William Galston, do Brookings Institution, elaborou um estudo onde defende que o actual Congresso é o mais polarizado de toda a história americana. Neste estudo, o académico que colaborou na Administração Clinton e trabalhou ainda nas campanhas presidenciais de Al Gore e Walter Mondale, explica-nos a evolução do sistema partidário americano nos últimos 60 anos, e as mudanças ideológicas ocorridas em ambos os partidos. As suas conclusões não são as mais optimistas, mas vale a pena ler. Especialmente quem tem interesse no sistema político americano: Can a Polarized American Party System Be “Healthy”?
Charlie Crist vai anunciar amanhã que se retira das primárias republicanas e que vai concorrer como Independente ao Senado nas próximas eleições de Novembro. Deste modo, esta corrida fica completamente em aberto, com Marco Rúbio e Kendrick Meek a terem a oposição do actual governador. Nas sondagens conhecidas a três, Rúbio surgiu sempre à frente, mas com curta vantagem. Mas com a confirmação desse facto, será prudente esperar pela reacção da população da Flórida perante esta traição de Crist ao seu partido de sempre. É que, independentemente da argumentação que Crist utilizará, esta situação apenas sucede porque estava a ser humilhado por Marco Rúbio nas sondagens. A sua carreira política no GOP termina desta forma. Resta saber se conseguirá sobreviver à eleição de Novembro.
Embora sem adoptar um tom catastrofista, o Nobel da Economia traça, no seu conhecido blog ("The Conscience of a Liberal"), um quadro negro para a situação económico-financeira de Portugal, neste post. Destaco as seguintes passagens:
"Greece seems to be spiraling over the edge into default; I just don’t know how it steps back from that edge now. Might it also leave the euro? That would be a total mess, inviting the mother of all bank runs, although [...] that may be happening anyway. Now, Portugal. Scary spike in bond yields [...]. Portugal’s budget woes aren’t nearly as severe, on the surface, as Greece’s. But it had a big real estate bubble, and now the market thinks the banks are in trouble. But if the banks have to be rescued, however, this would hit the budget hard."
O lugar no Senado que pertenceu a Barack Obama até 2008 poderá mudar para os republicanos em Novembro. O Illinois é um estado predominantemente democrata, que vota no candidato democrata nas presidenciais desde 1992 e tem eleito maioritariamente democratas para as duas câmaras do Congresso. Num ano difícil, este é mais uma eleição onde o candidato republicano é favorito. O The Cook Political Report passou hoje esta corrida para Lean Republican e as perspectivas são bastante boas para Mark Kirk derrotar Alexi Giannoulias.
Os últimos anos não foram fáceis para os democratas do Estado, que passaram por vários escândalos de corrupção, que culminou com a acusação de corrupção e demissão do governador Rod Blagojevich. Para piorar a situação de Giannoulias, o banco que pertencia à sua família, e onde ele iniciou a sua carreira profissional, foi na passada fechado pelo Federal Deposit Insurance Corp. Não saiu ainda nenhuma sondagem depois deste acontecimento, mas as duas últimas já davam uma curta vantagem a Kirk. As próximas deverão favorece-lo ainda mais.
PS: Tenho vindo a dedicar curtos posts a corridas que se prevêem renhidas nas próximas eleições intercalares. Até Novembro irei continuar a destacar as mais interessantes. No próximo mês de Maio também vão decorrer algumas primárias, nomeadamente no Ohio, Indiana, Utah, Arkansas, Kentucky e Pennsylvania. Também terão destaque por aqui.
Vários europeus foram excelentes observadores da América, mas também existem exemplos de americanos que entenderam muito bem fenómenos ocorridos no Velho Continente. Sirva de exemplo uma notável carta de 1795, na qual James Monroe – então embaixador americano em Paris e futuro 5º Presidente dos EUA – descreve ao seu amigo James Madison o regime de Robespierre, que terminara abruptamente alguns anos antes.
“No regime de Robespierre, a que bem se chamou terrorismo [terrorism], (...) a questão universalmente proposta era saber quem era terrorista, quem era jacobino, quem era insurgente e quem era anarquista, pois todos estes termos pareciam sinónimos”. Na tentativa de criar um regime impoluto, um sistema político puro e perfeito - inclusive através de um Comité de Salvação Pública - Robespierre originou um monstro moral, onde a diversidade e o pluralismo foram substituídos por uma única dinâmica pública, um único modelo institucional, tão arbitrário quanto totalitário. Emergiu assim, não a figura de uma “vontade geral” virtuosa e imaculada, mas uma turbamulta violenta e febril.
