quatro vozes e nenhuma figura é poupada. No final de cada emissão, fique para ouvir a já clássica “cereja em cima do bolo”: uma música, em irónica dedicatória, ao político/figura/situação em destaque na semana


publicado por Nuno Gouveia, às 15:04link do post | comentar | ver comentários (1)

O Partido Democrata e Barack Obama emergem destas eleições como os principais derrotados. Não há spin que consiga dar a volta a esta realidade. A sua agenda foi fortemente rejeitada pelos eleitores nestas eleições, mas a partir de agora passarão a ter alguém para partilhar as responsabilidades pelo que correr mal. Isto ainda se pode transformar numa força para 2012.


Nancy Pelosi, que irá deixar a posição de Speaker, perdeu em toda a linha. Ao perder mais de 60 congressistas na Câmara dos Representantes, e com vários democratas a fazerem campanha contra ela, é a cara da derrota nestas intercalares. Tem havido rumores que pretende manter-se como líder da minoria democrata, mas não sei se terá os votos necessários para tal. As derrotas de Blanche Lincoln no Arkansas e Russ Feingold no Wisconsin simbolizam também a queda dos Blue Dogs, a facção centrista do partido no Congresso. Estes resultados significam também que o Partido Democrata ficou mais à esquerda, com muitos centristas a serem corridos de Washington. Ted Strickland no Ohio e Alex Sink na Florida representam o enfraquecimento dos democratas ao nível dos governadores estaduais. Importantes swing states caíram nas mãos dos republicanos, o que poderá ter importantes repercussões em futuras eleições, nomeadamente nas presidenciais de 2012 e nas eleições para a Câmara dos Representantes da próxima década. Por fim, um dos grandes derrotados deste ciclo eleitoral: Charlie Crist na Florida. Apontado como potencial VP de John McCain em 2008, surgiu no inicio desta campanha como o quase certo senador da Florida e possível candidato presidencial no futuro. Ao ser derrotado por Rubio nas primárias, rasgou as vestes e assumiu-se como independente, muito próximo dos democratas. Acabou por ser severamente derrotado e destroçado, politicamente falando. Não tem futuro.


No Partido Republicano também há derrotados. A começar pelas escolhas pouco convencionais feitas em algumas primárias, como no Delaware, Colorado, Nevada e Alaska. Podia escolher os próprios derrotados, mas prefiro apontar para quem criou estes candidatos: Sarah Palin e Jim DeMint. Eles quiseram purgar o partido, afastando todos aqueles que se desviam da pureza ideológica. Apesar de terem contribuído para importantes vitórias, são os principais responsáveis pelos resultados aquém das expectativas no Senado. Com estas derrotas, não vão ter vida fácil no Partido a partir de agora. Que se preparem para a guerra com o establishment republicano. Por fim, as duas candidatas na Califórnia, Carly Fiorina e Meg Withman. Esta última gastou 160 milhões de dólares da sua fortuna pessoal, mas ficou muito longe de Jerry Brown. Pensou-se que estas duas mulheres poderiam fazer renascer o GOP no estado, mas os eleitores recusaram liminarmente as suas ideias.


publicado por Nuno Gouveia, às 15:00link do post | comentar | ver comentários (2)

O Partido Republicano foi o grande vencedor destas intercalares. Ao conquistar uma maioria recorde na Câmara dos Representantes, e apesar de terem ficado abaixo das expectativas no Senado, os republicanos reconquistaram a influência perdida nos últimos dois ciclos eleitorais. Mas com a vitória vêm também as responsabilidades de governar e impor soluções legislativas aos Estados Unidos. A partir de agora não se podem limitar a apontar as falhas dos democratas.


