As sondagens do último mês colocaram Rick Perry consistentemente à frente nas sondagens nacionais, e logo a imprensa colou-lhe o rótulo de favorito. Talvez com justiça. Mas passados três debates em que Rick Perry participou e não vejo possível como ele poderá manter esse estatuto. Ontem esteve mesmo muito mal, não conseguindo sequer disfarçar a sua inabilidade para este tipo de debates. E nem quero sequer comparar a sua prestação com a de Mitt Romney. Olhando para as respostas, a convicção e o conteúdo de Perry, e rapidamente verificamos que políticos experientes como Rick Santorum, senador e congressista durante vários anos, e Newt Gingrich, têm estado bem melhor do que Perry. Ontem esse contraste foi por demais evidente, com Santorum, Gingrich e também Jon Huntsman pelo centro, a demonstrarem terem bem mais fibra do que Perry. E o debate de ontem deve ter feito soar os alarmes no establishment republicano que não se revê em Romney e aguardava pelo comportamento de Perry. Não por acaso, esta manhã em Washington o nome de Chris Christie voltou a ser falado constantemente.
O debate de ontem à noite na Florida terá sido um sério revés para Rick Perry. Depois das suas primeiras prestações não terem sido muito positivas, ontem foi um verdadeiro desastre. O constraste com Mitt Romney foi por demais evidente, com este a mostrar que está perfeitamente preparado para atacar a presidência. Ter uma campanha presidencial no currículo ajuda bastante, e o facto de estar em campanha desde 2007, quando anunciou a sua primeira candidatura, tem ajudado bastante. Durante estes debates evita os ataques dos adversários, centra a sua mensagem em Obama e passa por cima das armadilhas que lhe vão sendo colocadas. Ontem perguntaram-lhe se considerava, tal como outros concorrentes, que Obama era um socialista. Não caindo na armadilha de lhe chamar socialista, Romney disse que gostaria era de chamar a Obama "former President" e que considerava que Obama era um "liberal" da velha escola do Partido Democrata, e que está perfeitamente de acordo com as políticas falhadas dos partidos europeus social-democratas, alguns deles chamados socialistas. Uma grande diferença para o radicalismo de outros, que consideram Obama um socialista, mas da escola soviética. Romney tem alguns problemas com a base republicana, e só isso é que o impede de estar muito à frente nas sondagens. A sua reforma na saúde no Massachusetts, a sua moderação em determinados assuntos e posições antigas sobre o aborto ou controlo de armas retiram-lhe apoio na base conservadora e no tea party. Além do mais, não esquecer que é Mórmon, um assunto que tem andado esquecido nestas primárias, mas que deverá fazer confusão entre alguns evangélicos. Mas depois de ter visto estes debates, não há que esconder: Romney tem estado num nível muito superior aos restantes. Não digo que Perry não consiga surpreender já no próximo debate e recuperar o fôlego entretanto perdido. Tem um longo currículo político e certamente não se deixará abater tão facilmente. Mas a continuar neste linha, não acredito que tenha hipóteses de bater Romney. O eleitorado conservador no passado já deu mostras de inteligência, ao olhar para a elegibilidade dos candidatos, e desta vez, acredito que não faça de modo diferente.
A entrar nos últimos três meses do ano, haverá certamente novidades na campanha. Irá emergir alguém no Iowa para fazer frente a Perry? Rick Santorum tem estado bastante bem nestes debates e poderá ter algum movimento nas sondagens, e Michele Bachmann, que desapareceu dos holofotes (e das sondagens nacionais) irá dar tudo por tudo no Iowa. Com tanta gente a competir ferozmente no Iowa, Romney irá certamente atacar nos caucuses. No New Hampshire, Romney aparece muito à frente, mas Jon Huntsman deu sinal de vida recentemente em duas sondagens, a aparecer com mais de 10 por cento. Será que vai emergir como a alternativa a Romney aqui? Ainda muito irá acontecer nestas primárias. Recordo que em 2007, por esta altura, Rudy Giuliani liderava as sondagens, seguido de perto por Fred Thompson. John McCain, o nomeado, andava pelas ruas da amargura, e Mitt Romney e Mike Huckabee não chegavam aos 10 por cento.