Monroe soube descrever como poucos o problema de fundo do sonho revolucionário francês: porque a política é feita de homens e para os homens, a idealização de um mundo perfeito não passa de uma perigosa quimera. Pena que George Bush (cujo maniqueísmo assentava numa visão política finalista) não tenha estado atento à mensagem de Monroe. E pena também que diversos apoiantes de Obama (e também até o próprio...) insistam numa descrição messiânica do Presidente dos EUA - descrição essa que contrasta fortemente com o credo dos Founding Fathers americanos.
Há mais de 2 meses elaborei aqui uma lista de apostas para as próximas eleições intercalares para o senado. E na verdade desde então a corrida tem-se mantido relativamente estável no que concerne às sondagens e previsões de resultados. Se as eleições fossem na próxima terça-feira, acredito que o GOP ganharia oito lugares aos democratas, com as conquistas na Pensilvânia, Colorado, Nevada, Dakota do Norte, Illinois, Arkansas, Indiana e Delaware. Nota-se nas sondagens uma relativa estabilidade nos favoritos, com apenas algumas nuances. As alterações que registo são: o aumento da probabilidade da senadora democrata de Nova Iorque em vencer a corrida, agora que George Pataki anunciou que não se vai candidatar e também o fim da indecisão pelo resultado no Indiana, onde o republicano Dan Coats surge agora como claro favorito para vencer esta eleição. Por seu lado, aumentou a indecisão na Florida perante a ameaça de Charlie Crist concorrer como independente. Apesar disso, as sondagens indicam ainda uma vantagem para o republicano Marco Rúbio.
Contudo há ainda estados onde a corrida está completamente em aberto. Pelo lado democrata, a Califórnia, Washington (especialmente se Dino Rossi avançar) e o Wisconsin são estados que ainda podem ser conquistados por republicanos. E o Illinois, Ohio, Missouri, Nevada, Colorado e New Hampshire podem ainda cair para o lado democrata.
Ainda faltam muitos meses para as eleições, e a margem de vitória dos republicanos é ainda incerta. A minha aposta, se as eleições fossem na próxima semana, é que ganhariam oito lugares aos democratas, ficando a dois lugares da maioria. Daqui a dois meses voltarei a este assunto.
O governador da Florida, que ainda há um ano tinha 70% de popularidade nos republicanos do estado, está prestes a abandonar a corrida à nomeação republicana. Num memorando interno do National Republican Senatorial Committee, que já tinha declarado apoio à sua candidatura, é afirmado que as hipóteses de Crist continuar na corrida são zero. Marco Rúbio, antigo Speaker da Câmara dos Representantes da Florida, descendente de cubanos e favorito para obter a nomeação, verá deste modo confirmada a nomeação. E os sinais já eram bastantes: nas últimas semanas Charlie Crist vetou legislação republicana, o que enfureceu os republicanos do estado, o que fez com que o antigo senador Connie Mack abandonasse a direcção de campanha de Crist. E nos últimos tempos, além da vantagem superior a 20% para Rúbio, este recebeu os importantes apoios de Mitt Romney e Rudy Giuliani, enfraquecendo ainda mais a candidatura de Crist.
Até ao final do mês, Crist deverá abandonar oficialmente a sua campanha nas primárias, e terá de decidir se avança para uma candidatura independente ao Senado. As sondagens conhecidas numa corrida a três até lhe dão ligeira vantagem perante Rúbio e o candidato democrata, Kendrick Meek. Mas ainda não é certo que Crist siga esta opção. Neste momento parece certo que Crist não tem a mínima hipótese de vencer a nomeação republicana, e é por isso que deverá desistir. Mas se deixar o Partido Republicano, isso deixará Crist numa posição muito vulnerável, perdendo muitos apoios que ainda detém no GOP. Há quem defenda que deve terminar o seu mandato como governador e candidatar-se novamente ao Senado contra o democrata Bill Nelson em 2012. No final do mês saberemos o futuro político de Crist, que em 2008 chegou a ser referenciado como candidato a Vice-presidente de John McCain.
Abraham Lincoln foi uma personagem notável, que nasceu no seio de uma família pobre do Kentucky, foi um auto-didacta que subiu a pulso na elite do Illinois, chegando a Presidente dos Estados Unidos depois de uma carreira de sucesso como advogado.