Individualmente, destaco também alguns políticos e o que essas vitórias representam. Marco Rubio ganhou uma corrida a três na Florida, mostrando que é possível vencer com um discurso conservador num swing state, tornando-se numa das maiores estrelas do seu partido. O seu perfil politico coloca-o já num patamar bastante superior aos restantes eleitos para o Senado, vendo o seu nome assumir-se como potencial VP e até candidato presidencial no futuro. Rand Paul foi outro dos destaques, tendo sido um dos poucos candidatos mediáticos do tea party a vencer. A ala libertária do GOP conquista assim também influência em Washington. A vitória de Mark Kirk no Illinois assume também uma importância acrescida, em contraste com as derrotas de Angle, O´Donnell e Buck, candidatos do tea party. Para vencer em estados democratas, o GOP não pode apresentar candidatos demasiado conservadores. A vitória de Kirk, juntamente com Rob Portman no Ohio, Dan Coats no Indiana, John Boozman no Arkansas, Roy Blunt no Missouri, John Hoeven no Dakota do Norte e Kelly Ayote no New Hampshire, reforça o poder do establishment no Senado, ao contrário do que se chegou a prever quando se afirmava que seriam os candidatos insurgentes a constituir a maioria dos novos senadores. Os moderados não são uma espécie em extinção em Washington. John Boehner, Eric Cantor e Kevin Mcarthy, a nova liderança do GOP na Câmara dos Representantes, foram também os vencedores da noite, ao conquistarem a maior vitória desde 1938. Os olhares a partir de agora recairão muito sobre a acção destes três congressistas. Nas corridas dos governadores, destaque para a vitória de John Kasich no Ohio, talvez o mais importante swing state para 2012 e de Rick Scott na Florida, recuperando o estado para o GOP depois de Charlie Crist ter-se tornado independente. Nikki Haley, talvez a mais emblemática candidata do tea party nos governadores, tornou-se na primeira governadora da Carolina do Sul. Um nome a seguir nos próximos anos.


E como nem tudo foi mau para o Partido Democrata, também alguns surgem como vencedores. Harry Reid à cabeça, que foi dado como “morto” há muito tempo. Contra uma candidata fraca do tea party, Sharron Angle que ele ajudou a escolher durante o período das primárias republicanas quando atacou fortemente os outros candidatos, Reid venceu confortavelmente a reeleição e ainda viu o seu partido manter a maioria no Senado. Mérito para Reid e para a sua campanha. A eleição de Joe Manchin na West Virgínia dá também um importante sinal para eleições futuras: para ganhar em estados republicanos é preciso fazer uma campanha conservadora. Foi isso que Manchin fez e foi premiado pelos eleitores.


Da Califórnia vieram as melhores notícias para os democratas: Barbara Boxer mantêm-se como senadora e Jerry Brown foi eleito de novo governador, depois de ter ocupado o cargo na década de 70. Por fim destaque para Andrew Cuomo, novo governador de Nova Iorque. Está certo que a sua eleição ficou bastante facilitada por ter como opositor o “wacko” Carl Paladino. Mas esta vitória coloca-o como uma das figuras mais importantes do partido a nível nacional. Um possível candidato presidencial no futuro.



04
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 15:04link do post | comentar | ver comentários (2)

Além da histórica conquista da maioria da Câmara dos Representantes, com mais de 60 lugares roubados aos democratas, a maior vitória desde 1938, o Partido Republicano obteve outras importantes conquistas estaduais que terão consequências na próxima década: as vitórias em diversos governos estaduais e respectivas câmaras legislativas.

 

Nos governos estaduais, e ainda com três eleições por decidir, os republicanos ganharam 11 estados, tendo conseguido vitórias importantes nos swing states de Pennsylvania, Ohio, Michigan, Wisconsin, Iowa e New México. Os democratas conquistaram três aos republicanos, sendo a mais emblemáticoa a vitória na Califórnia. Depois destas eleições, os republicanos deverão ter 30 estados, os democratas 19 e um independente, Lincoln Chafee, em Rhode Island. Esta é uma grande transformação, pois antes destas eleições, os democratas detinham a maioria dos governos estaduais.

