Barack Obama discursou ontem ao país sobre a intervenção na Líbia, e como não poderia deixar de ser, recolheu opiniões divergentes. Num bom discurso (a minha opinião), Obama tentou responder às críticas que tem recebido, clarificando a posição dos Estados Unidos. No entanto, este já não o Obama da campanha eleitoral, quando em 2007 criticava os ataques militares ordenados pelo Presidente sem a autorização do Congresso. Nessa altura, Obama disse mesmo que a opção militar deveria ser apenas um recurso quando o país estivesse sob iminente perigo. O que não é o caso da Líbia. Mas este é o novo Obama.
O que está em causa nesta missão? Obama defendeu que os Estados Unidos viram-se obrigados a intervir para impedir um desastre humanitário, salvando milhares de pessoas da morte certa. Mais, apesar de Obama não dizer que era esse o objectivo, o ditador Kadhafi deve sair do poder. Num discurso que, por vezes, lembrou os discursos da agenda da liberdade do Presidente George W. Bush, invocou, ainda que directamente, o excepcionalismo americano e o seu papel no mundo. Finalmente assumindo a liderança americana na Líbia, Obama reafirmou que não haverá soldados no terreno e que, a partir de agora, a situação será conduzida pela NATO. Mas também novas dúvidas surgiram deste discurso: o aviso a outros ditadores da região, que os Estados Unidos não tolerarão massacres a civis, foi bastante ambíguo. Será que se o ditador sírio ou o regime de Teerão continuarem a reprimir o seu povo, haverá novas intervenções? Não me parece, mas quem levar as suas palavras à letra, poderá ter ficado com essa impressão.
Obama é um excelente orador, e ontem, mais uma vez, foi eficaz. Mas não é isso que está em causa. Esta intervenção será avaliada pelo que suceder no futuro. As dúvidas permanecem muitas, e caso Khadafi se mantenha no poder, como sucedeu no Iraque em 1991, Obama será atacado por isso durante a campanha eleitoral. E se Khadafi realmente sair, mas houver uma situação caótica no terreno no dia seguinte, Obama também será responsabilizado por isso. A principal dificuldade de Obama será mesmo essa: o que vai acontecer no futuro da região? Obama foi apanhado de surpresa por esta onda de revoluções no Médio Oriente e Magrebe, e ao intervir directamente na Líbia, país que tinha um longo passado conflituoso com os Estados Unidos, aumentou as expectativas sobre o papel desempenhado pela Administração nesta região. Em 2012, a campanha eleitoral também passará pelo mundo árabe.