As condições para a vitória do então recente Partido Republicano foram criadas depois da grande conflitualidade política da década 1850 e especialmente do mandato catastrófico de James Buchanan, considerado um dos piores presidentes das história. As divisões suscitadas pelo Acto Kansas-Nebraska, que repeliu o Compromisso do Missouri foi apenas o rastilho para o que viria a acontecer na década seguinte. Neste período assistimos também ao fim dos Wighs e à emergência do Partido Republicano. Buchanan é considerado o responsável pela agudização do conflito entre os sectores esclavagistas do Sul e os abolicionistas do Norte, sendo que os moderados, que defendiam a contenção da escravatura aos Estados do Sul, emergiram como vencedores das eleições presidenciais de 1860. Foi nesse contexto que Abraham Lincoln obteve a nomeação republicana, ele que não defendia o fim da escravatura nos estados do Sul, mas apenas o respeito pelo Compromisso do Missouri de 1820, que confinava a escravatura aos estados Sul. Sob a promessa de manter a União a todo o custo, Lincoln venceu as eleições presidenciais de 1860 com quase 60% do colégio eleitoral, mas apenas com 40% do voto popular.
Lincoln tinha estado no Congresso entre 1846 e 1848, mas afastou-se da política depois de sair de Washington. Foi nesses anos que ganhou fama como advogado de sucesso no estado do Illinois. Mas com o acto de Kansas-Nebraska de 1854, que dava aos territórios do oeste liberdade de escolha na opção esclavagista, fez com que Lincoln regressasse à politica activa, agora no Partido Republicano. Este estava dividido entre os sectores mais radicais, que defendiam a abolição da escravatura na União, e os moderados, que defendiam uma posição mais de acordo em relação ao Compromisso do Missouri, com o fim progressivo da escravatura nos estados do sul, mas sem causar uma ruptura na União.
Em 1855, Lincoln escreveu uma carta ao seu velho amigo do Kentucky, Joshua Speed, dono de escravos e apoiante do Kansas-Nebraska, onde reafirmava a sua oposição total ao alargamento da escravatura aos territórios do Oeste. Nesta longa carta, Lincoln afirma: “estava a perder interesse pela política quando a revogação do Compromisso de Missouri despertou-me novamente”. Lincoln defende também a sua oposição à escravatura, dando exemplos dessa sua posição moral. E chega mesmo a invocar razões constitucionais: "all men are created equal, except negroes”. No entanto, e naquilo que viria a ser a sua plataforma política para as eleições de 1860, Lincoln afirmava que nesse momento a sua oposição política era apenas à extensão da escravatura e não à sua existência nos estados do Sul. Mas, e apesar dessa sua garantia, quando foi declarado vencedor das presidenciais, os estados do Sul avançaram para a secessão. Com os resultados conhecidos.
Barack Obama anunciou esta semana o novo plano para a exploração espacial da NASA, o que suscitou críticas de Neil Armstrong e elogios de Buzz Aldrin. Este novo plano termina com o projecto de regresso à Lua em 2020, mas mantém prevista a viagem tripulada a Marte na década de 2030. O projecto Constellation, que já consumiu 9 mil milhões de dólares, e que serviria para colocar de novo o homem na Lua em 2020, foi anulado, o que causou inúmeras criticas a Barack Obama. Mas o Presidente americano defende que este seu plano é mais ambicioso, pois pretende atingir novas fronteiras no espaço.
O projecto de Obama prevê o aumento do orçamento da NASA em 6 biliões de dólares para os próximos cinco anos e a criação de 2500 novos empregos nos próximos dois. Um dos objectivos é a exploração do sistema solar através da robótica, incluindo a atmosfera do Sol, novas missões exploratórias a Marte e outros destinos, bem como um novo telescópio para investigação do espaço. O plano prevê também a extensão da Estação Espacial Internacional por mais cinco anos. Existe também a intenção de investir mais 3 biliões de dólares para construir novos foguetes espaciais. Por fim, o plano prevê missões tripuladas a partir de 2025, enviando astronautas a asteróides no espaço. Na década de 2030, está previsto o envio de uma missão tripulada à órbita de Marte.
Não sendo um especialista no assunto, sou um entusiasta da exploração espacial. Nos últimos 30 anos todos sentimos que esta aventura tem vindo a perder fôlego. O fim da guerra fria e da competição entre russos e americanos será uma das grandes explicações. Mas quero acreditar que a Administração Obama, ao desviar os recursos de um hipotético regresso à Lua, estará focar-se no essencial: procurar novas aventuras para o Homem. Uma das coisas mais interessantes que li é que Obama procura centrar os esforços da NASA na exploração do “Deep Space”, deixando a exploração da órbita terrestre a cargo de empresas privadas e de outros países. E ao focar Marte como o próximo grande objectivo das missões espaciais, este projecto de Obama deixa a raça humana novamente a sonhar. É nisso que quero acreditar. Agora que a NASA cumpra o seu objectivo.