 

Em 2011 os estados vão proceder ao realinhamento dos distritos federais, que elegem os congressistas para a Câmara dos Representantes. Também nas câmaras legislativas estaduais os republicanos conquistaram uma larga maioria, detendo neste momento 55 câmaras, com os democratas a terem 38. Com isto, os republicanos poderão desenhar, como é habitual, distritos feitos à sua medida para controlar o maior número possível de distritos federais. Não por acaso, vários republicanos já disseram, com algum exagero é certo, que durante a próxima década irão manter a maioria na Câmara dos Representantes. Olhando para os últimos três ciclos eleitorais, facilmente se observa que isto não é bem assim. Mas com este realinhamento à sua medida, ganham uma vantagem considerável.


publicado por Nuno Gouveia, às 14:42link do post | comentar | ver comentários (10)

Criou-se no imaginário dos media, americanos e europeus, que Sarah Palin é uma força imparável do Partido Republicano. Mas será que é mesmo assim? Será que Palin caminha a passos largos para ser a candidata republicana em 2012? Ou será apenas mais um dos muitos líderes que o Partido Republicano teve no passado, com um apelo muito forte a certas camadas da sociedade, mas sem conseguir penetrar na maior parte do eleitorado? Eu inclino-me fortemente para a segunda hipótese. Repare-se na prestação dos candidatos que ela apoio nestas eleições.

 

Segundo o Politico, para a Câmara dos Representantes, Palin apoiou 60 candidatos, mas apenas 15 desses venceram. No Senado o resultado é ainda pior, pelo mediatismo de algumas destas eleições. A começar pelo seu estado, onde o candidato que ela “criou”, Joe Miller, terá sido derrotado por Lisa Murkoswki, a actual senadora republicana. Se confirmar-se este resultado, terá sido uma derrota humilhante para Palin. As outras derrotas mais severas vieram de Sharron Angle e Christine O`Donnell, duas desconhecidas que venceram as nomeações depois de terem sido apoiadas por Palin. Estas estão na sua conta pessoal de derrotas.

 

Não tenho dúvidas que se Sarah Palin se candidatar, o circo mediático vai instalar-se em redor da sua candidatura. Atrai multidões, dá audiências às televisões e vende muitos jornais e revistas. Mas este espectáculo não lhe garantirá a nomeação. Uma straw poll realizada num evento do tea party na Virgínia, ou seja, dentro de um grupo de 2 mil activistas que supostamente a apoiariam facilmente, ela quedou-se no quarto lugar, atrás de republicanos como Chris Cristie e Mike Pence. O entusiasmo que ela gera não se transformará automaticamente em apoio eleitoral numas primárias republicanas.


03
Nov 10
publicado por Nuno Gouveia, às 18:04link do post | comentar

O Partido Democrata manteve a maioria no Senado. Se confirmarem-se as vitórias de Pat Murray no estado de Washington e Michael Bennet no Colorado, os democratas ficam com 53 lugares, e não correm o risco de terem deserções para o GOP. Ben Nelson, do Nebraska e Joe Lieberman, do Connecticut, eram os nomes mais referidos. E ainda conseguiram aguentar Harry Reid, algo impensável há uns meses. Apesar do desastre na Câmara dos Representantes, esta perda de apenas seis lugares foi positiva para o Partido Democrata.

 

As notas mais negativas no Senado: o lugar que pertencia a Barack Obama foi conquistado por um republicano, Mark Kirk. No Wisconsin, Russ Feingold, um dos senadores mais respeitados das últimas décadas, caiu. Por fim, perderam em importantes swing states, como no Indiana, Pennsylvania, Ohio, New Hampshire, Florida, Wisconsin e Missouri. Destes, apenas o último votou em John Mccain nas últimas eleições presidenciais.


publicado por Nuno Gouveia, às 17:24link do post | comentar

John Boehner, o próximo Speaker da Câmara dos Representantes, emocionou-se no discurso de vitória.


publicado por Nuno Gouveia, às 16:19link do post | comentar | ver comentários (4)

Muito se falou na influência do Tea Party nestas eleições intercalares. Não há dúvidas da energia, do entusiasmo e da motivação que este movimento introduziu nas campanhas republicanas. Da Costa Leste ao Pacífico, do Midwest aos estados do Sul, o tea party foi fundamental para esta vitória esmagadora conquistada pelo Partido Republicano. Mas a minha primeira nota vai para a sua influência negativa que se sentiu nas eleições para o Senado.

