Como sabemos - ou presumo que se saiba deste lado da "poça" - a eleição presidencial americana não é uma eleição directa. De facto, trata-se de uma eleição indirecta, através de um colégio eleitoral onde o peso de cada estado da União, em termos demográficos, é tido em conta. Esta é mais uma das facetas onde a sabedoria constitucional americana é peculiar. Embora raramente isso se tenha verificado - a última vez em 2000, na vitória de George W. Bush sobre Al Gore - é possível um candidato vencer o voto popular e não vencer a eleição presidencial, isto porque o sistema eleitoral americano procura preservar os direitos dos estados sobre o todo federal.
Vem isto a propósito das contas que a campanha do Presidente Obama tem de fazer para garantir a maioria de votos - 270 - no Colégio Eleitoral.
E a coisa não se apresenta fácil, independentemente das sondagens a nível nacional que apontam para uma derrota de Obama contra um republicano "genérico", e lhe dão vitórias mais ou menos "suadas" contra os mais proeminentes candidatos republicanos.
Independentemente da característica americana , porventura herdada dos seus avós britânicos, de que só se muda se for garantidamente para melhor, a verdade é que os estados cruciais para a eleição de 2012 - os chamados "battleground states" - pendem neste momento claramente para os republicanos. Em 2008 Obama triunfou sobre John McCain com uma vantagem de 365 contra 173 votos no Colégio Eleitoral. Nesta altura da corrida, qualquer prognosticador moderadamente prudente aventaria uma vitória do candidato republicano nos seguintes estados ganhos por Obama em 2008 (entre parêntesis o número de votos de cada um desses estados no referido Colégio Eleitoral): Nevada (5), Iowa (7), Indiana (11), Ohio(20), Florida (27), New Hampshire (4), Virginia (13) e Carolina do Norte (15). A confirmar-se, isto traria o total eleitoral de Obama para os 263 votos e, consequentemente, o do seu rival republicano para os 275, ou seja, uma vitória republicana. E nem sequer estou aqui a incluír outros estados que Obama venceu em 2008 e onde poderá ter muitas dificuldades em 2012, tais como Colorado (9), Pensilvânia (21), Minnesota (10) e Wisconsn (10). Diga-se desde já que uma vitória republicana na Pensilvânia significará a conquista da Casa Branca sem mais rodeios.
Mas, para além da aritmética eleitoral, há a questão das minorias e dos grupos etários mais jovens, de há muito entre os principais suportes do Partido Democrático. Se Obama pode contar em 2012 com a tradicional votação maciça dos negros no candidato democrático, o mesmo já se afigura mais difícil, em comparação com 2008, com o maior grupo entre as minorias, os chamados "hispânicos", pois convém não esquecer que George W. Bush, na sua reeleição em 2004, conseguiu nesse grupo um score superior a 40%, e que um resultado semelhante do candidato republicano em 2012 muito provavelmente significaria uma derrota de Obama, tendo em atenção, especialmente, o peso desse eleitorado em "battlegrounds" como Nevada, Colorado e New Mexico (este último nem sequer incluído nas contas que acima fiz). Temos ainda o sector dos "eleitores jovens" (entre os 18 e os 29 anos), também um dos pilares da eleição de Obama em 2008. Pois bem, neste momento, nesse segmento do eleitorado, a popularidade do Presidente está abaixo dos 50%.
Atendendo às previsões económicas e às opiniões dos vários segmentos do eleitorado, nesta altura do "campeonato", ou seja, a pouco mais de 10 meses das eleições, eu diria que o mais provável é Obama ser derrotado em Novembro de 2012. Mas claro que há sempre imponderáveis - como, especialmente, os de política externa, não mencionando as famigeradas "October Surprises" - que podem alterar estas perspectivas. Isto sem falar, claro, de quem será o seu opositor - um homem de carne e osso como ele, e não um "republicano genérico".
Nota: Utilizei os números do Colégio Eleitoral de 2008; entretanto houve um recenseamento que poderá ter alterado o peso relativo dos estados por mim mencionados, embora, penso, sem impacto significativo nos meus cálculos acima descritos.