Dick Morris, consultor político republicano que trabalhou com Bill Clinton entre 1994 e 1996, faz uma previsão bastante optimista para o GOP. Morris é um excelente analista político e consegue explicar de forma bastante clara a dinâmica da corrida. Mas ao longo da sua carreira já falhou algumas vezes. Estou a recordar-me da sua previsão de 2005, onde defendia que o mais provável é que Hillary Clinton defrontasse Condoleezza Rice nas presidenciais de 2008. Mas também é verdade que acerta mais do que erra.
Os anúncios que George Pataki e Tommy Thompson não vão concorrer ao Senado por Nova Iorque e Wisconsin são excelentes notícias para o Partido Democrata. Outrora considerados lugares seguros, nos últimos meses surgiram notícias que se esses dois republicanos se candidatassem tinham francas possibilidades de ganhar.
George Pataki, antigo governador de Nova Iorque, ao recusar avançar quase que oferece este lugar aos democratas, pois o outro nova-iorquino com possibilidades, Rudy Guiliani, há muito tinha deixado claro que não iria concorrer. Especula-se que Pataki poderá se candidatar à nomeação republicana de 2012, e talvez por isso, recuse neste momento tentar roubar o lugar a Kirsten Gillibrand. A confirmar-se esta notícia, não deverá haver surpresas nesta eleição.
Tommy Thompson, antigo governador do Wisconsin, está neste momento no sector privado e por lá deverá continuar. O senador Russ Feingold tem a vida mais facilitada, mas como já aqui defendi, o seu lugar pode continuar em perigo. O Wisconsin não é um Blue State como Nova Iorque, e o tempo que ainda falta até Novembro poderá ser aproveitado pelo candidato republicano. Mas sem dúvida que tudo seria mais complicado para os democratas com Thompson na corrida.
Depois de várias semanas a receber más notícias, o Partido Democrata pode finalmente respirar um pouco. E ontem ganharam a eleição especial para o Congresso na Florida, um resultado sem surpresas.
A possibilidade de uma vitória republicana nas eleições para o Congresso dos Estados Unidos em Novembro, pelo menos na Câmara dos Representantes, tem feito surgir comparações com 1994, ano em que o G.O.P. pela primeira vez conquistou a câmara baixa desde o longínquo ano de 1952, e mesmo aí à “boleia” da vitória presidencial do General Eisenhower. A essa conquista o G.O.P. juntou também em 1994 a do Senado.
O paralelo tem realmente alguma lógica, devido ao factor comum de, tanto em 1994 como agora, na Casa Branca estar um democrata a atravessar uma fase de menor popularidade, não devendo no entanto subestimar-se uma diferença essencial entre Bill Clinton e Barack Obama: o primeiro nunca fora até essas eleições propriamente muito popular, tendo até sido eleito com apenas 43% dos votos - devido essencialmente à presença de um candidato independente na corrida, Ross Perot, sem o qual, contudo, Clinton provavelmente nunca teria ganho essa eleição a George H.W. Bush. Mas as semelhanças não são menosprezáveis: se agora há a Reforma da Saúde, em 1994 houve uma Lei Criminal que causou grande “rombo” eleitoral aos democratas, mormente entre os eleitores independentes do Sul ,e medidas que cá seriam designadas de “fracturantes”, como a admissão de gays nas forças armadas. Os democratas, contudo, atribuem ao insucesso do “Hillarycare” – a frustrada reforma da saúde na primeira metade do primeiro mandato de Bill Clinton, sob a batuta de sua mulher – o principal motivo da sua derrocada em 1994, e contrastam esse insucesso com a vitória legislativa que agora conseguiram. Têm alguma razão, porque essa vitória ocasionou já um revigorar das suas bases, como pode verificar-se nas sondagens, em que o índice negativo de popularidade do Presidente diminuiu.
Em termos de números frios a situação é esta: em 1994 os republicanos conquistaram 9 lugares no Senado e 52 na Câmara dos Representantes. Desta vez precisam de conquistar 10 lugares no Senado e 40 na Câmara. Ou seja, nem precisam de ter um desempenho tão forte como em 1994 para reconquistarem a Câmara. O Senado é claramente um “long-shot” mas, ao contrário do que sucede na Câmara dos Representantes, a maior parte da legislação carece aí, na prática, de 60 votos para ser aprovada, pelo que a conquista de apenas 5 ou 6 lugares pelos republicanos seria já por si suficientemente limitativa das iniciativas legislativas democráticas (actualmente os republicanos têm 41 lugares no Senado, o que já retira a maioria de 60 aos democratas, mas há que não esquecer que os parlamentares americanos gozam de uma total liberdade de voto e usam-na com frequência).