 

Parece agora ser claro que os democratas vão ficar com 53 lugares. E se isto sucedeu foi devido às escolhas duvidosas que o tea party, Sarah Palin e Jim DeMint fizeram durante o período das primárias. No Delaware, Mike Castle teria sido eleito. Jane Norton teria batido o senador Michael Bennet no Colorado. E por fim, Harry Reid teria sido reformado mais cedo com Danny Tarkanian como candidato republicano. E já nem falo do Alaska, onde o candidato oficial republicano, nomeado com o apoio de Palin e do tea party, terá sido derrotado pela senadora Lisa Murkoswki. Dos candidatos apoiados pelo tea party para o senado, apenas terão vencido Rand Paul e Mike Lee, em dois estados profundamenta republicanos (Kentucky e Utah) e Marco Rubio na Florida, este claramente de um campeonato superior aos restantes e com muitos apoios no establishment republicano (Karl Rove e Jeb Bush, por exemplo). Uma das questões que esses líderes republicanos terão de equacionar é se o purismo ideológico, a cegueira em relação às qualidades pessoias e políticas dos candidatos que apoiaram, valeu a pena. Uma lição para 2012.


publicado por José Gomes André, às 10:25link do post | comentar | ver comentários (2)

1. Os resultados ainda não são definitivos, mas é garantido que os Republicanos obtêm uma vitória estrondosa na Câmara dos Representantes, conquistando cerca de 65 lugares aos Democratas. A questão estrutural (os Republicanos partiam de um número anormalmente baixo de mandatos) não explica tudo: este foi manifestamente um voto maçico de protesto contra a agenda política Democrata e o Presidente Obama.

 

2. Os Democratas evitam um cenário eleitoral calamitoso devido a prestações razoáveis no Senado. Mantêm a maioria, o que bloqueará à partida qualquer tentativa dos Republicanos em operar uma revolução política a partir da Câmara dos Representantes.

 

3. Com maioria na câmara baixa e legitimidade política reforçada a partir do "voto popular", os Republicanos estão agora expostos à luz da ribalta. O povo americano puniu severamente os Democratas, mas não bastará aos Republicanos apregoar uma agenda meramente "oposicionista". Cabe-lhes apresentar medidas concretas para reduzir o défice federal, relançar a economia e combater o desemprego. Caso contrário, a fúria dos eleitores acabará por recair a médio-prazo no partido que ontem triunfou.

 

4. Obama tem agora a oportunidade - e o dever - de honrar uma das suas maiores promessas eleitorais: encetar lógicas de compromisso e de aproximação às forças Republicanas. O Presidente tem falhado rotundamente na sua missão de criar pontes de entendimento, mas será forçado a fazê-lo, pois a sua reeleição em 2012 dependerá em boa parte dessa sua capacidade conciliatória.

 

5. Em todo o caso - e por paradoxal que possa parecer - Obama não estará totalmente insatisfeito com os resultados. O cenário de divisão política gerado reforça o papel moderador do Presidente, entregando-lhe além disso de bandeja os temas de campanha para 2012: quando o processo legislativo avançar, sublinhará a sua capacidade de diálogo; se as políticas não resultarem, descreverá os Republicanos como "forças de bloqueio".

 

6. O Tea Party celebra, mas não efusivamente. Passa a ter representação específica no Congresso, mas não se consegue distanciar totalmente da imagem de algum radicalismo, o qual terá prejudicado as hipóteses Republicanas no Senado (vide o caso de Sharron Angle ou da famigerada Christine O'Donnell). As Primárias Republicanas de 2012 serão um teste decisivo à capacidade deste movimento, mas prevê-se a necessidade de controlar as franjas mais extremistas para que o mesmo venha de facto a marcar política e eleitoralmente os Estados Unidos.


publicado por Nuno Gouveia, às 02:51link do post | comentar | ver comentários (2)

A primeira conclusão a ser conhecida esta noite. John Boehner sucede a Nancy Pelosi como Speaker da Câmara dos Representantes.


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