Lee Atwater morreu há 20 anos quando estava no auge da sua carreira como consultor republicano. Arquitecto da vitória de George. H. Bush contra Michael Dukakis em 1988, muitos dizem que se Atwater não tivesse falecido na altura, Bill Clinton nunca teria sido eleito. E provavelmente têm razão. Haverá poucas personalidades do mundo da comunicação política que tenham gerado tanta controvérsia como Lee Atwater. O seu nome, em certos círculos, equivale a dizer o que de pior se fez na política, e não é por acaso que se ouve falar deste consultor em muitas universidades portuguesas. Recordo-me de falarem em Atwater como se diabo em pessoa se tratasse. Mas quem foi Lee Atwater e o que representou para a vida política americana? É o que este documentário de Stefan Forbes de 2008 tenta responder, com depoimentos de Ed Rollins, Michael Dukakis, Mary Matalin, Sam Donaldson e tantos outros intervenientes de época.
Lee Atwater nasceu em 1951 e começou a dar cartas na década de 70, primeiro nos College Republicans, onde na mesma altura também se distinguiu Karl Rove, e depois na política da Carolina do Sul, onde foi o protegido de Strom Thurmond. Nesta década venceu várias eleições estaduais, e começou a fazer-se notar pelas tácticas agressivas contra os adversários. As campanhas negativas eram o seu forte, e tudo era utilizado para afectar a imagem dos opositores. Até onde se pode ir na política para vencer? Atwater não tinha limites. Com várias vitórias no seu currículo, deu nas vistas e foi chamado a colaborar na campanha de Ronald Reagan em 1980. Depois disto, ninguém mais parou Lee Atwater. Nem Ed Rollins, que o convidou para trabalhar consigo na Casa Branca durante o primeiro mandato de Reagan, mas que posteriormente, como conta neste filme, foi traído por Atwater. Durante estes anos foi fortalecendo uma relação com George H. Bush, pensando já no próximo passo da sua carreira: ser o responsável da campanha do então Vice-Presidente em 1988. Uma das relações mais interessantes que é explorada neste documentário é precisamente com George W. Bush, o que viria a marcar profundamente a actividade política do filho do Presidente que também chegou à Casa Branca. Karl Rove, que se cruzou várias vezes com Atwater, também terá sido um diligente estudante das tácticas de guerrilha do consultor da Carolina do Sul.
E foi na campanha de Bush'88 que o nome de Lee Atwater ganhou fama. Michael Dukakis chegou a ter 17 pontos de vantagem nas sondagens, mas através de uma campanha negativa como nunca se tinha visto na política americana, Bush recuperou terreno e venceu as presidenciais. Dukakis era um “liberal” de Massachusetts, contra a pena de morte e que tinha aprovado um plano que permitia a assassinos sair em liberdade condicional. Um destes presos, Willie Horton, matou e violou numa destas saídas. Atwater engendrou um esquema para “massacrar” Dukakis por este crime, destruindo a campanha do democrata. Foi duro? Foi injusto? Certamente que foi, mas contribui decisivamente para a vitória de George Bush. Atwater foi elevado a chairman do Republican National Committee e já estava a preparar-se para a campanha de 1992. E em 1989/90 já tinha percebido de onde viria o perigo quando mais ninguém o reconhecia ainda: o jovem governador do Arkansas, Bill Clinton. Mas em 1990 foi-lhe diagnosticado um tumor no cérebro, que o afastou da política activa e depois da vida terrestre.
Neste excelente documentário, podemos acompanhar a vida de um dos mais talentosos e implacáveis consultores políticos que os Estados Unidos tiveram. Não posso deixar de simpatizar por este operacional da comunicação política, que, apesar dos seus métodos brutais, marcou uma era. Era também muito pouco convencional. Exímio tocador de blues (chegou mesmo a gravar um disco com B.B. King), era um fanático das tácticas e guerrilha eleitoral e não deixava ninguém indiferente. Génio político, era temido e odiado pelos adversários, respeitado e admirado pelos amigos. No fim da vida, teceu várias declarações recriminatórias sobre o seu passado, pedindo desculpa a vários adversários cujas carreiras políticas ajudou a destruir.
Numa das cenas mais envolventes deste documentário, vemos um guitarrista em cima do palco, na noite de tomada de posse de George H. Bush, bajulado pelo Presidente e pela sua família, como se de um rock star se tratasse. Live Fast Die Young poderia ter sido o lema da vida de Lee Atwater. Foi um homem bom? Um homem mau? Não sei responder. Mas aconselho a todos os que gostam de comunicação política a verem este “The Boogie Man, the Lee Atwater Story”.