Mas há um outro possível paralelo entre as duas eleições, e que já tem sido alvo de várias especulações. Em 1994 Bill Clinton parecia condenado a ser um presidente de um só mandato. O GOP parecia imparável, e a única questão parecia ser quem seria o seu candidato em 1996. Que fez então Bill Clinton? Pois nem mais nem menos que ir pescar em águas inimigas, trazendo como seu conselheiro para a Casa Branca o consultor republicano Dick Morris, que aliás já o servira enquanto Governador do Arkansas. Morris inventou o que viria a ser conhecido por “triangulação” e que consistia na adopção pelo Presidente de várias políticas republicanas, combinando-as com algumas políticas democráticas populares e com uma retórica conciliatória. Governando praticamente em tandem com a nova maioria no Senado, Clinton equilibrou o orçamento e reformou a Segurança Social e seria confortavelmente reeleito em 1996 (mas de novo com menos de 50% dos votos, devido a nova presença do incansável Perot). A questão é pois se Obama, caso se confirme pelo menos a conquista da Câmara dos Representantes pelos republicanos em Novembro, poderá ensaiar um golpe táctico semelhante ao de Clinton. Pessoalmente tenho muitas dúvidas: Obama parece ser um político muito mais ideológico que Clinton, um homem pragmático (os cínicos, contudo, achavam que só o poder lhe interessava e em vez de pragmático chamavam-lhe oportunista). Francamente acho difícil vê-lo abraçar políticas caras ao eleitorado conservador e, em alguns casos, mesmo ao eleitorado moderado. Em caso de derrota em Novembro, Obama ficará com as mãos atadas em termos legislativos e renovará os seus ataques àquele a que gosta de chamar “the party of «No»”, baseando aí a sua tentativa de reeleição. E um partido obstrucionista no Congresso desagrada também aos eleitores. Quanto a Dick Morris, voltou ao seu lugar natural: actualmente é um dos mais ferozes críticos de Obama nos media.
Alexandre Burmester
Iniciamos esta semana um novo espaço com posts de convidados do blogue. Em breve teremos mais novidades.
No último fim de semana Pedro Passos Coelho reuniu-se com blogues durante o congresso do PSD. Uma iniciativa que já tinha sido ensaiada por alguns responsáveis políticos, como José Sócrates, Paulo Rangel ou Francisco Louçã. Esta reunião suscitou reacções por parte de alguns jornalistas que não gostaram de ficar de fora. O Rodrigo Moita de Deus escreveu sobre isso e explicou em poucas palavras o que é e o que representa a blogosfera portuguesa. A Alda Telles escreveu um post sobre o assunto e referiu o exemplo dos Estados Unidos, onde 52% dos blogues se assumem como jornalistas. Não conhecendo o estudo em causa, não me causa estranheza estes números. Mas interessa-me discutir o papel blogosfera norte-americana no campo da política. É um campo carregado de significado político e ideológico.
A blogosfera nasceu nos Estados Unidos e foi lá que ela se desenvolveu de forma mais positiva e com maior capacidade para influenciar o rumo dos acontecimentos. A primeira campanha a nascer e desenvolver-se na blogosfera foi precisamente a de Howard Dean em 2003/4, quando emergiu como frontrunner da nomeação democrata. A rede de blogues que floresceu no verão de 2003, ancorado no blogue Dean For America, tornou possível a um desconhecido candidato nacional despontar como possível vencedor. A sua campanha viria a desabar no caucus do Iowa, mas ficaram as raízes para o sucesso dos blogues na politica americana. À esquerda e à direita vários blogues foram ganhando relevância mediática, transformando-se depois em verdadeiras âncoras digitais para projectos ideológicos na Internet. O mais conhecido é o “liberal” Huffington Post, que é hoje uma instituição muito relevante na politica americana. Arianna Huffington é mesmo uma das personalidades consideradas mais influentes na sociedade americana. Também à esquerda, o Daily Kos, do fundador Markos Moulitsas, que emergiu na campanha de Dean, evoluiu para o mainstream, sendo hoje um farol da esquerda americana na Internet. À direita, o Townhall também ganhou uma enorme relevância, tendo até iniciado em 2008 a publicação de uma revista. Estes espaços também fazem jornalismo, pois dão notícias. Mas são uma visão ideológica da realidade. Um pouco também como os media tradicionais americanos, pois a isenção está num estado de falência no jornalismo americano. E não é apenas a Fox News, como por cá às vezes se quer transparecer. Exemplos do outro lado temos o New York Times, a MSNBC ou mesmo a CNN (esta mais disfarçada) e os espaços noticiosos da CBS ou da NBC.
Ao lado destas “instituições” da Internet, estão os blogues de activistas republicanos e democratas, que têm um papel muito relevante na discussão pública. Tal como em Portugal, muitos destes bloggers ganharam espaço próprio nos media tradicionais. Mas ao contrário do que sucede em Portugal, os blogues mais relevantes assumem abertamente o combate político-partidário, funcionando muitas vezes como extensões das estratégias dos partidos. E por vezes, conseguem mesmo liderar as estratégias dos políticos. Estão no meio do jogo partidário e interagem nele através dos blogues. Não são tratados como jornalistas, mas muitos deles têm briefings especiais com dirigentes políticos. A diferença que encontro é que não serão propriamente reuniões para informar e ouvir, mas sim para acertar estratégias para o combate político e eleitoral. A apregoada independência político-partidária que encontramos em muitos blogues políticos em Portugal é mais difícil de encontrar nos blogues mais lidos dos Estados Unidos. Certamente que há alguns casos, como o Political Wire, que estão desligados a luta política, e são meramente informativos. E estes transformaram-se em verdadeiras fontes de informação pública. Mas os blogues mais conhecidos, como o Hot Air, Think Progress ou NewsBusters estão no meio do combate político-partidário. Por fim há alguns blogues com muita audiência que estão ligados a media tradicionais, como o Daily Dish do Andrew Sullivan ou o The Corner.
Os partidos há muito que viram neles a importância que têm no combate político. Desde 2004 que os blogues tem um espaço próprio nas Convenções dos Partidos. Eu estive na Convenção Republicana de 2008, e tive a oportunidade de verificar que os blogues são tratados como mais um media, ao lados dos restantes. O espaço para os mais de 15 mil membros credenciados estavam divididos por áreas: televisões nacionais, televisões estrangeiras, rádios, agencias noticiosas, jornais nacionais, jornais locais e blogues. Nem mais nem menos. As conferências de imprensa eram abertas a todos os media, todos recebiam informação do Press Office e havia assessores destacados para auxiliar cada corpo dos media. Em paralelo, foram organizados diversos eventos para as diversas categorias - houve duas sessões organizadas num hotel especificamente para os bloggers credenciados com personalidades do Partido Republicano e uma com o CEO da Google. Num destes eventos, tive a oportunidade de assistir a um recrutamento de um blogger. Um congressista republicano dirigiu-se aos presentes e disse que pretendia contratar um blogger para trabalhar com ele nos Young Eagles (organização que representa novos congressistas). Com o espírito prático dos americanos, logo um se ofereceu e no final presumo que tenha saído do hotel contratado.
O que tenho assistido nos últimos tempos é um crescimento da influência dos blogues na política americana. São mais um campo de batalha dos partidos e dos candidatos. A independência politico-partidária é bem menor do que em Portugal, mas isso também sucede nos colunistas e comentadores dos jornais e televisão, onde quase todos se assumem como republicanos ou democratas. Tal como nos media tradicionais, os blogues americanos assumem a sua bandeira e lutam por ela. Sem pretensões de isenção.
Estados Unidos e o Reino Unido sempre tiveram uma relação muito próxima. E também na vida político-partidária isso sucede. O Partido Republicano e os Tories, e o Partido Democrata e Labour mantêm eleições estreitas. Mas esta proximidade não significa que quando estão no poder partidos de famílias diferentes isso signifique posições distantes. George W. Bush e Tony Blair foram aliados, e Barack Obama tem demonstrado um relativo afastamento com Gordon Brown. Muitos Tories, que sempre manifestaram uma preferência clara pelos republicanos, nas últimas eleições presidenciais tiveram posições de apoio a Barack Obama, apesar da maior parte dos conservadores britânicos terem manifestado apoio a John McCain. Mas não acredito que isso será obstáculo às relações entre Obama e Cameron, se confirmar-se a vitória deste nas eleições de Maio.
O rejuvenescimento do Partido Conservador promovido por David Cameron também terá criado divisões entre os dois partidos irmãos, depois de anos de convivência. Todos nos lembramos da irmandade entre Ronald Reagan e Margaret Tatcher. Observando a agenda dos dois partidos, podemos encontrar divergências em vários temas, como nas politicas ambientais ou de saúde. E David Cameron sabe que neste momento quem ocupa o poder em Washington é o Partido Democrata, e terá de ser com eles que terá de trabalhar.
Mas isto não invalida que tenham surgido algumas notícias sobre o entusiasmo dos Republicanos pela possível vitória da David Cameron e no Twitter vejo muitos republicanos a demonstrar o seu apoio aos conservadores. Mas foi com alguma surpresa que li ontem que Anita Dunn, antiga directora de comunicações de Barack Obama, está a colaborar na campanha dos Tories. Esta proximidade de uma antiga colaboradora de Obama na campanha de David Cameron terá tido certamente o aval do Presidente americano. Por isso penso que na Casa Branca já se pensa no futuro das relações deste dois países. Na verdade, há vários antigos colaboradores de Obama a trabalhar na campanha de Gordon Brown, como Joel Benenson e Pete Brodnitz, especialistas em sondagens. Desde modo, a Casa Branca tem seus apoiantes a colaborar nas duas campanhas, mantendo as portas abertas para qualquer desfecho possível destas eleições.
Depois dos embaraços criados pela Administração Obama a Gordon Brown, uma vitória de David Cameron criará condições para fazer um “reset” a esses problemas, e fortalecer a relação especial entre os dois países. David Cameron já teve a oportunidade de desvalorizar as divergências entre os dois países, e demonstrou vontade em colaborar com os Estados Unidos, como sempre tem sucedido na história. Mas sinceramente não acredito que se irá colocar numa posição semelhante à de Tony Blair em relação à Administração Bush. Os tempos são outros, e as lideranças também são diferentes, e Cameron também sabe que essa relação foi bastante prejudicial ao Labour.
SEXTA-FEIRA, 9 de ABRIL - 18H05
Domingo, 11 de Abril – 19H05 (REDIFUSÃO)
Esta semana, André Abrantes Amaral e Antonieta Lopes da Costa em debate com Nuno Gouveia e José Gomes André, ambos do blogue Era Uma Vez na América. Juntos, analisam alguns dos principais temas da actualidade:
- Obama e eleições no Reino Unido – Os índices de popularidade de Barack Obama têm descido, mas o presidente norte-americano já conseguiu levar por diante a reforma do sistema de saúde. Entretanto, no Reino Unido, as eleições estão marcadas para dia 6 de Maio - e tudo pode acontecer.
- Educação em Portugal – Com a questão do bullying em cima da mesa, o eterno problema das carreiras dos professores, mais a sempre complicada gestão do ensino superior, quais são as perspectivas da educação em Portugal?
- Seis meses de governo – O governo está prestes a concluir os primeiros 6 meses de mandato mais difíceis de sempre. Passada a tempestade, espera-se agora a bonança?
- PSD – Realiza-se mais um congresso do PSD, agora para escolher os órgãos do partido. Teremos união ou tudo ficará como dantes?
“Descubra as Diferenças”… Um programa de opinião livre e contraditório, onde o politicamente correcto é corrido a quatro vozes e nenhuma figura é poupada. No final de cada emissão, fique para ouvir a já clássica “cereja em cima do bolo”: uma música, em irónica dedicatória, ao político/figura/situação em destaque na semana.
PODCAST: http://descubraasdiferencas.podomatic.com
descubraasdiferencas@radioeuropa.fm
Emissão também disponível online em www.radioeuropa.fm ou através da powerbox da ZON TV Cabo
"É maravilhoso como as figuras políticas crescem na sombra", ouvimos a dado ponto dizer-se na (excelente) série sobre os anos formativos dos EUA, "John Adams". Trata-se de um comentário de Alexander Hamilton sobre a retirada de Thomas Jefferson em 1793, quando este deixa a posição de Secretário de Estado (em discordância com as políticas da Administração Washington) e regressa à sua propriedade rural na Virgínia. Tal observação faz hoje parte da cultura linguística e política norte-americana, sendo usualmente recordada sempre que um governante transmite o desejo de se afastar da política, tendo na verdade pretensões de regressar rapidamente ao poder (já sob a égide de uma imagem renovada, marcada pelo seu suposto desprendimento da mesma).
Curiosamente, a série evoca esta frase famosa num contexto dramático verosímil (mostrando os conflitos entre a ala britânica da Administração e a ala francesa, personificada por um Jefferson que em breve ascenderá ao poder), mas, todavia, falso. Com efeito, não só esta frase não foi proferida por Hamilton, como nem sequer se aplicava a Jefferson. O seu verdadeiro autor foi o próprio John Adams (sublinhe-se a ironia do argumentista), que fez aquela observação em 1797, numa carta à sua mulher Abigail, e a propósito de James Madison (o grande colaborador de Jefferson - ironia, parte dois).
Madison, então o grande líder da oposição Republicana, anunciara o seu afastamento da política americana e o regresso à Virgínia natal, depois de sofrer várias derrotas políticas na Câmara dos Representantes. O perspicaz Adams teceu na altura o seguinte comentário profético: "Mr. Madison is to retire. It seems the mode of becoming great is to retire. Madison I suppose after a Retirement of a few years is to be President or V.P. It is marvellous how political Plants grow in the Shade.” (J. Adams a Abigail Adams, 14/01/1797). Tratava-se sem dúvida de uma observação premonitória, pois apenas três anos mais tarde, Madison tornar-se-ia Secretário de Estado (de Jefferson), chegando mesmo à Presidência em 1809, doze anos depois da curiosa observação de Adams.
Volto a este tema, depois de ter lido muitos erros e clichés sobre este movimento, nomeadamente no nosso país. Às vezes porque as análises se ficam pelo superficial, outras vezes porque se limitam a descarregar os estereótipos tradicionais que existem sobre a vida política norte-americana. Os Estados Unidos são normalmente divididos na Europa entre os bons (democratas e liberais) e os maus (republicanos e conservadores). O Tea Party, sendo um movimento eminentemente conservador, já foi colocado no lado mau, e por isso, será sempre encarado como extremista e radical. Várias vezes já o vi colado à extrema-direita racista. Nada de novo, pois esta caracterização até tem vindo a ser explorada pelos Democratas nos Estados Unidos, sendo que a sua visão partidária e parcial faz sempre escola na Europa. O que é dito pelos meios liberais americanos é sempre uma verdade incontestada para alguns.
Mas interessa primeiro saber quem são estas pessoas e o que defendem. A Gallup publica esta semana uma sondagem sobre o Tea Party esclarecedora sobre quem se considera parte deste movimento. Não surpreendentemente, 49 por cento são republicanos, 43 independentes e apenas 8 por cento democratas, sendo que 28 por cento dos americanos considera-se representado pelo movimento. Quase um terço da população, o que não deixa de ser significativo. Mas esta sondagem também indica que os dados demográficos não estão longe de acompanhar a realidade social americana. E o que defendem estas pessoas?
O Tea Party nasceu em oposição ao expansionismo do governo federal, nomeadamente com o plano de estímulo de Barack Obama, que se alargou à contestação da reforma da saúde. Menos impostos, menos governo e maior liberdade individual. Um movimento genuinamente americano, que surge em consonância com a tradição conservadora que faz parte do património político do país. Mas como sempre sucede em movimentos populares do mainstream americano, e este movimento já pode ser considerado como tal, surgem vozes radicais que, apesar de ultra-minoritárias, assumem um protagonismo excessivo no discurso público. E é o que tem acontecido em muitas manifestações do Tea Party, com radicais a dominarem as atenções dos media. Cartazes exagerados, gritos de ordem extremistas e alguns dos seus oradores, como vimos recentemente no discurso de Tom Tancredo na Convenção Tea Party, a transporem para a opinião pública um carácter radical e caricatural do movimento. Mas a esmagadora maioria dos seus membros são simples cidadãos americanos preocupados com o rumo do país. As tendências social-democratas da políticas da Administração Obama suscitariam sempre uma reacção categórica da sociedade americana. Ninguém esperava que o governo americano expandisse o seu papel sem que recebesse uma oposição deste género. Num país maioritariamente de centro-direita, e que faz das suas raízes individualistas uma das suas forças culturais, o Tea Party é uma correspondência objectiva dessa tradição. Muitos americanos estão preocupados com o rumo do país, e o crescimento da despesa federal, que começou nos anos Bush, e os défices exagerados que o governo terá nos próximos 10 anos, são o mote para esta contestação.
Se os republicanos conseguirem aproveitar a força deste movimento em seu favor, sem com isso desviarem-se demasiado para a direita, poderão obter excelentes ganhos em todo o território americano. Não por acaso alguns dos estados mais liberais da União, como o Delaware, Illinois ou até a Califórnia, poderão eleger senadores republicanos. Esta relação com os tea partys, se for bem gerida, poderá ser a chave do sucesso republicano de 2010.